Em The Gilded Age, poucos embates são tão sutis e reveladores quanto aquele entre Bertha Russell e Marian Brook, as duas protagonistas femininas. Vizinhas de porta, mas separadas por idade, classe, temperamento e projeto de vida, as duas mulheres nunca realmente se aproximaram — e, ainda assim, trilharam caminhos entrelaçados.
Ao longo de três temporadas, suas trajetórias deixam claro que o verdadeiro conflito não é entre opostos, mas entre espelhos desalinhados. Marian é, de certa forma, a jovem que Bertha um dia foi — e que nunca pôde continuar sendo. O problema é que hoje, Marian é um impecilho para as ambições de Bertha.

Origens: o que sabemos — e o que isso significa
Muito já foi dito sobre o passado de Marian. Filha de Henry Brook, um herdeiro de família tradicional que lutou na Guerra Civil como general, mas era viciado em jogo e bebidas, no início da série ela descobriu que seu pai mentiu para ela sobre tudo: até sobre a posse da casa onde cresceu. Sem nada nem para sobreviver, ela aceita ir para Nova York e viver sob a tutela da severa tia Agnes Van Rhijn e da doce tia Ada Brook, duas mulheres que só veio a conhecer após a morte de seu pai. Como Agnes explica, seu sobrenome, Brook, ainda carrega algum peso social, mesmo sem dinheiro.
Ao chegar em Nova York é acolhida pelas duas e conhece seu primo, Oscar Van Rhijn, e é adotada como prima por Aurora Fane (sobrinha do falecido marido de Agnes). De uma hora para outra ela ganha família, afeto e muitas regras, boa parte delas contrárias ao que sonha para si mesma.

Já sobre Bertha Russell, quase nada é dito. Na terceira temporada descobrimos que ela tem uma irmã, Monica, e que vivia em Nova York há alguns anos antes que George tenha ficado milionário. Mas essas informações escassas e cifradas não se multiplicam. Em um momento chave, ela mesma declara para a filha, Gladys:
“Minha origem não importa. Eu não era ninguém.”
Essa frase é reveladora: aparentemente, Bertha vem de um lugar abaixo até mesmo da falência da família Brook. Seu casamento com George Russell foi o trampolim para sua ascensão. E mais do que isso: foi o investimento emocional e estratégico de uma mulher que aceitou e fez do casamento sua carreira.
Marian, ao contrário, mesmo sem dote, vê o casamento como algo que deve vir do amor. Inocente, ela cai nas mentiras do advogado Tom Raikes e só descobre a ambição dele quando foi trocada por outra com dinheiro. Magoada e traumatizada, em seguida contemplou aceitar a segurança oferecida por Dashiell Montgomery, outro sobrinho de Agnes por parte do marido. Mas desistiu pois ele demandou que ela parasse de trabalhar e nunca perguntou o que ela realmente queria.
Marian quer o improvável: amor e liberdade ao mesmo tempo. E nisso, se distancia totalmente da lógica de Bertha — que até se casou por amor, mas entende que esse é um luxo raro, quase acidental.

Bertha não aprova Marian — mas a compreende mais do que admite
Carrie Coon, intérprete de Bertha, já afirmou que a personagem vê mais de si mesma em Marian do que na própria filha, Gladys. A frase parece contraintuitiva — afinal, Bertha nunca demonstrou simpatia por Marian. Mas faz todo o sentido. Marian é jovem, inexperiente, idealista — e com um potencial que Bertha reconhece, mas não dá valor. Ela mesma poderia ter sido essa jovem, se não tivesse escolhido endurecer.
Bertha despreza o romantismo como plano de vida, porque sabe o quanto a sociedade é impiedosa com mulheres ingênuas. Ela é implacável com Gladys, a quem controla ferozmente, até que ela mesma escolheu o marido da filha – um Duque – enquanto afugentou os outros pretendentes com ameaças nada veladas para que ficassem longe de Gladys.
Pode-se imaginar que Bertha acredite que foi ela que apresentou Marian a Larry, seu primogenito, quando a jovem desafiou Agnes e foi à um jantar na casa dos Russells sozinha. Enquanto George já percebeu a docilidade e a coragem da jovem Bertha acaba descontando nela sua irritação por estar sendo desperezada pela sociedade. Marian, desde o primeiro momento, sempre foi apoiadora dos Russells. O que Bertha desconhece, ou até mesmo Oscar, é que na verdade, os dois jovens se conheceram ao acaso e Larry imediatamente se encantou com Marian. A semente do “Larian” foi plantada no 1º episódio da série.

