Tenho como álibi o fato de que chamei Bertha de antagonista há quase dois anos, porque no episódio de hoje é impossível não ressentir sua figura. Em entrevistas, Carrie Coon sempre defendeu sua personagem com habilidade, apontando que Bertha apenas joga com as regras e possibilidades que o período oferecia — o que é absolutamente verdadeiro. Mas ela o faz com um prazer tão cortante que nos faz tremer de raiva!

Vamos ao recap do episódio 2 da 3ª temporada, que já começou com o pé no acelerador!

A trama retoma na manhã seguinte à briga entre Gladys e Bertha, com a casa em alvoroço pela ausência da jovem. Teria sido “melhor” se ela tivesse, de fato, fugido e se casado — mas Billy Carlton é um rapaz íntegro… e fraco. Sua mãe, temendo mais escândalos do que os próprios Russells, toma as rédeas para que tudo ocorra da maneira mais próxima do “correto”, e ainda tenta, mais uma vez, apelar a Bertha em favor do filho. Bertha, porém, está cada vez mais altiva e implacável: Gladys vai se casar com um homem mais rico e mais poderoso do que Billy. Se insistirem, ela será deserdada — e ele também passará a enfrentar dificuldades para se manter, como Bertha alerta à Sra. Porter.

No olho do furacão, George retorna à casa para tentar por ordem na situação. E aqui é quando nossa irritação com Bertha vira revolta. Ela mente descaradamente ao marido, enquanto manipula verdades com lógica fria: a imaturidade de Gladys é real, e a proposta de vê-la como Duquesa não é desprezível. Afinal, casamentos são negócios — e o do Duque vem com título, mesmo que não tenha fortuna. Por ora, George tenta acalmar os ânimos: pede que Gladys reconsidere e se mostra aberto a conversar com Billy. O problema é que Bertha MENTE — ela já fechou o acordo com o Duque de Buckingham, e George não sabe. O sinal é que quando vem para visitar os Russells, ele traz um advogado à tiracolo.

Ambos, George e Bertha não são mocinhos típicos desse tipo de história. Mas há uma diferença fundamental que pode estremecer a relação dos dois. Na 1ª temporada, quando Enid Turner tentou seduzi-lo, George omitiu o episódio para não magoar Bertha — e ainda assim ela viu isso como traição. A diferença agora está na sinceridade: George não mentiu, mas Bertha sim.

A raiva se intensifica quando vemos que ela está certa. Sob pressão, Billy recua (com alívio da mãe — que, vale lembrar, foi a verdadeira heroína ao apoiar o filho, mesmo sem concordar com a escolha). O caminho está livre para Hector, o Duque, mas Gladys está devastada.

E um alerta já se acende para Larry. Após ser manipulado por Bertha na temporada anterior — quando ela o afastou da viúva Susan Baines —, ele agora está completamente apaixonado por Marian, sem nem disfarçar. É fofo, todos notam (menos Bertha, aparentemente). Ele deveria prestar atenção ao fato de que sua mãe sempre se refere, no plural, ao plano de ver seus filhos casados “com os mais altos da sociedade” — e Marian está longe disso. O foco no momento é Gladys, mas Larry claramente também faz parte dos cálculos da mãe.

Aqui se revela o verdadeiro conflito da temporada: o casamento como armadilha, como segurança e como único destino das mulheres em The Gilded Age. Vemos Gladys sofrer por isso, e quando George lembra à esposa que prometeu à filha que ela poderia se casar por amor, Bertha rapidamente desmonta o argumento: isso é inviável. Casar, para uma mulher, é irreversível. Basta ver Aurora Fane — que fez tudo certo, casou-se por amor, com o homem “adequado”, e agora é humilhada por Charles, que desfila com a amante por aí para forçá-la a pedir o divórcio. Até mesmo nas festas promovidas por ela, na casa deles.

Aurora está prestes a ser socialmente exilada, apesar de tudo. Bertha, como Agnes já advertira Marian na estreia da série, quer que sua filha faça um casamento prático, seguro — e se sinta feliz por estar protegida (talvez o que Aurora pensou também). Diante desse cenário, nenhum marido é melhor que o Duque de Buckingham.

Na festa na casa dos Fane, vemos ainda a Sra. Astor inquieta com a filha mais velha, Charlotte, que viveu um grande escândalo em Nova York e acabou se divorciando. Ainda não foi detalhado na série, mas Charlotte se casou com J. Coleman Drayton, e o relacionamento ruiu publicamente quando ela preferiu passar mais tempo na Inglaterra com outro milionário americano, Hallett Alsop Borrowe. O ex-marido, enraivecido, chegou a desafiar o rival para um duelo em Paris — ambos sobreviveram. Charlotte chegou a ser deserdada, mas recebeu apoio dos irmãos até se divorciar e se casar novamente, com George Ogilvy Haig, irmão do conde Haig, com quem ficou até sua morte. Por ora, a Sra. Astor virou as costas para Aurora Fane — mas em breve terá que lidar com suas próprias controvérsias.

Enquanto isso, Larry e Marian estão completamente apaixonados, mas ela confessa a Ada que está sendo cautelosa. Já errou antes, e vendo o destino de Aurora, teme repetir o erro.

A parte de Peggy foi a mais emocionante. Ela é atendida pelo charmoso Dr. Kirkland e aceita seu conselho de ir a Newport para se recuperar da forte gripe. Seus pais são acolhidos com carinho por Agnes e Ada, e o diálogo franco entre eles expõe o racismo e também a ingenuidade das irmãs ao se dizerem “acima” do preconceito estrutural.

Ada, mesmo doce, começa a se revelar problemática. Com o poder que passou a exercer, tem interferido na vida de todos ao redor — impondo regras como a proibição de bebidas, por exemplo. Marian confessa a ela seu amor por Larry e seus receios, mas deixa claro que não seguirá os conselhos da tia, nem aderirá ao movimento da Temperança, o que decepciona Ada. Pelo menos, Oscar consegue reinserir seu ex-namorado no circuito social e ajudá-lo a voltar ao mercado de trabalho — era hora de Oscar voltar a sorrir!

A terceira temporada de The Gilded Age está realmente espetacular, com dramas mais reais e intensos. No trailer do próximo episódio, veremos Newport entrando em cena e George começando a descobrir as manobras de Bertha — não necessariamente para ajudar Gladys, mas porque ele e a esposa estão, de fato, em rota de colisão. E agora?