Entre vitórias e ausências: o balanço do Emmy 2025

Como publicado no Blog do Amaury Jr./ Splash UOL

O Emmy 2025 terminou como um daqueles eventos que deixam o público dividido: previsível no geral, mas pontuado por pequenas vitorias inesperadas que mexeram com o ritmo da noite. Não dá para chamar de uma “noite sem surpresas”, porque algumas aconteceram — mas nenhuma tão grande quanto a ausência de Andor no palco como Melhor Série de Drama. Em um ano de televisão extraordinário, é difícil dizer que o Emmy foi injusto — mas eu digo mesmo assim: Andor merecia mais. A série da Lucasfilm não só entregou a melhor temporada do ano, como redefiniu o que drama televisivo pode ser: político, humano, tenso e esteticamente impecável. Mas, no jogo dos Emmys, The Pitt saiu coroada — e, sim, foi uma vitória legítima, mas longe de ser a minha favorita.

A noite começou de forma inesperada, com a primeira estatueta entregue antes mesmo do monólogo de Nate Bargatze, algo que deu um tom mais descontraído à cerimônia. Foi divertido ver Seth Rogen ganhar seu primeiro Emmy logo de cara, num momento que arrancou risos e aplausos. Meio que poderia ter sido “a hora” de Martin Short, que venceu o SAG Awards, mas The Studio que não poupa ninguém de Hollywood numa sátira precisa sobre o mercado, é inegavelmente algo que os astros amam: tirar sarro de si mesmos. Era mega previsível. Ainda assim, Bargatze passou a noite tropeçando nas próprias piadas, em uma performance que mais parecia mal ensaiada e que deixou a sensação de que o timing, tão essencial para um comediante stand-up, se perdeu no palco do Emmy.

E falando em surpresas, a maior de todas foi ver The White Lotus sair de mãos abanando. Era uma das produções mais celebradas da temporada, chegou empatada com Severance em número de indicações, e mesmo assim não levou nada. Foi o tipo de virada que movimentou as discussões online. Sim, chegou o dia de que ela já não é mais novidade. Tanto que Katherine LaNasa brilhou ao vencer Atriz Coadjuvante, quando todas as apostas estavam divididas entre Carrie Coon, Parker Posey, Natasha Rothwell e Aimee Lou Wood. Foi aquele tipo de vitória que mostra como a divisão de votos pode abrir caminho para um nome menos óbvio.

Outro momento que fez a plateia vibrar foi Noah Wyle levando seu primeiro Emmy como Melhor Ator em Drama, coroando a temporada de The Pitt. Foi simbólico e emocionante. Já Diego Luna sequer foi indicado, uma daquelas injustiças que ficam atravessadas na garganta — ainda mais porque tanto ele quanto Pedro Pascal (The Last of Us) podem não ter novas oportunidades no futuro próximo. Era uma chance única de reconhecê-los, mas Noah pode estar apenas começando sua coleção de Emmys.

Britt Lower finalmente levou seu tão esperado Emmy por Severance, e foi bonito ver a noite se dividir de forma equilibrada entre The Pitt e Severance, as duas que dividem a preferência no campo de Drama, que ficou sob o domínio de Succession até 2024 e estava buscando uma substituta. A série da Apple TV Plus é mais complexa, The Pitt, da HBO MAX é o velho dramalhão hospitalar que sempre funciona. Correndo o risco de soar disco arranhado e chorar por Andor, ao menos o episódio mais importante da temporada final foi reconhecido com o prêmio de melhor roteiro, uma pequena vitória para quem acompanhou a série de perto.

No campo da comédia, não houve mistério: The Studio foi a queridinha da vez. Ganhou Melhor Série, Ator (Seth Rogen) e também prêmios de roteiro e direção. Foi histórico para uma série tão jovem e confirmou que a Apple TV+ sabe lançar sucessos. Mas o resultado soou mais previsível do que emocionante. Hacks manteve seu espaço, com Jean Smart adicionando mais um Emmy à prateleira e Hannah Einbinder entregando o melhor discurso da noite — misto de humor e política, daqueles que param a cerimônia e viram trending topic. Ainda assim, senti falta de ver Only Murders in the Building ser reconhecida. Pelo menos The Studio é, de fato, uma comédia digna de prêmio porque The Bear (um dramalhão) virou piada por estar indicada como comédia e nem Hacks é exatamente cômica (é sobre uma comediante e tem momentos engraçados, mas também é dramática). Ou seja, se é para Only Murders e Abbot Elementary perderem, que seja para uma série abertamente de comédia.

