Um novo capítulo para os Menendez?

Depois de mais de três décadas atrás das grades, Erik e Lyle Menendez finalmente têm diante de si a chance de uma audiência de liberdade condicional. Os irmãos, condenados em 1989 pelo assassinato dos pais em Beverly Hills, passam esta semana pelo crivo da Junta de Liberdade Condicional da Califórnia: Erik na quinta-feira, Lyle na sexta.

A expectativa é enorme porque, em maio, um juiz reverteu a sentença de prisão perpétua sem direito a liberdade condicional, tornando-os elegíveis pela primeira vez para um possível recomeço. Ainda assim, mesmo que consigam convencer a junta, a palavra final será do governador Gavin Newsom, que pode aprovar, modificar ou barrar a decisão — um poder raro e decisivo em casos de homicídio.

A história dos Menendez nunca saiu da imaginação popular. Desde os julgamentos televisionados nos anos 90 até a recente onda de interesse, alimentada por documentários e uma série da Netflix, a narrativa oscilou entre monstros frios e jovens traumatizados. Eles nunca negaram o crime: assumiram ter matado José e Kitty Menendez, mas sempre alegaram que agiram em legítima defesa, após anos de abusos físicos e sexuais. Essa versão divide opiniões até hoje.

De um lado, mais de 20 familiares se uniram para pedir a libertação, argumentando que Erik e Lyle se transformaram na prisão. Fundaram programas de reabilitação, trabalharam com outros detentos, aprenderam línguas, criaram grupos de apoio e, segundo os parentes, demonstraram remorso verdadeiro e crescimento pessoal. De outro, o atual promotor de Los Angeles, Nathan Hochman, insiste que eles nunca aceitaram totalmente a responsabilidade — sustentando que o discurso de abuso foi uma invenção para justificar o crime.

A tensão é grande porque a avaliação da junta não é apenas sobre o que fizeram, mas sobre quem se tornaram. O estado da Califórnia considera o fato de que, à época, eles tinham 18 e 21 anos — portanto, jovens ofensores. O passado pesa, mas também pesa a vida construída desde então: Erik liderando grupos de meditação e apoio a idosos e deficientes; Lyle ajudando a criar projetos de mentoria e até um espaço verde dentro da prisão.

Há, ainda, a sombra de um precedente: Newsom já usou esse mesmo poder para negar a liberdade de Sirhan Sirhan, assassino de Robert Kennedy, argumentando falta de arrependimento e de compreensão do crime. Hochman, o promotor, compara os Menendez a Sirhan e repete: eles não disseram toda a verdade.

O único parente que ainda pedia para que ficassem presos, o tio materno Milton Andersen, morreu este ano. O palco, agora, está montado para uma decisão histórica — que pode sair das mãos da junta e acabar nas de um único homem, o governador.

Enquanto isso, Erik e Lyle seguem em celas separadas, mas no mesmo presídio de segurança baixa em San Diego, vivendo a rotina que criaram para si: ensinar, apoiar e tentar dar sentido ao que restou de suas vidas. Para a família que os apoia, esse já é o maior sinal de transformação. Para os críticos, é apenas um capítulo a mais em uma longa história de manipulação.

Seja qual for o desfecho, uma coisa é certa: o caso Menendez, que marcou os anos 90, continua a provocar fascínio, debate e divisões profundas sobre justiça, trauma e perdão.


Descubra mais sobre

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Deixe um comentário