20 anos depois, novas confissões de Madonna na pista

Sou fã die hard de Madonna desde sempre porque ela faz parte da trilha sonora da minha vida, além de grande influenciadora fashion. Sempre à frente da curva por décadas, nos últimos anos se tornou um tanto irreconhecível, quase literalmente. Sua força nunca esteve em um único campo, mas saber sempre provocar.

Em termos musicais, a Rainha do Pop passou por fases, sem jamais esquecer a pista de dança, que é seu reinado. Trabalhou com produtores lendários, mas acima de tudo deu a oportunidade aos DJs de trabalharem seu som e dentre eles, nenhum chegou aos pés de Stuart Price. Há 25 anos, ele era o parceiro da hora de Madonna e não apenas produziu música nova com ela, resgatou e repaginou clássicos com uma levada moderna. Eu senti falta dele nos últimos quatro albuns da cantora e estou mega feliz com o anúncio de hoje (que, para os seguidores de Madonna não é noviade): em 2026, vão lançar a continuação de seus últimos trabalhos jutos: Confessions on a Dance Floor.

Poucos álbuns na história da música pop têm o poder de sintetizar um momento de reinvenção tão completo quanto Confessions on a Dance Floor. Lançado em 11 de novembro de 2005, ele representou não apenas o décimo álbum de estúdio de Madonna, mas uma espécie de resposta ao mundo. Depois do tom político, denso e contestador de American Life, que a deixou em rota de colisão com o governo Bush e com parte do público americano, Madonna decidiu que era hora de desligar a mente e entregar o corpo à pista de dança. “Estava cansada de política, queria algo para relaxar e me deixar de bom humor”, disse na época. O resultado foi um disco que bebe da disco music dos anos 1970, do electropop dos anos 1980 e do pulso dos clubes dos anos 2000, costurado como um set de DJ contínuo, sem pausas, quase hipnótico. É impossível ouvir sem imaginar luzes estroboscópicas e a sensação de euforia coletiva de uma noite de balada.

A produção de Confessions foi um capítulo à parte. Madonna começou a trabalhar novamente com Mirwais Ahmadzaï, parceiro de Music e American Life, mas decidiu que precisava de uma guinada radical. Entrou em cena Stuart Price, seu diretor musical de turnês, DJ e produtor, que entendeu perfeitamente o que ela queria fazer. Price ajudou a moldar um álbum que soa como um único fôlego — cada faixa emenda na próxima como se fosse uma grande celebração de mais de uma hora. É um disco que homenageia o passado, mas não soa nostálgico: Madonna atualizou a disco, trouxe beats eletrônicos contemporâneos e devolveu para si mesma o posto de rainha das pistas.

Os singles de Confessions se tornaram marcos da carreira. Hung Up, com seu sample ousado de “Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight)” do ABBA, foi um estrondo global, número um em 41 países, um dos maiores sucessos de toda a carreira de Madonna. Sorry manteve o clima disco e dominou as paradas europeias, e Jump e Get Together fecharam o ciclo com força nas pistas, mesmo sem a mesma força comercial nos Estados Unidos. O álbum como um todo foi um triunfo: estreou em primeiro lugar na Billboard 200 com cerca de 350 mil cópias vendidas na primeira semana e chegou ao topo em mais de 40 países, ultrapassando a marca de 10 milhões de cópias globalmente. Era Madonna lembrando ao mundo que ainda sabia — e queria — dominar a cena.

A turnê que acompanhou o álbum, The Confessions Tour, foi um espetáculo teatral, sensorial, dividido em atos temáticos — de equestre a discoteca — e com uma produção visual que deixou a crítica sem fôlego. Ela transformou a turnê em uma missa pagã da dança, com direito a crucifixo de espelhos, coreografias impecáveis e uma setlist que equilibrava os novos hits com os clássicos. Era Madonna em plena forma física, artística e criativa. Para muitos, foi a última vez em que a artista reinou de forma incontestável, com crítica, público e vendas todos alinhados em reverência.

Mas Confessions também foi um ponto de virada. Depois dele, Madonna seguiu produzindo — Hard Candy, MDNA, Rebel Heart, Madame X — mas nenhum desses álbuns teve o mesmo impacto cultural ou comercial. A partir daí, a indústria mudava rapidamente, o streaming fragmentava o público e novas estrelas pop dominavam o espaço. Ao mesmo tempo, Madonna começou a enfrentar um tipo de resistência que poucos artistas homens enfrentam: o etarismo. Em 2015, a BBC Radio 1 foi acusada de excluir seu single Living for Love por considerá-la “velha demais” para a audiência da estação, um episódio que abriu um debate global sobre misoginia e envelhecimento na indústria da música. Madonna sempre foi vocal sobre isso, lembrando que o que se aplaude como “respeitável” quando um homem envelhece — manter-se ativo, ousado, sensual — vira motivo de crítica quando é uma mulher que ocupa esse lugar. Ela se recusa a ser invisível e provoca de propósito, mantendo-se na conversa cultural, mesmo quando incomoda.

E agora, quase vinte anos depois, Madonna está pronta para revisitar o ponto alto de sua carreira dançante. Ela anunciou seu retorno à Warner Records, gravadora que a lançou e onde construiu seus primeiros 25 anos de trajetória, com um novo álbum de dance music — Confessions of a Dance Floor Part 2 — previsto para 2026. O projeto marca também a volta de Stuart Price, parceiro essencial do original, e promete mais uma vez transformar as pistas em confessionários. “Estou feliz por estar reunida com a Warner e ansiosa pelo futuro, fazendo música, surpreendendo e, talvez, provocando algumas conversas necessárias”, disse ao anunciar a novidade. Em seu Instagram, Madonna postou fotos com uma máquina de escrever e escreveu: “De volta à música, de volta à pista de dança, de volta ao lugar onde tudo começou”. É uma promessa e um manifesto.

Confessions on a Dance Floor permanece como o último grande triunfo absoluto de Madonna, uma obra que a consolidou como uma artista que se recusa a envelhecer em silêncio ou a perder relevância sem luta. Se o Part 2 conseguir capturar um pouco dessa energia, não será apenas um retorno às pistas, mas um reencontro da artista com a melhor versão de si mesma — e, talvez, conosco. Madonna nunca foi sobre nostalgia, mas sobre movimento. E se ela está chamando de volta para a pista, o mínimo que podemos fazer é calçar nossos sapatos de dança e atender ao convite.


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