Figurinos de The Gilded Age: Moda e Código Social

Discutir os figurinos inspirados em roupas históricas de The Gilded Age é um hobby à parte. Mas tudo era cheio de regras e não bastava eleger um vestido “qualquer”. Na época do Gilded Age, a roupa não era só uma questão de estilo — ela era um código social, quase uma linguagem própria. Para uma mulher da elite novaiorquina ou europeia do final do século 19, o dia era literalmente dividido por vestidos. Isso mesmo: você tinha uma roupa para a manhã, outra para a tarde, uma terceira para o jantar e ainda mais uma para os eventos noturnos. E todas seguiam regras rígidas de etiqueta, materiais, cortes e até do que era ou não permitido mostrar.

O morning dress, por exemplo, era usado dentro de casa nas primeiras horas do dia. Era recatado, fechado até o pescoço, com mangas compridas e tecidos leves como algodão. Sem decote, sem brilho. Ideal para ler cartas, costurar ou tomar café da manhã longe dos olhos da sociedade — mas ainda assim, com compostura.

Já o afternoon dress entrava em cena quando o relógio batia ali pelas 13h ou 14h. Era mais elaborado, com tecidos como tafetá ou seda leve, e cores um pouco mais vivas, mas ainda modestas. Ele era o traje para receber visitas ou sair para o chá da tarde, e ainda seguia as linhas da decência vitoriana — sem decotes, mas com mais adornos e um toque de vaidade permitido.

O jantar era um evento em si, mesmo dentro de casa. O dinner dress era mais formal que o da tarde, mas menos glamouroso que o da noite. Costumava ter decotes mais abertos, mangas curtas ou ¾, e tecidos nobres como veludo e cetim. Era a roupa que marcava a transição do ambiente doméstico para uma preparação social mais intensa. Mesmo que só se jantasse com a família, a formalidade era exigida.

E aí vem o auge: o evening dress, ou vestido de noite. Era o momento de brilhar — literalmente. Ombros à mostra, decote generoso, cintura marcada, caudas e tecidos luxuosos como organza, tule, seda, muito bordado, brilho e volume. Ideal para óperas, bailes, recepções ou qualquer evento em que o status social se revelava primeiro na roupa. As luvas eram longas, os penteados altos, e o leque — claro — fazia parte do jogo.

Fora esses, ainda havia os vestidos de passeio (walking dress), para circular na rua ou fazer visitas formais. Eram estruturados, com anquinhas e chapéus elaborados, feitos para impressionar. Havia também os vestidos de viagem, práticos e escuros, e os vestidos de montar, com jaquetas ajustadas e saias longas para cavalgar com elegância. E, dentro de casa, se a mulher estivesse sozinha ou entre familiares, podia usar o tea gown, um tipo de robe sofisticado, sem espartilho, que já apontava para a liberdade (discreta) que só viria muito tempo depois.

Essas múltiplas trocas de roupa ao longo do dia não eram só vaidade. Elas mostravam tempo, dinheiro e uma posição que permitia a uma mulher viver quase como uma peça de exposição — bela, composta, representando o prestígio da família. Trocar de roupa era, antes de tudo, provar que podia.

Um toque interessante é que, como todos os vestidos eram feitos à mão e exclusivos, não havia ninguém com um igual, mas igualmente era caríssimo ter um guarda roupa com muitas opções. Para Marian, por exemplo, uma impossibilidade superada com a ajuda das tias e até por isso a vemos repetindo vestidos em diferentes ocasiões.

Mais do que estética, os figurinos de The Gilded Age traduzem uma lógica social onde o corpo feminino era cuidadosamente moldado — não só por espartilhos e tecidos, mas por horários, funções e expectativas. Vestir-se era performar um papel. Cada camada de renda ou cetim carregava o peso de uma identidade imposta, de um lugar a ser ocupado (ou conquistado) no palco implacável da elite novaiorquina.

Ao revisitar essas regras por meio da ficção, a série não apenas encanta com seu visual impecável — ela escancara como, muitas vezes, o glamour era uma prisão disfarçada de elegância. E é nesse contraste entre beleza e rigidez, entre liberdade e aparência, que o guarda-roupa das personagens revela, silenciosamente, tudo o que elas jamais poderiam dizer em voz alta.


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