Como publicado no Blog do Amaury Jr./Splash UOL
Kathryn Bigelow não é apenas uma diretora. Ela é uma das vozes mais contundentes do cinema americano contemporâneo, capaz de transformar a tensão geopolítica e os horrores do cotidiano em narrativas que nos esmagam pela intensidade. Desde que entrou para a história como a primeira mulher a ganhar o Oscar de Melhor Direção com The Hurt Locker (2008), seu cinema se consolidou como sinônimo de urgência e desconforto. E, no entanto, após Detroit (2017), Bigelow ficou oito anos sem dirigir.
Esse silêncio intrigava tanto quanto a própria obra.
O peso de Detroit
Lançado em 2017, Detroit dramatizou um episódio real da história americana: o Incidente do Algiers Motel, durante os motins raciais de julho de 1967. O filme é cru, sufocante, violento. Bigelow não nos poupa — como espectadores, somos arrastados para dentro de um quarto em que jovens negros foram torturados, humilhados e mortos por policiais, enquanto a cidade ardia em revolta contra o racismo sistêmico.
O elenco — John Boyega, Will Poulter, Algee Smith, Anthony Mackie, Jacob Latimore — trouxe humanidade e choque a cada cena. Mas a recepção foi dividida. Críticos reconheceram a coragem e a potência da obra, mas houve quem questionasse: até que ponto uma diretora branca poderia ser a porta-voz de uma narrativa sobre brutalidade policial contra a comunidade negra? Para Bigelow, as críticas foram devastadoras.
Relatos dão conta de que ela se afastou porque se sentiu exausta pela polêmica e pela dureza da recepção. Ao mesmo tempo, tentou desenvolver novos projetos — como a adaptação de Aurora para a Netflix —, mas eles não decolaram. O resultado foi um hiato que se estendeu por quase uma década.
Oito anos de silêncio
É raro ver uma diretora vencedora do Oscar se ausentar tanto tempo da cadeira de direção. Mas, olhando em retrospecto, o afastamento de Bigelow não foi um vazio. Foi um tempo de reflexão, de selecionar temas que realmente justificassem o seu retorno. Uma artista que se tornou sinônimo de cinema político não voltaria com um projeto menor. Era preciso uma ideia explosiva, urgente — literalmente.

A House of Dynamite: o retorno
Agora, em 2025, Kathryn Bigelow ressurge com um thriller que parece feito sob medida para o nosso tempo. A House of Dynamite estreia mundialmente no Festival de Veneza em 2 de setembro e chega à Netflix em 24 de outubro, após uma passagem limitada pelos cinemas. O filme coloca Bigelow de volta ao terreno geopolítico em que ela é insuperável: a ameaça invisível, a resposta política, a contagem regressiva que decide o futuro de milhões.
A trama parte de uma premissa aterradora: um míssil não identificado é disparado contra os Estados Unidos. A pergunta não é apenas de onde veio, mas como reagir diante de um ataque que pode redefinir o equilíbrio de poder mundial.
Para contar essa história ela conta com Idris Elba e Rebecca Fergunson, além de vários atores famosos como Greta Lee e Jared Harris, entre outros.
O que esperar
A House of Dynamite não é apenas o retorno de Bigelow. É um manifesto de que ela continua disposta a provocar, tensionar e colocar o espectador contra a parede. Se The Hurt Locker nos jogou em campo aberto, com a respiração presa em cada bomba, e Zero Dark Thirty nos fez acompanhar a obsessiva caçada a Bin Laden, aqui parece que Bigelow vai direto ao coração do poder: a Casa Branca diante do impensável.
Oito anos depois, a diretora não perdeu o fôlego. Pelo contrário: volta no auge de sua maturidade artística, com um filme que promete ser um dos eventos cinematográficos do ano. O filme é a prova de que, no cinema político, poucos sabem acender e controlar a pólvora como ela.
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