Não é de hoje que Hollywood revisita seus próprios mitos, e Cliffhanger é um deles. A versão de 2025 chega com Lily James no papel principal — sim, ela mesma, a eterna Lady Rose de Downton Abbey, agora vestindo arnês e cordas para viver uma guia de montanha forçada a enfrentar criminosos nas alturas. A produção tem um ar de legado: não é apenas um remake, mas uma releitura de um clássico de ação que ajudou a redefinir o gênero nos anos 1990. Lily fez parte das escaladas de verdade, e a equipe de dublês prometeu o mesmo nível de perigo que tornou o original uma lenda. Sylvester Stallone, que viveu Gabe Walker em 1993, participa como produtor e consultor, garantindo que a essência seja preservada.

O primeiro Cliffhanger, lançado em 1993 e chamado no Brasil de Risco Total, nasceu em uma época em que o cinema de ação estava no auge de adrenalina, músculos e efeitos práticos. Dirigido por Renny Harlin, o mesmo de Duro de Matar 2, o filme tinha tudo para ser um sucesso: paisagens de tirar o fôlego, heróis traumatizados, vilões caricatos e um pretexto perfeito para sequências impossíveis. A história era simples, mas eficiente: Gabe Walker (Stallone) é um alpinista veterano que carrega uma culpa enorme por ter falhado no resgate de uma colega. Depois de meses afastado, ele é chamado de volta às montanhas para ajudar em um suposto salvamento — mas descobre que é uma emboscada de criminosos tentando recuperar três maletas cheias de dinheiro que caíram de um avião do Tesouro. A partir daí, a narrativa vira uma corrida desesperada pelas montanhas rochosas, com perseguições, lutas em penhascos, tiros, escaladas impossíveis e um Stallone sangrando e sofrendo para sobreviver e salvar quem ama.
O impacto do filme foi imediato. Cliffhanger arrecadou mais de 250 milhões de dólares ao redor do mundo e foi indicado a três Oscars (som, efeitos sonoros e visuais), perdendo para Jurassic Park. Não é pouca coisa para um filme cuja essência era ver um herói pendurado em precipícios. E, de fato, nada superava a experiência de assistir às cenas de escalada na tela grande — o filme foi rodado em grande parte nas Dolomitas, na Itália, e usou montanhas icônicas como o Monte Cristallo e as Tofane. O cenário era tão real que muitas vezes esquecíamos que aquilo era cinema.
Mas o que torna Cliffhanger lendário são os bastidores. O filme entrou para o Guinness por ter o “stunt aéreo mais caro da história”, a famosa cena da tirolesa entre dois aviões em pleno voo. O dublê Simon Crane foi pago cerca de 1 milhão de dólares para executar o feito, que envolvia saltar de um avião a 4.500 metros de altura e “capturar” um cabo para chegar ao outro avião. As aeronaves tinham que voar em velocidade exata — se fossem lentas demais, uma poderia cair em estol; se fossem rápidas demais, o impacto arrancaria o dublê do ar. Foi uma façanha tão arriscada que poucas seguradoras aceitariam cobrir.

Essa ousadia também custou caro. O orçamento original estourou em mais de 40 milhões de dólares, e a produtora Carolco chegou a interromper filmagens por falta de dinheiro. Ainda assim, Harlin e Stallone conseguiram entregar um filme que virou símbolo de uma época. Curiosamente, Stallone admitiu em entrevistas que tinha medo de altura e que aceitou o papel como desafio pessoal — algo que torna cada cena dele pendurado em penhascos ainda mais impressionante.
Por trás da ideia de Cliffhanger estava John Long, um dos nomes mais icônicos da escalada moderna. Long, que fez parte dos “Stonemasters” — grupo de escaladores que revolucionou o esporte nos anos 1970 —, foi o primeiro a escalar em um único dia a lendária via The Nose, no El Capitan, em Yosemite. Além de atleta, é escritor e roteirista, e criou a história original que inspirou o filme, chamada Rogue’s Babylon. O que Long trouxe foi a autenticidade: a sensação de que escalar é, antes de tudo, enfrentar o perigo real, de carne e osso. Essa visão foi traduzida no personagem Gabe Walker, que não é um super-herói invencível, mas um homem que sente medo, se fere e precisa superar a si mesmo para vencer a montanha — e os vilões.
Houve tentativas de continuar a história. Uma sequência chamada Cliffhanger 2: The Dam chegou a ser desenvolvida, colocando Walker em uma batalha contra terroristas na Represa Hoover, mas o projeto morreu na fase de roteiro. E talvez tenha sido melhor assim: Cliffhanger ficou preservado como uma peça única de ação pura, feita na era pré-CGI, quando cada queda e cada salto eram reais — ou pelo menos pareciam ser.
Agora, com Lily James no centro da versão de 2025, a expectativa é ver como o cinema atual vai lidar com esse legado. A tecnologia mudou, o gênero de ação se reinventou, e o público é outro. Mas há algo de atemporal em ver uma figura humana enfrentando uma parede de pedra e lutando contra a gravidade. E se a nova versão mantiver o mesmo senso de perigo, de suor e de risco que o original tinha, Cliffhanger pode encontrar uma nova geração de fãs — que, como nós nos anos 90, vão sair do cinema com a sensação de que olhar para baixo nunca mais será a mesma coisa.
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