Depois de muita especulação — e de uma longa novela envolvendo direitos, sucessões e rumores com nomes como Christopher Nolan — está confirmado: Denis Villeneuve vai dirigir o próximo filme de James Bond. A escolha não apenas sacode as estruturas da franquia como também levanta questionamentos sobre o futuro de Duna, já que o diretor está envolvido com a continuação da saga interplanetária.
Villeneuve é hoje um dos cineastas mais respeitados da indústria. Canadense, nascido em Quebec, ele começou a carreira no cinema francófono com filmes como Polytechnique e Incêndios, que já demonstravam sua habilidade para lidar com dilemas morais e atmosferas tensas. Mas foi ao migrar para o cinema em inglês que ele realmente se consolidou — primeiro com thrillers como Prisoneiros e Sicario, depois com uma guinada monumental para a ficção científica em A Chegada, Blade Runner 2049 e, claro, Duna. Sua marca está em cada quadro: planos longos, silêncio, minimalismo visual, um certo existencialismo elegante. É um cinema de imersão e de peso.

A conexão com Bond, no entanto, vem de longe. Ele já tinha sido cogitado para dirigir 007 – Sem Tempo para Morrer (na época Bond 25), mas recusou para se dedicar a Duna. E esse dilema entre as duas franquias retorna agora. O que muda é que, desta vez, a Amazon entrou no jogo. Após adquirir a MGM e assumir o controle criativo da marca Bond, a empresa decidiu apostar em Villeneuve como símbolo de renovação — o oposto do que vinha sendo feito até então. Foi o fim de uma era dos Broccoli e o início de um projeto mais ambicioso, autoral e potencialmente serializado, ainda que mantenha o prestígio do “evento cinematográfico”.
É claro que isso levanta uma questão prática: Duna – Messias, o terceiro capítulo da saga de Paul Atreides, está previsto para 2026, e Villeneuve já declarou que só dirige algo se tiver controle total. Ou seja, é pouco provável que ele se divida entre Duna e Bond simultaneamente, o que pode atrasar os planos para Arrakis. Por outro lado, ele já mostrou ser capaz de filmar com eficiência mesmo sob pressão — e o sucesso de Duna: Parte Dois lhe deu carta branca em Hollywood. O que vier agora será do jeito dele.

Para Bond, a escolha de Villeneuve representa uma mudança de paradigma. Sai o 007 caricato, acelerado e explosivo; entra um agente mais denso, talvez até mais melancólico, com vilões de verdade e dilemas éticos que ecoam o melhor de Blade Runner e Sicario. Pode ser um novo “recomeço” — algo mais cerebral, visualmente sofisticado e narrativamente ambicioso. E, para o público que cresceu com Skyfall e Spectre, a promessa de algo à altura do legado, mas com uma alma nova.
Em resumo: Villeneuve é o tipo de diretor que pode fazer tanto Duna quanto Bond parecerem épicos, relevantes e estranhamente íntimos. A aposta é arriscada, mas o potencial para redefinir não uma, mas duas franquias gigantescas — ao mesmo tempo — é imenso.
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