King & Conqueror: A Guerra que Mudou a Inglaterra

Estamos em uma era em que as séries históricas voltaram a ocupar um espaço central na cultura pop — e poucas produções chegam com tanto peso e ambição quanto King & Conqueror, nova superprodução da BBC. Com James Norton como Harold de Wessex e Nikolaj Coster-Waldau como William da Normandia, a série mergulha profundamente no conflito que culminaria na Batalha de Hastings em 1066, mas vai muito além do campo de batalha: ela revela décadas de intrigas, alianças desfeitas e duas dinastias entrelaçadas por sangue, ambição e um mar revolto, travando uma guerra por um trono que, originalmente, nenhum dos dois protagonistas desejava.

A própria BBC provocou os espectadores com a promessa de uma trama intensa e inevitável: “Harold de Wessex e William da Normandia eram dois homens destinados a se encontrar na Batalha de Hastings em 1066; dois aliados sem qualquer pretensão ao trono britânico, que se viram enredados, por circunstância e obsessão pessoal, numa guerra pela posse da coroa.”

Com essa premissa arrebatadora, King & Conqueror amplia o escopo das narrativas históricas televisivas. Se você acompanhou Vikings e Vikings: Valhalla, a conexão é imediata e fascinante. William, o Conquistador, era descendente direto de Rollo, o viking fundador da Normandia, representado como irmão de Ragnar na série original. Ou seja, King & Conqueror funciona quase como um epílogo histórico dessas sagas: o que começou com incursões bárbaras termina com a fundação de uma nova Inglaterra.

Mas essa nova série não se contenta em apenas narrar fatos históricos: ela investe alto em produção e autenticidade. A BBC levou seu orçamento ao limite, filmando entre março e julho de 2024, em locações deslumbrantes da Islândia, incluindo Reykjavik e Heiðmörk, para capturar a paisagem crua e épica que reflete o mundo turbulento do século XI. O elenco, além dos protagonistas, inclui nomes como Eddie Marsan, Juliet Stevenson, Bo Bragason, Luther Ford e Ingvar Sigurdsson. Mais adiante, se juntaram ao projeto Elander Moore, Indy Lewis, Jason Forces, Ines Asserson, Sveinn Ólafur Gunnarsson e Léo Legrand, compondo um painel riquíssimo de personagens e perspectivas.

Curiosamente, King & Conqueror quase foi uma série completamente diferente. O ator James Norton – que está no elenco de House of the Dragon – inicialmente, queria interpretar William, o Conquistador. No entanto, devido a restrições contratuais com a HBO por seu trabalho em The Nevers, Norton só pôde aceitar um papel de personagem que morreria — e como todos sabemos, Harold encontra seu fim dramático em Hastings. Assim, ele assumiu o papel do rei anglo-saxão, enquanto Coster-Waldau, o eterno Jamie de Game of Thrones, herdou a armadura do Conquistador normando. Uma escolha que, agora, parece ter sido perfeita.

E quem foram esses dois homens?

Harold de Wessex era o homem mais poderoso da Inglaterra antes mesmo de ser coroado rei. Filho do influente conde Godwin, Harold era experiente, carismático e estrategista. Ao lado do rei Eduardo, o Confessor, praticamente governava o país. Quando Eduardo morreu sem herdeiros, Harold foi escolhido pelo conselho real (Witan) como rei da Inglaterra. Mas sua ascensão foi imediatamente contestada — especialmente por William da Normandia, que dizia ter sido prometido ao trono por Eduardo e, segundo ele, também por Harold, que teria jurado fidelidade anteriormente.

William, duque da Normandia, era filho ilegítimo de Roberto I, mas desde jovem demonstrou habilidade política e militar. Consolidou seu domínio e construiu alianças poderosas, incluindo o apoio do Papa para sua invasão da Inglaterra, transformando seu ataque numa missão quase sagrada. William era um herdeiro direto do viking Rollo — o que adiciona uma camada simbólica à sua conquista: ele não apenas perpetua a herança nórdica como a oficializa dentro da estrutura de poder europeia.

O ponto alto da série, sem dúvida, será a sequência de três batalhas que definem 1066. Primeiro, a invasão de Harald Hardrada da Noruega, que desembarca no norte da Inglaterra com o apoio do irmão de Harold, Tostig. Harold de Wessex vence os dois na Batalha de Stamford Bridge, mas à custa de exaustão. Duas semanas depois, ele tem de marchar para o sul, onde William acabara de chegar com seu exército normando.

Na Batalha de Hastings, em 14 de outubro de 1066, Harold lidera uma defesa feroz, utilizando a clássica formação de escudos saxônica. Mas William, com tropas treinadas e táticas de recuo falso, consegue desestabilizar a linha inglesa. Harold é morto — segundo a tradição, por uma flecha no olho — e com ele, morre a dinastia anglo-saxã. William é coroado rei no Natal daquele mesmo ano.

O impacto da conquista de William foi total. Ele reformulou a aristocracia, substituindo os nobres saxões por normandos leais. Encomendou o Domesday Book, o mais completo censo já feito até então. Estabeleceu castelos normandos em todo o país — incluindo a Torre de Londres — e moldou o idioma inglês com influências profundas do francês normando. William não foi apenas um conquistador militar; foi um arquiteto de uma nova Inglaterra.

A série também promete dar voz às mulheres que orbitavam esses homens. Edith Swan-neck, companheira de longa data de Harold, aparece como figura trágica, sendo chamada para reconhecer o corpo de Harold após Hastings — um momento que deve ser central na carga emocional da trama. Do lado normando, Matilda da Flandres, esposa de William, surge como uma verdadeira co-regente: culta, astuta, comanda a Normandia na ausência do marido e tem papel fundamental na legitimação de seu poder. É atribuída a ela a Tapeçaria de Bayeux, obra-prima medieval que narra toda a conquista sob o ponto de vista normando e que em 2025 está em exposição na Inglaterra depois de 900 anos na França.

King & Conqueror é, portanto, mais que um retrato de um conflito entre dois reis. É um retrato de dois mundos em colisão — o fim da Inglaterra anglo-saxã, retratada com humanidade e orgulho, e o nascimento de uma nova ordem normanda, forjada pelo pragmatismo, pela fé e pela força. É também uma narrativa sobre destino e obsessão, sobre homens que não buscavam o trono — mas que foram tragados por ele.

Se Vikings nos mostrou como os nórdicos conquistaram respeito através do medo, e Vikings: Valhalla nos revelou o fim glorioso e amargo de sua era, King & Conqueror nos mostra o que veio depois: o viking que se tornou rei, e o inglês que caiu defendendo seu povo.

E é essa transição — esse momento de virada definitiva — que a série da BBC promete eternizar em grande estilo.


Descubra mais sobre

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Deixe um comentário