Já nas minisséries, Adolescence fez barba, cabelo e bigode: venceu Melhor Série Limitada, Roteiro, Direção e ainda consagrou o jovem Owen Cooper como o mais novo vencedor da história da categoria de Ator Coadjuvante. Foi um daqueles raros momentos que levantam o público para um aplauso de pé. Azar de Colin Farrell, que ficou pelo caminho — mesmo com uma campanha forte e o sucesso de Pinguim. Ele perdeu para o fenômeno Stephen Graham, que além de atuar, criou a série vencedora. Honestamente, teria sido uma noite perfeita para um empate, mas o peso social de Adolescence é inegavelmente maior do que um vilão da DC. Dito isso, um dos momentos mais lindos da noite foi Kristin Milioti sendo consagrada Melhor Atriz de Drama em Minissérie. Sua performance em Pinguim foi a alma da produção, e seu discurso emocionado será lembrado por muito tempo.

Houve também tropeços. A ausência de clipes das séries e a insistência dos produtores em cronometrar os discursos, oferecendo US$ 1.000 por cada segundo poupado e descontando para cada segundo extra, soou mais como uma piada de mau gosto. O problema nunca foi apenas o tempo dos discursos, mas as piadas longas e repetitivas dos apresentadores. Cortar o desabafo de um ator que está vivendo o maior momento da carreira não é exatamente o melhor jeito de tornar a noite “mais ágil”. E convenhamos, 45 segundos para subir no palco, agradecer e lidar com a emoção é algo limitado. Em tantas décadas de premiação, o roteiro segue sendo o principal entrave para segurar a audiência.

Por isso, quando os créditos subiram, ficou a sensação de que o Emmy 2025 foi competente, correto, mas sem aquele risco que às vezes transforma uma noite em algo inesquecível. The Pitt pode ter levado o troféu de melhor drama, The Studio pode ter reinado na comédia e Adolescence pode ter dominado sua categoria, mas quem ficou de fora foi justamente quem mais empurrou os limites do que a TV pode fazer.

E eu insisto: daqui a alguns anos, vamos olhar para trás e lembrar de Andor como o verdadeiro retrato do que 2025 teve de melhor. Talvez os Emmys de hoje tenham premiado o “drama mais confortável”, mas a história vai corrigir esse pódio.

Os Vencedores:

Melhor Série de Drama
🏆 The Pitt

Melhor Série de Comédia
🏆 The Studio

Melhor Série Limitada ou Antológica
🏆 Adolescence

Melhor Ator em Série de Drama
🏆 Noah Wyle – The Pitt

Melhor Ator em Série de Comédia
🏆 Seth Rogen – The Studio

Melhor Ator em Minissérie ou Antologia
🏆 Stephen Graham – Adolescence

Melhor Atriz em Série de Drama
🏆 Britt Lower – Severance

Melhor Atriz em Série de Comédia
🏆 Jean Smart – Hacks

Melhor Atriz em Minissérie ou Antologia
🏆 Cristin Milioti – The Penguin

Ator Coadjuvante em Série de Drama
🏆 Tramell Tillman – Severance

Ator Coadjuvante em Série de Comédia
🏆 Jeff Hiller – Somebody Somewhere

Ator Coadjuvante em Minissérie ou Antologia
🏆 Owen Cooper – Adolescence

Atriz Coadjuvante em Série de Drama
🏆 Katherine LaNasa – The Pitt

Atriz Coadjuvante em Série de Comédia
🏆 Hannah Einbinder – Hacks

Atriz Coadjuvante em Minissérie ou Antologia
🏆 Erin Doherty – Adolescence

Melhor Reality de Competição
🏆 The Traitors

Melhor Série de Variedades com Roteiro
🏆 Last Week Tonight With John Oliver

Melhor Talk Show
🏆 The Late Show With Stephen Colbert

Melhor Especial de Variedades (Ao Vivo)
🏆 SNL50: The Anniversary Special

Melhor Direção em Série de Drama
🏆 Slow Horses – Episódio “Hello Goodbye”, dirigido por Adam Randall

Melhor Direção em Série de Comédia
🏆 The Studio – Episódio “The Oner”, dirigido por Seth Rogen & Evan Goldberg

Melhor Direção em Série Limitada ou Filme para TV
🏆 Adolescence – dirigido por Philip Barantini

Melhor Roteiro em Série Limitada ou Antologia
🏆 Adolescence – escrito por Jack Thorne & Stephen Graham

Melhor Roteiro em Série de Comédia
🏆 The Studio – Episódio “The Promotion”, escrito por Seth Rogen, Evan Goldberg, Peter Huyck, Alex Gregory & Frida Perez

Melhor Roteiro em Série de Drama
🏆 Andor – Episódio “Welcome to the Rebellion”, escrito por Dan Gilroy

Melhor Roteiro em Série de Variedades
🏆 Last Week Tonight With John Oliver


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