Taylor Swift e a Ruptura: Reflexões Sobre Carrie, Aidan e Big

Taylor Swift escreveu How Did It End? como um tipo de autópsia emocional, uma tentativa de compreender o fim de algo que parecia sólido demais para simplesmente desmoronar. Ela e Joe Alwyn viveram seis anos juntos em uma bolha de privacidade, construíram uma relação longe do caos do mundo exterior, mas, quando a vida real voltou a acontecer, a estrutura começou a ceder. A música não grita, não culpa diretamente, mas questiona — quase em silêncio — como tudo se perdeu. É isso que a torna tão devastadora: o colapso que vem sem estardalhaço, como se o amor tivesse morrido em silêncio, com a alma saindo aos poucos, sem ninguém perceber. Taylor tenta entender, mas a pergunta insiste: “How did it end?” Ela repete, com dor e perplexidade, como quem revive um sonho que se dissolveu.

Esse tipo de ruptura — discreta, confusa, sem grandes dramas explícitos — parece ecoar com precisão o que Carrie Bradshaw viveu com Aidan Shaw, não só em And Just Like That…, mas desde os tempos de Sex and the City. A sensação de que os dois estavam fadados ao fracasso sempre esteve presente, mesmo nos momentos de aparente felicidade. Eles tentaram de verdade, mais de uma vez. Mas toda tentativa deles já vinha contaminada pela memória da falha anterior. Como na música de Taylor, parece que desde o recomeço já se anunciava o fim.

A letra de Taylor combina perfeitamente com o fim definitivo entre os dois. Quando canta da Incompatibilidade essencial (“He was a hothouse flower to my outdoorsman). Aidan sempre representou o oposto do universo de Carrie: rústico, pacato, avesso ao caos urbano. Ele queria casa no campo, ela queria festas em Manhattan. Isso nunca mudou, mesmo anos depois, quando se reencontram em And Just Like That…. Como Taylor e Joe, eles construíram uma bolha onde tentaram existir juntos — e falharam.

A música de Taylor começa com “It’s happening again” — um retorno de algo doloroso que já conhecemos. Isso ecoa com força em And Just Like That.

Aidan sempre foi o “homem certo” no papel, o oposto perfeito do caos emocional que era Big. Ele era carinhoso, estável, queria família, casa com varanda. Mas Carrie nunca coube nessa narrativa. Mesmo quando dizia querer o que Aidan queria, havia algo deslocado nela — como se estivesse performando uma ideia de maturidade que não combinava com a sua essência. A incompatibilidade estava ali desde o começo. Eles tentavam dançar juntos, mas aprendiam passos de ritmos diferentes. E isso, como Taylor canta, não tem como durar.

É inevitável, então, pensar no contraste com Mr. Big. John Preston sempre foi um homem que valorizava o que era clássico — não só nos gostos, mas na forma de amar. Discos de vinil em vez de CDs, charutos cubanos, noites ao som de big bands e shows de jazz. Música era importante para ele. Muito importante. E ao longo dos anos, a trilha sonora de Big e Carrie acabou se tornando parte do que definia os altos e baixos da relação deles.

Descobrimos na 1ª temporada de And Just Like That…, que Carrie e Big haviam instituído o hábito do “disco do dia”, seguindo ordem alfabética. No episódio que marca sua despedida, estão na letra R. “Ontem foi Rondstadt, hoje é…?”, ele pergunta. “Todd Rundgren”, responde Carrie. “Meu favorito!”, ele exclama. “Todos são”, ela devolve — e a cumplicidade na resposta diz tudo. Ao som de Hello It’s Me, dançam juntos mais uma vez, como tantas outras vezes fizeram. Mas, dessa vez, há uma despedida silenciosa.

A cena remete diretamente àquele momento inesquecível da quarta temporada, episódio 18 — “I Heart New York” — quando Big está de partida para a Califórnia e Carrie, ao ajudá-lo a guardar os discos, encontra o LP de Moon River, de Henry Mancini. “Meu favorito”, ele diz, puxando Carrie para dançar. E mesmo que os passos deles — um twist improvisado — não combinem com a delicadeza da música, algo ali é perfeitamente simbólico. Dois drifters off to see the world, como diz a letra. Eles claramente se amavam, mas nunca estavam prontos, ao mesmo tempo, para esse amor. Moon River era A canção de Big e Carrie. Até ser substituída, discretamente, por Hello It’s Me.

Todd Rundgren compôs a música inspirada no fim de um relacionamento da juventude, e a letra carrega uma melancolia que se encaixa com precisão no momento final de Big. A canção fala sobre o amor que se foi, o arrependimento por tê-lo dado como certo, e a saudade que fica. “I take for granted that you’re always there” é especialmente difícil de ouvir depois do que acontece no fim do episódio. Mais tarde, no funeral, é essa a música que Carrie escolhe para acompanhar o vídeo com as memórias do marido. “Think of me / you know that I’d be with you if I could…” toca enquanto ela tenta seguir adiante com a vida, mas sem deixar Big para trás.

E esse é o ponto. Big foi o amor impossível que se tornou possível — e mesmo com todos os erros, se materializou. Aidan, por outro lado, foi o amor possível que nunca se concretizou. Carrie e Big tropeçaram até se alinhar. Carrie e Aidan pareciam alinhados, mas havia sempre algo invisível puxando em direções opostas. Com Big, Carrie dançava músicas que não combinavam com os passos — mas funcionava, porque havia emoção, desejo, memória. Com Aidan, a melodia era certa, mas os dois nunca pareciam ouvir o mesmo ritmo.

Quando Aidan e Carrie são obrigados a reconhecer que, parafraseando as palavras dela, “pensavam estar no presente, mas ligados no passado, ficaram sem futuro”. Não há tragédia explícita. Só a aceitação de que aquilo não vai funcionar. Como Taylor Swift na canção — sem entender exatamente quando tudo deixou de fazer sentido. A pergunta segue ecoando: How did it end?

Big teve uma canção de despedida. Aidan teve o silêncio. E às vezes, o silêncio dói mais.


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