Daniel Day-Lewis e o Oscar: O Retorno que Já Redesenha a Temporada

É curioso como algumas histórias parecem escritas para o cinema antes mesmo de chegarem às telas. O retorno de Daniel Day-Lewis em Anemone é uma delas. O ator que em 2017 jurou nunca mais atuar — e que já havia se refugiado em outros retiros, na marcenaria e até na fabricação de sapatos na Itália — volta agora em um projeto íntimo, dirigido pelo próprio filho, Ronan Day-Lewis. É um gesto carregado de simbolismo: além de coassinar o roteiro, Daniel interpreta um ermitão que precisa encarar o irmão (Sean Bean) e, com ele, todo um legado de silêncio, rancor e segredos enterrados. Samantha Morton também integra o elenco, reforçando o peso dramático de um filme que já nasce cercado de expectativas.

Não surpreende que Hollywood tenha imediatamente acendido a luz vermelha do Oscar. Estamos falando do único ator com três estatuetas de Melhor Ator (Meu Pé Esquerdo, Sangue Negro, Lincoln). Cada reaparição sua costuma reorganizar a temporada de prêmios, e Anemone chega justamente com esse peso: o de ser não apenas um retorno, mas talvez um novo capítulo em uma carreira que parecia encerrada. O trailer, exibido às vésperas do Festival de Nova York, trouxe a intensidade esperada. A sensação é de que, se Daniel voltou, não foi por vaidade — mas porque tinha algo a dizer.

Mas ele não está sozinho nessa corrida. A temporada já se desenha como uma das mais fortes dos últimos anos. Dwayne Johnson, em The Smashing Machine de Benny Safdie, vem de uma transformação física e emocional que promete surpreender até os céticos. Michael B. Jordan aparece como favorito a finalmente receber sua primeira indicação, por Sinners, de Ryan Coogler — um papel duplo, em um thriller sobrenatural, que pode redimir anos de esnobadas pela Academia. Jesse Plemons surge no perturbador Bugonia de Yorgos Lanthimos, enquanto Oscar Isaac brilha em dose dupla, com Frankenstein de Guillermo del Toro e The Hand of Dante de Julian Schnabel. Há ainda Wagner Moura, premiado em Cannes pelo thriller político O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, já apontado como forte presença internacional. E como se não bastasse, Russell Crowe tenta sua volta ao pódio duas décadas depois de Uma Mente Brilhante, com o drama histórico Nuremberg, ao lado de Rami Malek.

É nesse contexto, entre veteranos consagrados, atores em ascensão e estrelas que buscam reconhecimento tardio, que Daniel Day-Lewis ressurge. Não como uma lenda aposentada, mas como um competidor real, com chances concretas de marcar a história mais uma vez. Se Hollywood adora narrativas de redenção, Anemone oferece duas em uma: a do personagem, perdido em seus fantasmas, e a do próprio Day-Lewis, que retorna não para provar nada a ninguém, mas para nos lembrar por que sua ausência sempre pareceu insuportável.


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