House of Guinness — Recap completo do EP. 02: cinzas, segredos e a conta do poder

Todos os planos bem elaborados dos irmãos Guinness se desfazem com o plano deixado pelo patriarca da família.

O dia seguinte ao incêndio na cooperagem começa com fuligem no chão e pólvora no ar. Sean Rafferty (James Norton), o homem que apaga incêndios — e também acende alguns — quer nomes. “Homens de mau juízo” teriam deixado “homens de mau caráter” entrar na fábrica, e ele sabe que o orgulho operário da Guinness pode ser tão útil quanto qualquer porrete. O “pedido” de delação, anotado em paredes brancas do banheiro erguido “pela bondade” de Benjamin Guinness, mistura disciplina de fábrica, medo e pragmatismo político: católico, Rafferty demarca que o IRA nascente (aqui via Irmandade Republicana Irlandesa) passou do limite. É a Dublin de 1868, onde culpa, fé e lealdade são matérias-primas tão inflamáveis quanto barris de carvalho.

Em paralelo, a leitura do testamento do falecido Sir Benjamin vira o tabuleiro de cabeça para baixo. Há números pornográficos (o equivalente a £162 milhões hoje), terras além do que o filho mais novo imaginava e, sobretudo, uma herança amarrada por ferraduras legais: Arthur (Anthony Boyle) e Edward (Louis Partridge) herdam a cervejaria, mas presos ao mesmo jugo — se um largar o negócio, perde o resto.

Anne (Emily Fairn), por ser casada, recebe migalhas simbólicas; Benjamin Jr. (Fionn O’Shea), notório por bebida e jogo, fica com um estipêndio modesto, para “não ser tentado”. É um arranjo que humilha, divide e, de quebra, anula o acordo que Edward tentara selar antes da leitura: comprar a parte de Arthur para tocar a expansão aos Estados Unidos. Resultado imediato? Ninguém feliz. Anne enxuga o orgulho, Edward fica atônito, Arthur explode na rua, Benjamin corre ao pub — e cai no colo do pior encontro possível: Bonnie Champion (David Wilmot), rei de casas de jogo e de segredos alheios, que propõe um trato para colher “verdades” sobre Arthur.

E segredos, aqui, não faltam. Arthur mantém um romance com Michael (Cassian Bilton), advogado londrino. Havia um plano de fuga para Londres; o testamento o inviabiliza, e Michael recua: não quer viver escondido numa das casas privadas deixadas ao amante — por “saúde”, diz ele; por medo de ruína, lemos nós. Anne, por sua vez, formula o diagnóstico perfeito: “Nosso pai conseguiu legar milhões e, ainda assim, nos deixar infelizes.” O irmão não compra sua queixa sobre ser subestimada por ser mulher — há, entre eles, um ressentimento não nomeado (Rafferty) e, nela, uma vertigem física e moral: fantasia de despedaçar faisões, tirar a roupa, destruir qualquer verniz de “boa filha”. Anne está no limite.

Mesmo assim, a máquina familiar não para. Edward, cada vez mais o CEO intuitivo, atribui tarefas: será preciso casar os irmãos — com precisão cirúrgica. Para ele, uma “prima sensata” que some ao negócio; para Arthur, uma condessa arruinada e avessa a comércio, que o mantenha longe da gestão. Ambos sabem qual é a “complicação” de Arthur. O plano é amoral na superfície e, ainda assim, é o que resta quando honra vira passivo.

Enquanto o salão polido decide futuros matrimoniais, nas entranhas da fábrica Rafferty acorrenta suspeitos e arranca confissões no grito e na dor. Um nome leva a Patrick Cochrane (Seamus O’Hara), incendiário de pub e irmão de Ellen (Niamh McCormack) — cérebro frio do movimento. Rafferty entrega a Patrick uma carta para Ellen, ameaça queimar a casa (blefe com bilhete em gaélico: “Da próxima vez”) e deixa claro o jogo: parem de farejar os segredos dos Guinness. Ellen lê, registra e devolve a munição: outra carta, desta vez mencionando “conhecimento carnal”. Ela sabe exatamente onde apertar.

Edward então conduz Arthur ao subsolo — onde Rafferty o esmaga com fatos: Ellen tem provas do caso com homens; Bonnie conhece (e vende) a mesma verdade. Mais que escândalo moral, é crime. A “solução” de Rafferty: pagar £5.000 a Bonnie e, no Parlamento, adotar “ponto de vista equilibrado” sobre o futuro da Irlanda. Arthur reage com raiva e negação; Edward, saindo dali, faz o que precisa: promete pagar, “trabalhar” o irmão politicamente e, se for útil, ele mesmo falar com Ellen. Antes de ir, marca território: Anne fica fora do alcance de Rafferty. O sorriso curto dele sugere que avisos assim, para ele, valem menos que cinzas ao vento.

Esse segundo episódio põe todas as tramas em movimento. Se no piloto a sexualidade de Arthur era apenas uma sugestão, agora ela é o cerne de uma ameaça que pode destruir os Guinness. O estado mental e físico de Anne se deteriora a olhos vistos. Edward emerge como o verdadeiro estrategista — frio, calculista e talvez o mais perigoso de todos.

O episódio termina com a sensação de que o império Guinness está mais frágil do que nunca. Tramas, tortura, chantagem e coquetéis de gim mantêm a tensão em ebulição. Ellen e Edward podem ser inimigos naturais, mas o magnetismo entre os dois é inegável. Ao subir os créditos, fica a pergunta que paira sobre Dublin: em quanto tempo os herdeiros Guinness vão destruir tudo o que tentam salvar?


Descubra mais sobre

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Deixe um comentário