Pela primeira vez desde o fim de Game of Thrones, Westeros terá um calendário cheio. A Knight of the Seven Kingdoms: The Hedge Knight estreia em janeiro de 2026 e a 3ª temporada de House of the Dragon chega em junho, consolidando o que a HBO prometeu anos atrás: dois títulos de Westeros no mesmo ano. Isso mesmo, 2026 será “o” ano de Westeros.
O sonho custou a ser realizado porque houve pandemia, greves em Hollywood e fusões que provocaram cancelamentos de prequelas e temporadas mais curtas por motivos orçamentários. Diante da nova venda da Warner, tudo voltou a mudar.
Esse marco é importante não apenas para o calendário, mas para a experiência do fã. Durante anos, especulou-se que o universo de Game of Thrones poderia ser um novo Star Wars, com múltiplas séries interconectadas, explorando diferentes períodos históricos. Agora, esse plano começa a se materializar.


House of the Dragon – Temporada 3: guerra, reconciliação e destino trágico
A 3ª temporada promete ser a mais emocional até aqui — não apenas pelo peso das batalhas, mas pelo mergulho na psique de Rhaenyra e Alicent. As cenas vazadas nas redes indicam que veremos as duas dividindo espaço no Red Keep, e o detalhe mais comentado pelos fãs foi a volta de Alicent a usar azul, cor que remetia ao período de amizade das duas antes dos casamentos. Essa escolha não é acidental: é uma visualização do desejo de reconciliação, ou ao menos de entendimento, entre as duas personagens.
Claro que os puristas quase morreram. Essa mudança é significativa em relação aos livros. Em Fogo & Sangue, Rhaenyra e Alicent não compartilham esse nível de intimidade após o início da guerra; suas interações são mínimas e quase sempre mediadas por terceiros. Sem rodeios: elas se odeiam. Ao colocar as duas lado a lado, conversando, a série está criando algo que Martin apenas sugeriu — uma espécie de nostalgia pela amizade perdida que nunca foi plenamente explorada no material original.

Mais do que isso: há uma tensão quase romântica construída entre as duas. O subtexto, que já era perceptível para parte do público nas primeiras temporadas, ganha corpo aqui. Lembrando que há o movimento dos que torcem por “Rhaenicent” (Rhaenyra + Alicent) e que foram as atrizes – tanto jovens como adultas – que aludem uma conexão platônica entre elas e que já rolou um beijo entre Rhaenyra e Mysaria, a possibilidade não é exatamente fanfic.
Essa decisão narrativa é ousada, pois altera a forma como entendemos a tragédia da Dança dos Dragões. Se Alicent e Rhaenyra estão tentando se reconciliar, os próximos eventos se tornam ainda mais dolorosos — o que estava destinado a ser apenas guerra e vingança se transforma em uma história sobre amizade e amor não consumado, destruídos pela política e pelo destino.


Alicent Hightower: de peça política a agente do próprio destino
A maior mudança de tom talvez esteja na evolução de Alicent. Na narrativa dos livros, ela é vista majoritariamente pela ótica de mestres e cronistas, muitas vezes descrita como fria, calculista ou movida apenas por ambição familiar. A série, ao longo das duas primeiras temporadas, já vinha subvertendo essa visão, mostrando uma Alicent dividida entre o dever e o afeto, vulnerável, humana.
Na 3ª temporada, essa reinterpretação se aprofunda. Ao dar a Alicent a iniciativa de aconselhar Rhaenyra sobre o momento certo para atacar King’s Landing — algo que não existe nos livros — os roteiristas transformam a personagem em coautora do conflito. Não é mais apenas Otto Hightower mexendo as peças no tabuleiro: é Alicent fazendo escolhas próprias, com todas as contradições que isso carrega.


