Michael, a cinebiografia de Michael Jackson é adiada e lida com problemas

A notícia do adiamento do lançamento de Michael, a cinebiografia oficial e musical de Michael Jackson dirigida por Antoine Fuqua não me surpreende. Era uma das apostas mais esperadas para a temporada de premiações de 2025, com orçamento milionário, apoio da família Jackson e protagonizado por Jaafar Jackson — sobrinho do astro —, o longa parecia pronto para seguir os passos de sucessos como Bohemian Rhapsody e Elvis. Mas, entre cortes extensos, controvérsias e um lançamento adiado para abril de 2026, o que era para ser um tributo à vida do “Rei do Pop” agora se vê no centro de um turbilhão hollywoodiano. E isso me surpreende ainda menos.

Do Oscar 2025 para lugar nenhum — por enquanto

A Lionsgate, distribuidora do filme nos Estados Unidos, confirmou recentemente que Michael não chegará mais aos cinemas em outubro de 2025, como anteriormente previsto. A nova data de estreia é 24 de abril de 2026, fora da janela de elegibilidade para o Oscar do próximo ano. A mudança já era especulada desde abril, quando a Lionsgate omitiu qualquer menção ao projeto em sua apresentação anual na CinemaCon — evento em que, no ano anterior, havia revelado as primeiras imagens do longa.

Inicialmente, circulavam rumores de que o filme, com quase quatro horas de duração, seria dividido em duas partes. Essa ideia foi abandonada: Fuqua agora trabalha para condensar o material em um único filme de duração mais viável para os cinemas.

Polêmicas nos bastidores

Desde o início, Michael chamou atenção não apenas por sua escala épica, mas também por seu envolvimento com temas controversos. Em janeiro de 2025, o site Puck revelou que a produção enfrentou refilmagens extensas, iniciadas em março, motivadas por um acordo confidencial entre o espólio de Michael Jackson e um acusador menor de idade. A fonte afirmou que o longa não pretende ignorar as acusações de abuso sexual feitas contra Jackson nos anos 1990 e 2000.

Essa decisão criativa dividiu opiniões: enquanto alguns elogiaram a escolha de não “varrer nada para debaixo do tapete”, outros questionaram como essas questões sensíveis serão retratadas em um filme com apoio direto da família Jackson e potencial apelo comercial.

As refilmagens fizeram o orçamento explodir para mais de 150 milhões de dólares, e os atrasos se tornaram inevitáveis. A Lionsgate ainda mantém o controle da distribuição nos EUA, enquanto a Universal Pictures cuidará do lançamento internacional e a Kino Films será responsável pelo Japão.

Um elenco com pedigree

A escolha de Jaafar Jackson como protagonista foi celebrada pelos fãs: filho de Jermaine Jackson, ele já vinha sendo treinado desde 2022 para o papel. A semelhança física impressionante e o DNA musical o colocam como uma aposta natural para encarnar o astro desde os tempos do Jackson 5 até sua morte em 2009.

O elenco conta ainda com Colman Domingo como Joe Jackson (o pai controlador e controverso do cantor), Nia Long como Katherine Jackson (a matriarca da família), e participações de Miles Teller, Kat Graham, Larenz Tate, Laura Harrier e Derek Luke. O roteiro é assinado por John Logan, três vezes indicado ao Oscar, conhecido por seu trabalho em Gladiador e O Aviador. A produção está nas mãos de Graham King, vencedor do Oscar por Os Infiltrados e responsável por outro megahit musical: Bohemian Rhapsody.

O desafio de contar uma história complexa

Retratar Michael Jackson no cinema é, por si só, uma missão hercúlea. O filme pretende cobrir toda a trajetória do artista — da infância em Gary, Indiana, ao estrelato precoce com os Jackson 5; da consagração com álbuns como Thriller e Bad; às polêmicas, reclusão e morte precoce em 2009.

Por isso, a duração original de quatro horas fazia sentido narrativamente — embora seja inviável comercialmente. Agora, com a decisão de transformar tudo em um filme só, Fuqua e Logan têm o difícil desafio de preservar a complexidade da jornada de Jackson sem sacrificar ritmo ou profundidade.

Além disso, o filme promete não ser apenas uma biografia convencional: espera-se que inclua performances musicais icônicas, reencenações de turnês e clipes, e até momentos mais subjetivos da psique do artista.

Um teste para Hollywood

O adiamento de Michael lança luz sobre um dilema mais amplo em Hollywood: como retratar figuras públicas controversas em tempos de hipersensibilidade cultural? A cinebiografia de Michael Jackson chega num momento em que o debate sobre responsabilidade artística, reavaliação histórica e cultura do cancelamento está mais acalorado do que nunca.

Ao decidir não apagar as controvérsias, Michael se afasta de obras como Bohemian Rhapsody, que foi criticada por suavizar aspectos sombrios da vida de Freddie Mercury. Mas também se arrisca a ser rejeitado tanto por fãs fervorosos quanto por críticos mais exigentes.

E agora?

Com estreia marcada para abril de 2026, Michael tem quase um ano para redefinir expectativas, finalizar a montagem e iniciar sua campanha de divulgação. Ainda é cedo para dizer se será um sucesso de bilheteria, um fenômeno cultural ou um desastre artístico. Mas uma coisa é certa: o mundo vai assistir — com atenção redobrada.


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