Estava escrito nas entrelinhas: depois do grande sucesso de The Gilded Age, assim como da polêmica adaptação de The Buccaneers pela Apple, outro romance de Edith Wharton volta ao centro do palco. A Netflix acaba de confirmar a produção de uma série baseada em The Age of Innocence, obra que não só consolidou Wharton como uma das vozes mais afiadas da literatura americana, mas também lhe rendeu o Pulitzer de Ficção em 1921 – tornando-a a primeira mulher a receber o prêmio.

Publicado em 1920, o livro mergulha na Nova York da década de 1870, retratando um mundo de convenções rígidas, privilégios silenciosos e paixões sufocadas. A história de Newland Archer, dividido entre o dever de casar-se com a dócil May Welland e a paixão pela livre Ellen Olenska, expõe as tensões entre desejo pessoal e as expectativas implacáveis da alta sociedade. À época, a recepção foi calorosa não apenas pela delicadeza da escrita, mas pelo retrato incisivo de uma elite em decadência moral, tema que Wharton conhecia de dentro.
Na memória recente do público, o título se confunde com a versão luxuosa dirigida por Martin Scorsese em 1993, estrelada por Daniel Day-Lewis, Michelle Pfeiffer e Winona Ryder. O filme, embora reverenciado pela fidelidade estética e pela atmosfera elegante, também reforçou a ideia de que The Age of Innocence é uma obra de difícil adaptação: cada gesto, cada silêncio, cada etiqueta social é parte fundamental da trama.
Agora, a Netflix aposta em uma abordagem seriada, com Kristine Frøseth (sim, a Nan de The Buccaneers) como May Welland, Camila Morrone (de Daisy Jones and the Six) como Ellen Olenska e Ben Radcliffe no papel de Newland Archer, além de Margo Martindale como a matriarca Manson-Mingott. O elenco jovem e o formato episódico podem dar mais espaço às nuances dos personagens, mas também levantam a dúvida inevitável: será que a série conseguirá preservar a ironia e o peso moral da prosa de Wharton, ou corre o risco de transformar outro clássico em um drama de época genérico e “digestível”?


Num momento em que plataformas disputam a herança literária, The Age of Innocence parece ser tanto uma aposta segura quanto uma armadilha. Afinal, como mostrou o caso de The Buccaneers, mexer com Wharton nunca é só sobre romance e figurino: é, sobretudo, sobre expor as máscaras da sociedade.
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