Essa decisão tem um efeito poderoso:
- Remove o rótulo de “marionete”, tornando-a ativa na guerra.
- Amplia a ambiguidade moral, porque mostra que Alicent acredita estar, de alguma forma, evitando um mal maior.
- Cria um vínculo com Rhaenyra, já que as duas agora compartilham não só memórias de infância, mas também uma participação consciente no destino do reino.
O resultado é uma personagem mais tridimensional, que desperta empatia mesmo quando toma decisões impopulares. É uma escolha que reforça o caráter trágico da série: sabemos que qualquer tentativa de reconciliação entre as duas será engolida pela inevitabilidade da guerra.
A prisão metafórica de Rhaenyra
Os produtores deixaram claro que, mesmo coroada, Rhaenyra estará mais prisioneira do que nunca — seja pelas profecias, seja pelas alianças políticas que a cercam. Visualmente, a série vai reforçar isso com figurinos que ecoam os de Alicent e até o colar de dragão que a rainha viúva costumava usar. Essa simbiose estética sugere que as duas, mesmo em lados opostos, são espelhos uma da outra — duas mulheres esmagadas pelas expectativas de seus pais e pelo peso do Trono de Ferro.
O resultado é uma Rhaenyra cada vez mais isolada. Quando a série chegar ao ponto inevitável de sua queda (literal e metafórica), a tragédia será ainda mais impactante porque teremos acompanhado de perto sua tentativa de preservar não apenas seu direito ao trono, mas algo da humanidade que compartilha com Alicent.

Batalhas, mortes e o caminho até Tumbleton
Embora a temporada aprofunde o drama, ela não deixará de lado o espetáculo. Serão quatro grandes eventos bélicos:
- Batalha de Gullet (episódios 1 e 2), com consequências para Aegon III, Viserys II e para Rhaena em Sheepstealer.
- Tomada de King’s Landing por Rhaenyra e Daemon, agora instigada por Alicent — uma alteração decisiva em relação aos livros.
- Batalhas menores da Dança dos Dragões, condensadas para manter o ritmo, mas sem cortar as grandes mortes que mudam o tabuleiro.
- Primeira Batalha de Tumbleton, provável clímax da temporada, preparando o terreno para a vingança de Aegon e o duelo sobre o Olho de Deus na 4ª temporada.


Essas mudanças, especialmente a de Alicent pedindo o ataque, são narrativamente potentes. Elas retiram a personagem de um lugar puramente reativo e a colocam como agente ativo do conflito — o que a aproxima de Rhaenyra, que também toma decisões radicais em nome da sobrevivência dos seus filhos. É uma escolha que humaniza Alicent sem redimi-la completamente.
A Knight of the Seven Kingdoms – intimismo e humor
Enquanto House of the Dragon oferece guerra civil e dragões, The Hedge Knight trará algo mais intimista. A série vai adaptar a primeira das novelas de Dunk & Egg, com o torneio de Ashford como pano de fundo. Espera-se um tom mais leve, quase de aventura cavaleiresca, com momentos de humor e a relação mentor-aprendiz entre Dunk e Egg no centro da narrativa.
Será um respiro entre as temporadas pesadas de HotD, lembrando que Westeros também tem espaço para histórias menores, humanas e quase autossuficientes.


O futuro do universo – de Aegon’s Conquest à Rebelião de Robert
A HBO parece ter um mapa claro: depois de HotD e Hedge Knight, o próximo grande projeto será Aegon’s Conquest, planejado para 4 a 5 temporadas. A ideia é alternar essas grandes sagas com séries menores, mantendo Westeros vivo no calendário sem saturar o público.
A tão pedida Rebelião de Robert ainda deve demorar — talvez uma década —, mas os produtores parecem dispostos a fazê-la. O mesmo vale para o suposto filme de Game of Thrones, que segue em desenvolvimento.

Um Westeros mais complexo — e mais feminino
O que mais chama atenção é como a HBO está transformando Westeros em um espaço narrativo que dá mais voz às personagens femininas. House of the Dragon já tinha feito isso ao centralizar Rhaenyra e Alicent, mas agora aprofunda essa escolha, tornando a tragédia mais íntima. Ao invés de ser apenas a história de quem vence a guerra, passa a ser a história de como duas mulheres que poderiam ter mudado o futuro de Westeros juntas acabam sendo tragadas pelas circunstâncias.
Essa escolha não desrespeita o material de Martin, mas o complementa, criando uma dimensão emocional que os livros — escritos no tom de crônica histórica — apenas sugerem.
2026 será o ano de Westeros. Com duas séries inéditas, guerras, dragões, torneios e amizades despedaçadas, a HBO aposta em uma narrativa que é ao mesmo tempo épica e íntima. Para os fãs, será um ano de glória — e de dor.
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