A Amazon Prime Video anunciou oficialmente sua nova cartada no terreno das franquias globais: Tomb Raider. Baseada em uma das personagens mais icônicas dos videogames, a série tem estreia de produção marcada para janeiro de 2026 e já nasce com o peso da expectativa. A aposta é clara: transformar Lara Croft em mais uma joia do catálogo da plataforma, a exemplo do que a HBO fez com The Last of Us ou a Netflix com The Witcher. Sophie Turner é a estrela e Phoebe Waller-Bridge a showrunner. Mas junto com o anúncio, vêm as perguntas inevitáveis: por que voltar agora? E com essa dupla à frente?

Lara Croft dispensa apresentações. Criada em 1996, a arqueóloga aventureira não apenas se tornou um marco da indústria dos games, mas também um símbolo cultural — misto de força feminina, sensualidade e inteligência. No cinema, ganhou vida pela primeira vez em 2001, nas mãos de Angelina Jolie, que praticamente redefiniu a heroína para uma geração. Jolie trouxe carisma, físico imponente e magnetismo, fazendo de Lara Croft: Tomb Raider um sucesso de bilheteria, ainda que criticamente divisivo. A sequência, A Origem da Vida (2003), já mostrou sinais de desgaste, mas consolidou a personagem como ícone pop.

Anos depois, em 2018, veio a tentativa de reinvenção com Alicia Vikander em Tomb Raider: A Origem. A ideia era modernizar Lara para um público mais jovem, mais realista, menos fantasioso. O filme, no entanto, não emplacou: críticas mornas, bilheteria sem brilho e a sensação de que Lara Croft havia perdido o timing cultural. Por isso, a decisão da Amazon de ressuscitar a franquia em série televisiva levanta tanto interesse: seria este o formato ideal para explorar a complexidade da personagem, equilibrando ação e narrativa?

Há quem se divida quanto à dupla escolhida para liderar essa nova fase. De um lado, Phoebe Waller-Bridge, nunca mais conseguiu repetir o mesmo sucesso do impacto global de Fleabag e o sucesso inicial de Killing Eve, sua contribuição em 007 – Sem Tempo para Morrer foi discreta, para não dizer desafinada e sua saída precoce de Sr. & Sra. Smith chamou atenção. Nem mesmo sua participação em Indiana Jones e a Relíquia do Destino foi suficiente para reacender sua chama criativa no imaginário popular. Agora, como criadora, roteirista, produtora executiva e co-showrunner de Tomb Raider, Phoebe carrega nas costas não apenas a reinvenção de Lara Croft, mas também uma espécie de busca por redenção artística.

Do outro lado, Sophie Turner. Conhecida mundialmente como Sansa Stark em Game of Thrones, Turner viu sua carreira pós-Westeros oscilar. Tentou emplacar no cinema com Dark Phoenix, dentro da franquia X-Men, mas o filme naufragou em críticas e bilheteria. Nos anos seguintes, esteve mais presente em campanhas de moda, publicidade e projetos pontuais do que em papéis de peso. Sua escalação como Lara Croft é ao mesmo tempo ousada e arriscada: Sophie tem carisma, juventude e uma base de fãs fiel, mas precisará provar que consegue sustentar sozinha uma personagem marcada por performances de atrizes como Jolie e Vikander.

Essa combinação — Phoebe atrás das câmeras e Sophie diante delas — parece improvável, mas justamente por isso gera tanta expectativa. Se der certo, pode recolocar ambas no centro da cultura pop: Phoebe recuperando o posto de criadora irreverente e disruptiva, e Sophie conquistando enfim uma identidade artística além da sombra de Game of Thrones.

No fim, a pergunta que paira é a mesma desde o anúncio: Lara Croft ainda tem fôlego em 2026? A Amazon aposta que sim. A personagem, afinal, nunca deixou de habitar o imaginário dos fãs, seja pelos games, pelos filmes ou pelo simples fato de ser um ícone que atravessou gerações. Agora, com tempo de tela ampliado, recursos de streaming e duas figuras femininas que buscam reposicionamento em Hollywood, Tomb Raider pode finalmente encontrar sua versão definitiva. Ou, ao menos, reacender a chama da arqueóloga que nunca parou de caçar tesouros — e agora precisa provar que ainda é um deles.