Star Wars é uma saga sobre revoluções, linhagens e redenções. Mas entre sabres de luz, guerras estelares e conspirações políticas, pulsa algo mais íntimo: o desejo. Em suas mais diversas formas — romântico, idealizado, proibido ou silencioso — o desejo atravessa as jornadas dos heróis e vilões da galáxia.
Entre os elementos mais complexos e instigantes dessa mitologia estão os triângulos amorosos. Alguns são clássicos e declarados; outros, sugeridos nas entrelinhas. Todos dizem algo profundo sobre os personagens e seus conflitos entre amor, dever e destino.

Este ensaio percorre quatro desses triângulos, começando com o menos tradicional — Bix Caleen, Cassian Andor e Jyn Erso — e seguindo por alguns dos mais emblemáticos: Leia, Luke e Han, Anakin, Padmé e Obi-Wan, e finalmente Rey, Finn e Ben Solo. Mais do que quem termina com quem, o que está em jogo são as escolhas impossíveis e as consequências dos afetos que cruzam tempos de guerra.
Bix, Cassian e Jyn: A mulher que ficou e a mulher que chegou
Na série Andor, Bix Caleen é a mulher que conhece Cassian desde sempre. Eles compartilham um passado de intimidade, sobrevivência e pequenas traições. É um laço de amor silencioso, tenso, carregado de subentendidos — típico de relações que não começaram agora, mas tampouco terminaram.
Jyn Erso, por sua vez, entra na vida de Cassian às vésperas do fim. Em Rogue One, eles se conhecem em um contexto de missão, desconfiança e perda. E ainda assim, é ali que algo raro acontece: confiança mútua, admiração súbita, uma entrega tão rápida quanto definitiva. Eles morrem juntos. E isso transforma tudo.

O que faz desse triângulo algo comovente é o fato de que ele não é competitivo — não se trata de escolher uma ou outra. É sobre o tempo. Bix representa o passado e a promessa não cumprida. Jyn, o futuro que jamais chegou. E Cassian, tragicamente, pertence aos dois mundos e a nenhum.
Na segunda temporada de Andor, quando Bix e Cassian finalmente se casam, sabemos — e ela talvez também saiba — que é um amor selado pelo luto antecipado. O fantasma de Jyn ainda não existe, mas paira. Um homem dividido entre duas mulheres e condenado a perder ambas.
Leia, Luke e Han: Entre a revelação e o afeto real
Este é o triângulo mais clássico — e mais desconstruído — da trilogia original. Luke se apaixona por Leia. Han também. E por um tempo, os três circulam entre rivalidades, provocações e beijos provocativos. O público escolhe lados. Os personagens também.
Mas Star Wars sempre foi sobre reviravoltas. E aqui, ela é literal: Luke e Leia são irmãos. A rivalidade romântica se dissolve no sangue compartilhado. E o que poderia ser um clichê — a princesa entre dois homens — vira algo mais interessante: um amor fraterno entre Luke e Leia, e um amor carnal e conflituoso entre Leia e Han.

Ao final, o triângulo vira par. Mas não sem deixar marcas. A convivência com o não-dito, a superação do ciúme, a aceitação do papel que se tem — tudo isso faz desse arco algo mais maduro do que aparenta.
Anakin, Padmé e Obi-Wan: O triângulo da culpa
O mais trágico dos triângulos amorosos de Star Wars é também o mais silencioso. Anakin ama Padmé. Ela o ama de volta, com reservas. Mas há alguém entre eles desde sempre: Obi-Wan. Não no sentido romântico declarado, mas como sombra. Como presença impossível de ignorar.
Em A Vingança dos Sith, a relação entre os três é um campo minado de tensões. Anakin desconfia de Padmé e Obi-Wan. Padmé pede ajuda a Obi-Wan para salvar Anakin. Obi-Wan hesita, não por indiferença, mas por dor. Há quem defenda que Obi-Wan amava Padmé — e que nunca pôde dizer. Há quem veja nele apenas o símbolo da renúncia. De todo modo, ele é o terceiro elemento desse amor que implode.

Quando Padmé morre, Anakin culpa Obi-Wan. Não só porque ele estava lá, mas porque ele sempre esteve. O ódio entre os dois, que culmina no embate em Mustafar, é alimentado também por esse afeto não resolvido. Um triângulo de ciúme, lealdade e perda. A paixão que destrói e a amizade que não consegue salvar.
Rey, Finn e Ben Solo: Um triângulo inacabado
A trilogia sequela tentou, sem muito sucesso, articular um triângulo amoroso entre Rey, Finn e Ben Solo. E embora falte consistência narrativa, o material emocional está todo ali.
Finn é o primeiro a se conectar com Rey. Ele a vê, a salva, a segue. Há ali o potencial de um amor que nasce da admiração e da amizade. Mas essa relação nunca floresce. Em The Rise of Skywalker, ele tenta confessar algo a Rey — e o filme nunca mostra o que é. A tensão entre os dois vira silêncio.

Enquanto isso, Ben Solo, sob a máscara de Kylo Ren, desenvolve com Rey um elo místico — a tal “diáde na Força”. Eles se veem mesmo à distância. Sentem um ao outro. Lutam e dançam em duelos que são, também, coreografias de desejo. O beijo final entre os dois em A Ascensão Skywalker não resolve o triângulo, apenas o encerra abruptamente. Ben morre. Rey fica sozinha. E Finn? Desaparece da equação.
É um triângulo de ausências e lacunas. A força que une Rey e Ben é sobrenatural, mas o que une Rey e Finn é humano — e, talvez por isso, tenha sido ignorado pela trama. No fim, ninguém termina com ninguém. O amor permanece latente, suspenso no espaço entre as estrelas.
Amor, guerra e silêncio
Cada triângulo amoroso em Star Wars serve a algo maior. Não se trata apenas de romance — mas de culpa, de lealdade, de idealismo e perda. Em uma galáxia em guerra, amar é um risco. É por isso que tantos desses triângulos terminam em silêncio, sacrifício ou tragédia.


Talvez seja essa a assinatura afetiva de Star Wars: não a realização do amor, mas sua impossibilidade. Seus heróis amam — mas no limite da destruição. Suas heroínas esperam, resistem, ou morrem. E o que sobrevive é o gesto interrompido. A mão estendida que não se segura. O beijo antes do fim.
No fundo, Star Wars nunca foi sobre casais. Foi sobre destinos cruzados — e as escolhas que nos salvam, mesmo quando nos partem.
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