Chief of War narra a saga de Kaʻiana (Jason Momoa), um chefe de guerra havaiano dividido entre paz e dever, em meio a um mundo em transformação. A série combina conflitos históricos reais sobre a unificação do Havaí com mitologia, profecia e rituais indígenas. Visualmente estonteante e é uma produção única que representa uma homenagem legítima à cultura havaiana e amplia nossa compreensão sobre esse capítulo marcante da história do Pacífico. E sim, é perfeita para fãs de Shogun e Game of Thrones.
A jornada de Chief of War abre como uma epopeia havaiana marcada pela violência e pela espiritualidade. No episódio 1, vemos Kaʻiana (Jason Momoa) forçado a voltar para Maui e lutar ao lado de Kahekili (Temuera Morrison), mesmo discordando de sua brutalidade. O que pesa na decisão é tanto o dever de vingar a profanação do túmulo do pai quanto a possibilidade de limitar o massacre ao planejar a batalha. A série já mostra desde aí sua essência: a luta entre destino e livre-arbítrio, honra e sobrevivência.

O episódio 2 quebra a ilusão de lealdade. Kaʻiana foge, com a família e poucos aliados, em meio a perseguições que o transformam em fugitivo. É nesse momento que conhece Kaʻahumanu (Luciane Buchanan), sobrinha de Kahekili, que carrega consigo uma profecia sombria: ela “quebrará o mundo”. Entre emboscadas e encontros com europeus à deriva, Kaʻiana acaba arrancado de sua terra, levado pelos estrangeiros, num exílio que o distancia da família e o aproxima do mundo exterior. A série usa esse deslocamento como ponto de virada: o herói que começa como guerreiro local passa a ser estrangeiro dentro e fora de casa, e esse desenraizamento será decisivo para a traição futura — Kaʻiana se tornará alguém sempre visto com desconfiança, tanto pelos havaianos quanto pelos europeus.
No episódio 3, a narrativa dá um salto no tempo. Um ano se passa. Kaʻiana agora é caçador no Alasca e viajante no Sudeste Asiático, descobrindo o comércio de sândalo e as engrenagens da colonização. Ele percebe que a sobrevivência do Havaí dependerá de armas e estratégia, não só de força bruta. Paralelamente, Kaʻahumanu é entregue em casamento a Kamehameha (Kaina Makua). O casamento não é apenas político, mas parte da profecia: Moku acredita que ela está destinada a estar ao lado do homem que unificará as ilhas. Já Kamehameha surge como um líder diferente — um guerreiro, sim, mas também agricultor e estrategista, capaz de pensar na fome e no futuro, não só em batalhas.
No episódio 4, Kaʻiana volta a ser confrontado com a face mais cruel do mundo exterior. Em Zamboanga, descobre o horror do tráfico de escravos e, numa sequência visceral, liberta todos os cativos, incluindo o amigo Tony. Essa catarse o posiciona não apenas como guerreiro, mas como justiceiro contra sistemas de opressão. Enquanto isso, no Havaí, morre o rei Kalaniʻōpuʻu. O governo passa para Keoua (Cliff Curtis), mas o deus da guerra é legado a Kamehameha. Essa divisão sela o destino de ambos e abre espaço para o conflito inevitável. É Kaʻahumanu quem dá ao marido a confiança para se assumir como líder, mesmo quando os deuses parecem em silêncio.

Por fim, o episódio 5 traz Kaʻiana de volta às ilhas. A reunião com a família é marcada pelo silêncio cheio de dor e ternura — sua esposa Kupuohi, acreditando-o morto, já havia criado laços com seu irmão Namake, e esse triângulo silencioso pesa no reencontro. Mas o episódio também é sobre reconciliação: Kaʻiana reencontra Vai, que enfrenta seu próprio passado familiar, e também Kaʻahumanu, agora esposa de Kamehameha. O contraste entre as lições quase bíblicas de Kamehameha (usando o taro como metáfora da vida e do futuro) e o pragmatismo de Kaʻiana (trazendo armas e experiência do mundo exterior) se cristaliza numa cena simbólica: a corrida de trenós na encosta do vulcão. O duelo que poderia ser rivalidade termina em abraço — um aperto de mão digno de épico de ação — selando uma aliança entre os dois homens. Kaʻiana, desconfiado de profecias, finalmente reconhece em Kamehameha um líder que talvez valha a pena seguir.
Até o episódio 5, Chief of War constrói um arco em que cada personagem carrega um pedaço da profecia: Kaʻiana, o guerreiro exilado que retorna transformado; Kaʻahumanu, a mulher destinada a “quebrar o mundo” e que guia os homens pelo sussurro da visão; e Kamehameha, o chefe que prefere plantar taro a guerrear, mas que o destino insiste em empurrar para a coroa.
Agora o Spoiler: não se apegue à Ka’iana. Na história, ele e Kamehameba acabam em lados opostos. Isso mesmo, dependendo da narrativa, ele é o traidor da história e essa traição culmina na morte de Kaʻiana na Batalha de Nuʻuanu — uma parte fiel aos registros históricos.
Estamos no episódio 5, onde os dois finalmente se encontram. O duelo no trenó é simbólico: um teste de força, coragem e destino. Em vez de terminarem como inimigos, Kaʻiana e Kamehameha se reconhecem — dois homens fortes, mas com naturezas opostas. O abraço no mar sela uma aliança momentânea, mas também deixa claro que essa união não pode durar. Kaʻiana ainda não confia em profecias, e teme seguir outro líder que se autoproclama “escolhido”. Kamehameha, por sua vez, vê em Kaʻiana um aliado útil, mas sempre à margem, sempre carregando o estigma de ter servido a Kahekili e de ter vivido entre estrangeiros.
Até aqui, Chief of War constrói um tripé narrativo que prepara o terreno para a traição futura: Kaʻiana não aceitará ser eclipsado, Kamehameha não tolerará uma ameaça interna, e a profecia só se cumpre com a ascensão de um único rei.

Ou seja, Chief of War está montando uma tragédia anunciada. A amizade e a aliança entre Kaʻiana e Kamehameha são apenas um intervalo de paz antes do choque final — porque só um pode se tornar o verdadeiro unificador das ilhas.
A beleza da série está nesse equilíbrio entre grandiosidade visual, misticismo e humanidade — sempre lembrando que unificar as ilhas não será só questão de armas, mas de escolhas, alianças e traições que ainda estão por vir.
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