Quando falamos de cinema internacional, três festivais europeus sempre aparecem como os mais importantes: Berlim, Cannes e Veneza. Cada um tem sua tradição, seu público e sua forma de pensar o cinema. Mas, quando a conversa é sobre o Oscar, eles não têm o mesmo peso. Nos últimos dez anos, o grande destaque como termômetro da temporada foi, sem dúvida, Veneza.

Berlim: o mais político e social
O Festival de Berlim, também chamado de Berlinale, sempre foi marcado por uma curadoria que privilegia o cinema político, social, engajado. Filmes que refletem sobre identidade, imigração, crises sociais, guerras. Nos anos 1970 e 80, Berlim chegou a ter impacto cultural forte, mas hoje é visto mais como um espaço de prestígio europeu do que como um palco que impulsiona produções rumo ao Oscar.
Os vencedores do Urso de Ouro dificilmente chegam à temporada de premiações americana. Exemplos recentes, como Alcarràs (2022) ou Sur l’Adamant (2023), foram celebrados na Europa, mas praticamente não tiveram eco em Hollywood. Em resumo: Berlim é fundamental para afirmar o cinema autoral e político, mas não conversa diretamente com os votantes da Academia.


Cannes: o glamour e o radicalismo autoral
O Festival de Cannes é, provavelmente, o mais famoso entre os três. A imagem da escadaria, do tapete vermelho, do glamour, das estrelas disputando o troféu mais desejado — a Palma de Ouro — está no imaginário popular. Cannes é considerado o templo da cinefilia, aquele espaço onde grandes mestres e novos talentos apresentam obras radicais, ousadas, autorais.
Mas justamente por ser tão ligado ao cinema de autor, Cannes nem sempre funciona como “termômetro do Oscar”.
Muitos dos filmes premiados ali nunca chegam a entrar no radar da Academia, seja pela distribuição limitada, seja por estarem distantes dos padrões hollywoodianos. Ainda assim, há exceções brilhantes. A maior delas nos últimos dez anos foi Parasite (2019), de Bong Joon-ho: venceu a Palma de Ouro e, meses depois, fez história ao se tornar o primeiro filme em língua estrangeira a ganhar o Oscar de Melhor Filme. Mais recentemente, Anatomy of a Fall (2023) venceu Cannes e, em seguida, conquistou o Oscar de Melhor Roteiro Original. Mas, no geral, Cannes premia filmes que marcam a história do cinema, mas raramente coincidem com os vencedores de Hollywood.


Veneza: o trampolim para o Oscar
E é aqui que chegamos ao Festival de Veneza, que nos últimos dez anos consolidou-se como o verdadeiro ponto de partida da temporada do Oscar. Fundado em 1932, é o festival de cinema mais antigo do mundo. Mas, especialmente desde meados dos anos 2010, sua seleção passou a atrair os grandes estúdios e diretores que miram diretamente na Academia.
A lista fala por si: La La Land (2016), The Shape of Water (2017), Roma (2018), Joker (2019), Nomadland (2020), Dune (2021), The Whale (2022), Poor Things (2023) e The Brutalist (2024) — todos lançados em Veneza, todos depois protagonistas da corrida do Oscar. Alguns venceram Melhor Filme, outros garantiram Oscars de atuação, direção ou categorias técnicas. Mais do que coincidência, é uma estratégia: os estúdios perceberam que lançar em Veneza significa sair da lagoa italiana direto para Los Angeles com força.
Veneza encontrou um equilíbrio raro: mantém prestígio crítico, mas também acolhe filmes de apelo popular, que podem render bilheteria e prêmios. E, ao contrário de Cannes, não teme exibir produções de grandes estúdios, desde que tenham qualidade. Essa abertura tornou o festival irresistível para Hollywood.

Então, qual é o melhor termômetro?
Comparando os três, a resposta é clara: Veneza é, de longe, o festival que melhor antecipa o Oscar. Cannes continua sendo o grande santuário do cinema-arte, e Berlim preserva sua importância política e cultural. Mas, se a pergunta for “quem aponta para os futuros vencedores da Academia?”, é a Mostra de Veneza que dita o tom.
No fim, cada festival cumpre sua função: Berlim questiona, Cannes celebra a ousadia, e Veneza constrói a ponte entre a crítica internacional e a indústria hollywoodiana. Mas é em Veneza que, cada vez mais, vemos nascer a temporada de premiações.
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