Ed Gein: O Marco Zero Cultural do True Crime e do Horror Moderno

Como publicado no Blog do Amaury Jr./Splash UOL

Quando se fala em true crime, muitos consideram os crimes de Ed Gein como uma espécie de marco zero cultural. Não porque tenha sido o primeiro assassino em série — outros nomes já chocavam os Estados Unidos décadas antes, como H. H. Holmes ou Albert Fish —, mas porque a forma como seus crimes foram descobertos e retratados nos anos 1950 fez dele o molde original do assassino pop cultural. Gein foi o ponto em que o terror real e a ficção se fundiram de forma inescapável.

Não à toa, sua vida inspirou diretamente Norman Bates em Psicose (livro de Robert Bloch adaptado por Alfred Hitchcock), Leatherface em O Massacre da Serra Elétrica e Buffalo Bill em O Silêncio dos Inocentes, de Thomas Harris — e, indiretamente, até Hannibal Lecter, que nasce no mesmo universo literário.

O homem por trás da lenda

Nascido em 1906, em La Crosse (Wisconsin), Gein cresceu sob o domínio da mãe, Augusta, uma mulher fanática religiosa que pregava que todas as mulheres — exceto ela mesma — eram instrumentos do diabo. A morte dela em 1945 deixou Gein sozinho na fazenda da família, mergulhado em solidão e delírios.

Em 1957, ao investigar o desaparecimento da comerciante Bernice Worden, a polícia encontrou em sua propriedade um cenário de pesadelo: o corpo mutilado da vítima e uma série de artefatos macabros feitos de restos humanos — máscaras de pele, tigelas de crânios, móveis estofados com pele. Uma verdadeira casa de horrores que não só chocou a nação, mas redefiniu o imaginário do crime e do terror.

Inicialmente considerado mentalmente incompetente, Gein foi internado em um hospital psiquiátrico, julgado culpado de assassinato em 1968 e permaneceu preso em instituições de saúde mental até sua morte, em 1984.

O monstro que virou referência

O impacto de Gein na cultura popular foi imediato. Robert Bloch escreveu Psicose pouco após a prisão do criminoso, explorando a mente de um homem solitário e perturbado pela relação doentia com a mãe. A partir dali, o horror moderno ganhou contornos psicológicos — e Gein se tornou o blueprint do monstro contemporâneo.

Essa história macabra, mas fascinante, será o foco da próxima fase da franquia Monster, da Netflix. A mesma que já recontou a assustadora trajetória de Jeffrey Dahmere mais recentemente os Irmãos Menendez. Ryan Murphy agora reescrever a história de Ed Gein com um super elenco. A própria sinopse da Netflix, captura o impacto de Gein: “Assassino em série. Ladrão de túmulos. Psicopata.”, descreve. “Ed Gein não apenas influenciou um gênero — ele se tornou o projeto original do horror moderno.” Para os criadores, a história de Gein mostra que “monstros não nascem prontos, eles são feitos… por nós”.

Charlie Hunnam interpreta Ed Gein em um elenco que inclui Laurie Metcalf como Augusta Gein e Vicky Krieps como Ilse Koch. Tom Hollander e Olivia Williams viverão Alfred e Alma Hitchcock e aqui está um link irrestível para Murphy que é unir true crime e cinema. Pensar que Psicose, o clássico imediato do cinema, foi lançado poucos anos depois da prisão de Gein traz nova e apavorante perspectiva sobre a obra.

A trama promete revelar como um homem aparentemente comum de Plainfield se tornou o fantasma mais singular da história criminal americana — e como seus crimes redefiniram tanto o horror quanto a maneira como enxergamos monstros.

Um legado sombrio

Os crimes de Ed Gein não só aterrorizaram os Estados Unidos, como também moldaram o futuro da cultura pop. Ele pode não ter sido o primeiro assassino, mas foi aquele que cristalizou a obsessão pelo criminoso desviante. É nele que o true crime se torna fenômeno cultural e que o horror moderno encontra seu “marco zero”.

E agora, quase setenta anos depois, sua história volta a ecoar — desta vez para uma nova geração, que vai descobrir por que Ed Gein continua sendo o homem que deu rosto ao medo.


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