Deixei de falar da série Stick a cada semana pela simples razão de que não havia nada de surpreendente ou interessante para comentar. A temporada estreou e terminou com seus 10 episódios, e a notícia da renovação para uma segunda temporada me surpreendeu quase tanto quanto a existência da própria série. A impressão é de que Stick não sabia exatamente o que queria ser — comédia de redenção, crítica ao elitismo esportivo ou estudo de personagem. Tentou ser tudo isso, mas entregou pouco em cada frente.
A comparação com Ted Lasso surgiu de imediato: ambas usam o universo esportivo como pano de fundo para abordar temas mais amplos — crescimento pessoal, fracasso, amizade e segundas chances. Mas, ao contrário da série estrelada por Jason Sudeikis, Stick não entrega a mesma coesão emocional nem a evolução narrativa esperada. O problema está na falta de direção — e não apenas no campo de golfe.


Uma trama que gira em círculos (ou no green)
A série acompanha o ex-jogador de golfe profissional Toby “Stick” Sutherland (Owen Wilson), uma lenda caída em desgraça, que é forçado a treinar um jovem talento promissor após anos afastado dos holofotes. A ideia de redenção, tão comum nas narrativas esportivas, aqui não ganha densidade. Muito disso se deve ao roteiro, que prefere insistir em piadas meio murchas e situações repetitivas, sem apostar de fato no conflito interno do protagonista ou em grandes viradas dramáticas.
Ainda assim, a série encontra algum respiro nos momentos de interação entre Stick e seu pupilo, interpretado por Peter Dager, uma grata surpresa no elenco. Dager, ainda em início de carreira, traz carisma e naturalidade ao papel de um jovem golfista que precisa tanto de técnica quanto de direção emocional. É nele que, por vezes, a série quase encontra o coração que tanto falta ao seu protagonista.

O apelo (americano) do golfe
É curioso notar que, enquanto esportes como futebol, beisebol e até basquete têm presença universal em narrativas cinematográficas e televisivas, o golfe permanece um território quase exclusivo da cultura americana — especialmente no que diz respeito a representações que misturam tradição, competição e superação. Filmes como The Legend of Bagger Vance, Tin Cup ou The Greatest Game Ever Played mostram o golfe como metáfora da disciplina, da paciência e, muitas vezes, da masculinidade em crise.
Em Stick, esse universo é retratado com certa reverência, mas também com ironia. Os clubes exclusivos, os jogadores vaidosos e as regras quase esotéricas do esporte são parte do pano de fundo — e a série até acerta ao zombar discretamente da sisudez do ambiente. Para o público internacional, no entanto, esse charme do golfe talvez não tenha o mesmo apelo, o que limita a potência da série fora dos EUA.
Owen Wilson em modo automático?
Owen Wilson é carismático, como sempre. Seu Stick tem momentos divertidos, frases soltas que soam improvisadas, e um certo ar melancólico que casa com a ideia do atleta decadente que ainda se apega à glória do passado. Mas Wilson parece interpretar uma versão levemente bêbada de si mesmo, e o roteiro não lhe dá muito com o que trabalhar. Fica a sensação de que o ator está ali mais por simpatia ao projeto do que por real envolvimento criativo.
E agora?
A renovação da série indica que Stick terá a chance de se reinventar — ou pelo menos avançar em sua história. A dinâmica entre o veterano e o novato pode crescer, assim como o conflito com figuras do passado de Stick, ainda pouco exploradas. O final da temporada sugere (ainda que timidamente) uma possível revanche no circuito profissional, ou mesmo uma tentativa de reinvenção pessoal fora do golfe.
Há espaço para isso? Sim. Há urgência? Ainda não. Mas se a série conseguir alinhar melhor humor, emoção e narrativa, talvez a segunda temporada consiga entregar o que a primeira apenas ensaiou: uma história sobre fracassos que merecem uma segunda chance.
Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
