Duas horas de série e Task já abriu uma trilha própria, longe da sombra confortável de Mare of Easttown. Onde Mare espalhava migalhas em torno de um mistério único, Task escancara o tabuleiro cedo: sabemos quem está de cada lado da lei, quem sangra, quem mente, quem ama — e, principalmente, quem não tem mais para onde correr. O jogo aqui não é descobrir o culpado; é medir o quanto cada um aguenta antes de quebrar.
O crime que vira família (e vice-versa)
O roubo que termina em sangue no covil dos Dark Hearts muda tudo. Robbie (Tom Pelphrey) volta para casa com Cliff (Raúl Castillo) em estado de choque e um saco que prometia dinheiro — e entrega doze quilos de fentanil puro. É o tipo de “prêmio” que vale mais que cash e mata mais rápido que culpa. No meio disso, um garoto: Sam (Ben Doherty), o único sobrevivente, agora “hóspede” sem saber que está sequestrado. Robbie improvisa: dá panquecas, inventa uma desculpa para a escola, e se deixa fisgar pelo menino — porque a série é cruel, mas nunca cínica.
Com poucas cenas, Task revela o motor íntimo da vingança de Robbie: o irmão Billy, era um Dark Heart e foi morto sem justiça. De repente, saquear trap houses deixa de ser só sobrevivência; vira ajuste de contas. E a série amarra esse fio ao outro lado da cidade, onde Jayson Wilkes (Sam Keeley, um furacão tatuado) estilhaça cozinha e paciência ao saber que perderam produto, homens e — pior — um menino. A relação com Perry Dorazo (Jamie McShane), o chefão nacional, tem esse ranço de pai e filho que começou no amor e mora na ameaça. “Nosso sangue e cérebro já estão nas paredes por causa desse time”, rosna Perry.

Maeve, o coração na encruzilhada
O segundo episódio é, secretamente, de Maeve (Emilia Jones). É ela quem olha para Sam e reconhece o rosto das manchetes. É ela quem pega um telefone perdido e liga, anônima, para a força-tarefa. É ela quem quase entrega o próprio tio para salvar um menino que nem sabe que precisa ser salvo. A sequência do bloqueio policial, com Sam escondido no porta-malas e as luzes vermelhas e azuis lavando o estacionamento, é a melhor da série até aqui — mais tensa do que o assalto da estreia, porque agora a culpa tem nome, abraço e respira no banco de trás.
E quando Maeve volta para casa, exausta e ainda assim decidida a não largar o garoto, a pergunta que atravessa Task sai como faca: “O que você fez com a gente?”

Tom Brandis: culpa, copo e um discurso de Emmy
Do lado do FBI, a “tarefa” é quase piada. Sede caindo aos pedaços, pista nenhuma, trotes de médium. No meio do caos, um trio se desenha: Aleah (a firmeza silenciosa), Lizzie (o tropeço teimoso) e Anthony Grasso (Fabien Frankel, carisma em modo DJGrassanova, flertando do jeito infantil de quem puxa o cabelo de quem gosta). A química entre Grasso e Lizzie ilumina o que Task faz de melhor: enfia doçura onde qualquer outra série colocaria cinismo.
Mas é Tom (Mark Ruffalo) quem segura o centro gravitacional — e o copo. A casa está rachada: Emily (Silvia Dionicio), a filha adotiva que ainda visita o irmão na prisão; Sara (Phoebe Fox), a biológica, que chega com o bebê e uma fúria que não sabe onde pousar; e Ethan, o ausente que virou presença constante. A verdade enfim é dita sem enfeite: off meds, crise psiquiátrica, um empurrão na escada — Susan (Mireille Enos), esposa de Tom, morta. O jantar vira tribunal, a fé vira silêncio, e Ruffalo entrega um monólogo que pede estatueta: “É fácil falar de perdão quando não é a sua perda… Rezo por resposta, e tudo que recebo é silêncio. Estou perdido.”
De novo: Task não usa o crime como destino, mas como solvente. O que sobra, quando tudo o mais se dissolve, são famílias tentando não se afogar.

Exposição, sim — mas com pulso
“Family Statements” despeja informação? Despeja. MZ, o contato-fantasma que não aparece. O organograma dos Dark Hearts (Jayson em Delco, Perry no topo, Freddy Frias na distribuição na Filadélfia). A possibilidade de um infiltrado.
Ingelsby troca o “quem matou?” pelo “quem aguenta?” e a série ganha alma. O inevitável encontro entre Robbie e Tom ainda não aconteceu, mas Task entende que colisões não são só entre homens armados — são entre versões de si mesmo que não cabem mais no mesmo corpo. Maeve escolhe, Tom desaba, Robbie se agarra ao menino como se pudesse desfazer o passado.
Se a pergunta em Mare era “o que aconteceu?”, a de Task é “o que ainda pode acontecer quando o perdão não vem?”. É por isso que esse segundo episódio pega. Não é apenas sobre fentanil, motoqueiros e FBI: é sobre o custo emocional de seguir adiante quando o caminho foi serrado de ambos os lados. É uma série para os fortes.
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