A Soubrette Row em The Gilded Age: Revelações e Escândalos

Se não quer “nenhum” spoiler pode parar de ler aqui. Ou… pule o segundo parágrafo.

Na 3ª temporada de The Gilded Age, um novo ambiente promete movimentar as tramas sociais e sexuais da série em um local que carrega o peso histórico dos espaços onde a elite masculina buscava prazer sob o véu da respeitabilidade. Se o cenário for mesmo inspirado na famosa Soubrette Row, isso marcará o início de uma exploração mais direta da prostituição de luxo, do teatro como vitrine erótica e dos códigos de conduta masculinos da Gilded Age.

Não sabemos ainda se é o caso de Larry, mas muitos homens ricos da época, busca experiências que escapem da rigidez social que regia os bailes da Fifth Avenue, sob o sigilo tácito de frequentadores ou esposas que fingiam não saber em “clubes de senhores”. E nosso querido herói irá a um desses locais, acompanhado por Jack Trotter. Lá, esbarra com Maud Beaton — o que ajuda à Oscar, mas também sinaliza que a série pode adentrar territórios mais sombrios, mas historicamente reais, onde muitas mulheres da época viviam entre o palco e a cama, entre o glamour e a marginalidade.

Maud Beaton, se estiver nesse tipo de espaço, não é apenas uma “figura do passado” — ela se torna representação viva das mulheres que sobreviviam à custa da própria imagem, charme e ambiguidade sexual. Isso reabre a pergunta incômoda: o que tornava uma mulher “respeitável” e outra “decadente”? E quem decidia isso?

Esse reencontro pode ser também um espelho para Jack, que tenta navegar o mundo da elite como homem de origens modestas. A exposição ao submundo dourado de Nova York pode colocá-lo frente a frente com os limites da sua própria ascensão — e dos favores que ela exige.

Se The Gilded Age realmente mergulhar nesse cenário, será a primeira vez que a série confronta diretamente a dupla moral da sociedade vitoriana americana, onde homens podiam desejar e explorar, mas mulheres pagavam o preço da liberdade com reputações, futuros e corpos. Mas, como sempre, o mais importante é descobrir um lado histórico de Nova York.

Bordéis, Soubrette Row e o Lado Oculto da Gilded Age — Agora em The Gilded Age

Na superfície, a Gilded Age — o período que vai aproximadamente de 1870 a 1900 nos Estados Unidos — era uma era de glamour, riqueza e ostentação. Mas, sob o verniz dourado (daí o nome), havia muita desigualdade social, exploração e contradições morais. Uma dessas contradições era a relação ambígua e tolerante da sociedade com a prostituição, especialmente nas grandes cidades como Nova York.

A prostituição não apenas existia — ela era endêmica, sofisticada e, muitas vezes, disfarçada de entretenimento artístico. Ao mesmo tempo em que a moral vitoriana dominava o discurso público e a elite condenava publicamente os “vícios urbanos”, os mesmos homens respeitáveis frequentavam os bordéis mais luxuosos da cidade, patrocinavam artistas de teatro e mantinham amantes em apartamentos pagos com dinheiro de ferrovias, bancos e aço.

Bordéis de Luxo: Entre o Veludo e a Hipocrisia

Diferente da imagem marginal da prostituição comum, os bordéis de luxo da Gilded Age eram verdadeiros palácios. Casarões decorados com tapeçarias, pianistas ao vivo, vinhos importados e prostitutas vestidas com joias e vestidos franceses. Esses espaços, comandados por madames respeitadas nos bastidores, recebiam banqueiros, políticos e herdeiros em busca de “refinamento” e prazer. A prostituição era tecnicamente ilegal, mas a fiscalização era seletiva e a polícia quase sempre comprada.

Era um mundo paralelo onde as mulheres eram julgadas em público, mas desejadas em privado. E onde a linha entre atriz, amante e cortesã era cuidadosamente borrada.

A Soubrette Row: Onde o Teatro Encontra o Bordel

Dentro desse universo surgiu a famosa Soubrette Row, uma área nebulosa entre teatro, vaudeville e prostituição. O nome vem da personagem típica das operetas — a criada espirituosa e sensual — mas logo passou a designar as próprias mulheres que ocupavam esse papel no palco e, fora dele, nas camas de homens ricos.

Localizada principalmente ao redor da Broadway, entre as ruas 23 e 42, a Soubrette Row virou o epicentro de um mercado informal de “prostituição artística”. As coristas e dançarinas que ali trabalhavam não eram formalmente prostitutas, mas frequentemente mantinham relações íntimas com milionários que lhes pagavam roupas, joias e apartamentos. O teatro era uma vitrine. O verdadeiro palco era a cidade.

Algumas dessas mulheres alcançaram status quase mítico, como Lillian Russell, que soube navegar entre o estrelato, a admiração pública e relações com figuras como Diamond Jim Brady — o protótipo do magnata que via no entretenimento feminino uma extensão de sua coleção de prazeres.

Escândalos, Silêncios e Verdades Incômodas

A sociedade da Gilded Age convivia com esses arranjos como quem convive com rachaduras numa parede de mármore: fingia não ver, mas sabia que estavam ali. Alguns casos saíam da sombra — como o escândalo do arquiteto Stanford White, assassinado por ciúmes por causa de Evelyn Nesbit, uma ex-corista envolvida nesse circuito.

Mas, na maior parte do tempo, tudo era abafado. O teatro “leve” era ao mesmo tempo vitrine de arte e fachada de relações de poder. Mulheres bonitas e carismáticas viravam troféus discretos, quando não descartáveis.

E agora The Gilded Age abre a porta desse mundo

Nesse contexto, Na 3ª temporada de The Gilded Age, uma nova camada desse universo começa a emergir. Sabemos que Larry Russell, herdeiro e arquiteto tentando se firmar por mérito próprio, levará Jack Trotter, jovem ambicioso e ainda vulnerável socialmente, a um local de entretenimento onde ambos reencontrarão Maud Beaton. O reencontro não será só casual — ele revelará a ambiguidade do espaço onde estão.

Não foi à toa que Maud reaparece nesse contexto. Se ela estiver ligada ao lugar — seja como artista, acompanhante, ou algo mais indefinido — a série estará entrando pela primeira vez de forma explícita no território da Soubrette Row televisiva: clubes privados, casas de chá com bailarinas, camarins que se tornam salões privados. Lugares onde o status de uma mulher depende da percepção dos homens que a observam. Onde liberdade e decadência são dois lados da mesma moeda.

Larry, ao levar Jack ali, não apenas o introduz a um novo mundo — mas também testa os limites da própria masculinidade e moralidade. Jack, por sua vez, é o espelho de todos os jovens que tentaram subir na vida convivendo com o cinismo dos mais ricos. E Maud Beaton, se estiver nesse ambiente, não é mais só uma figura do passado: ela é agora um símbolo da sobrevivência feminina em um sistema construído para devorá-las com elegância. Só que Marian ficará bem insegura quando descobrir…

A prostituição durante a Gilded Age era, paradoxalmente, visível e invisível, condenada e consumida, reprimida e glamurizada. A Soubrette Row simboliza essa dualidade — um espaço onde as mulheres vendiam beleza, presença, desejo e, muitas vezes, o próprio corpo, em troca de uma chance (remota) de segurança ou ascensão.

Agora, com The Gilded Age começando a revelar essa parte da história americana, o verniz dourado começa a rachar — e por entre as fissuras, surgem os rostos sorridentes, cínicos ou trágicos das mulheres que sempre estiveram ali, esperando que alguém as olhasse de verdade.


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