Inicialmente, a amizade dos dois era vista como inofensiva por Bertha, mas agora que sabe que estão apaixonados, ela enxerga não só um risco ao projeto dinástico dos Russell — mas também uma ameaça ao controle que tem sobre o próprio filho.
Larry Russell: o elo entre duas visões de mundo
Larry representa uma ponte. Educado no privilégio, mas moderno, gentil, menos obcecado por status do que seus pais, desde o início, admira Marian por tudo que ela representa: sua dignidade, sua sinceridade, seu idealismo — coisas que sua mãe considera frágeis, mas ele vê como nobres. Mais ainda, foi Marian que sempre o encorajou em tudo dos sonhos de trabalhar como arquiteto a se lançar sozinho no mundo dos negócios.
O romance dos dois foi um pedido dos fãs da série e só aconteceu na última cena da segunda temporada, infelizmente com rápida duração.


O rompimento dos dois, na 3ª temporada, acontece por causa de uma mentira banal — mas profundamente simbólica. Larry mente a Marian sobre onde esteve na noite do noivado. Não porque fez algo de errado, mas porque achou que não precisava contar. Um hábito masculino herdado de séculos, mas que colide com os traumas da mulher que ele ama.
Marian já foi traída por homens que pareciam corretos. O pai, que dilapidou o patrimônio da família. Tom Raikes, que quase a usou como degrau social. Ela não perdoa mentiras. Não porque seja moralista — mas porque não aguenta mais ser enganada.
Bertha e Marian: duas mulheres que punem a omissão
No paralelo de honestidade, Marian e Bertha são mais parecidas do que imaginam. Na 1ª temporada, Bertha quase desfez seu casamento com George porque ele não contou que Turner tentou seduzi-lo. George resistiu, mas omitiu. Para Bertha, isso foi quase igual à traição. A omissão é uma quebra de confiança.

A mesma lógica deveria valer agora para Marian, mas como Bertha não a quer como nora, possivelmente vai apoiar Larry (ela sempre diz que “os homens são homens” numa referência que “garotos gostam de brincar”. Então é onde Bertha e Marian diferem, quando Bertha usa de dois pesos, duas medidas para se virar a situação a seu favor. “
Quando George omitiu, Bertha se julgou certa de cobrar do marido. Quando Marian espera honestidade de Larry, ela é tola. Hipocrisia dividia as mulheres naquele tempo antes de qualquer sonho de sororidade.
Idealmente, ao descobrir a razão da separação, Bertha finalmente veria em Marian uma mulher à sua altura. Ou, ao menos, uma mulher que aprendeu a se proteger. Mas não, o rompimento surge como uma oportunidade de agora casar o filho com uma melhor candidata.

A evolução de Bertha e Marian: espelhos, não opostos
Ao longo da série, Bertha foi de arrivista implacável a anfitriã legítima do 400 de Nova York. Construiu palácios, casamentos, alianças. Aprendeu a jogar. E, apesar de tudo, manteve um casamento tão funcional como romântico com George.
Marian, por sua vez, começou apagada, passiva, mas cresceu em silêncio. Foi uma das únicas a desafiar Agnes, a romper noivado por integridade, a trabalhar como professora. Seu figurino mudou — das cores neutras aos tons que espelham sua afirmação. Seu olhar também mudou: agora mais duro, mais exigente, mas ainda movido pelo coração.
O que vem agora? Um gesto que pode mudar tudo
Nos trailers dos episódios finais da temporada, vemos Marian devastada, Ada tentando consolá-la, Larry indo atrás dela e confrontando os pais. Bertha, como sempre, tenta justificar:
“Eu só quero o que é melhor para todos.”
Mas Larry responde com clareza:
“Você só quer o que é melhor para você.”
Só que a maior virada ainda está por vir — e a atriz Carrie Coon deixou escapar em entrevista: nos próximos episódios, George Russell sofrerá um atentado. E quem o salvará, contra todas as expectativas, será ninguém menos que Marian Brook.

Num momento de emergência, Marian levará o Dr. Kirkland até a casa dos Russell, e o fará com segundos de diferença entre a vida e a morte. Uma cena de heroísmo silencioso, que ecoa outro feito esquecido: na 1ª temporada, foi Marian quem conseguiu, sem saber, uma informação vital para que George salvasse seus negócios.
Se antes ele já a admirava, agora George poderá quase ordenar que Larry se case com ela imediatamente. Brincadeiras à parte, o gesto de Marian derruba qualquer objeção racional ou social ao seu nome. Ela é leal, corajosa e desinteressada — três virtudes que Bertha sempre valorizou, mesmo que secretamente.
E é aí que Carrie Coon antecipa a maior mudança de todas:
Depois disso, Bertha finalmente entenderá o valor de Marian e passará a apreciá-la.
Mas… será que será tarde demais?
Marian pode ter fechado essa porta. E, se for reconquistar Larry, isso terá que vir dela, não dos pais dele. A cicatriz da mentira ainda dói. Mas, talvez, ao ver Bertha e George se curvando com humildade — algo raríssimo — Marian reencontre a fé no amor. Porque ali, pela primeira vez, ela não será tratada como “menor”, mas como igual.
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