Um museu que nasceu para celebrar a moda

Sou grande fã de estilistas e set designers pois sua Arte é uma das mais importantes na narrativa de filmes e séries, ainda mais em histórias reais, de fantasia e de época. Sempre que posso, tento conversar com as mentes criativas que literalmente vestem personagens. Daí minha empolgação com a exposição que celebram os 60 anos de Figurinos Icônicos na Cosprop, uma das casas de figurinos mais importantes do mundo e, sem exagero, uma instituição para o cinema e a TV britânica.

Antes de falar da Cosprop, é importante lembrar que o espaço que a recebe também tem sua própria história de vanguarda. O Fashion and Textile Museum, em Bermondsey, foi fundado em 2003 pela lendária estilista Zandra Rhodes para ser um centro vivo de moda e design têxtil. Nada de vitrines estáticas ou acervo permanente: o museu é dedicado a exposições temporárias, cursos e encontros, funcionando como um espaço de diálogo entre passado, presente e futuro da moda.

O prédio, projetado pelo arquiteto mexicano Ricardo Legorreta, chama atenção pela fachada em blocos de cores vibrantes, quase como uma instalação pop a céu aberto. Receber Costume Couture: Sixty Years of Cosprop parece natural: é uma forma de aproximar o público do processo criativo que transformou roupas em personagens.

O lugar onde Mr. Darcy ganha vida

Visitar a Cosprop é como entrar em uma linha do tempo do audiovisual britânico. No dia em que a jornalista Sarah Bailey do The Guardian esteve lá, viu Jack Lowden experimentando um fraque do século 18 para viver Mr. Darcy na nova adaptação de Orgulho e Preconceito da Netflix, ao lado de Emma Corrin. A cena resume o que é o lugar: um ponto de encontro entre talento, história e imaginação.

Helena Bonham Carter, Ralph Fiennes, Johnny Depp, Dame Judi Dench… a lista de atores que já passaram por lá é interminável. Cada peça que sai da Cosprop é pensada para ser mais do que um figurino: é uma extensão da narrativa, algo que ajuda o intérprete a se transformar no personagem.

Uma história que começou na era da TV em preto e branco

John Bright, hoje com 85 anos, foi ator antes de se tornar figurinista. Percebeu, nos anos 1960, que várias casas de figurino estavam fechando e comprou 400 trajes a preço simbólico. Esse acervo inicial cresceu até se tornar a gigantesca coleção da Cosprop.

Foi também nos anos 1960 que a televisão passou do preto e branco para o colorido – um detalhe que mudou tudo no figurino. “As roupas eram quase todas cinza, às vezes um verde estranho, para funcionar no preto e branco”, relembra Bright. Com o advento da TV em cores, era preciso repensar a paleta. A Cosprop foi pioneira nos testes de cor para a televisão britânica.

Figurinos que viraram ícones

A exposição traz peças que parecem saltar da tela. O icônico casaco vermelho de Alan Rickman em Razão e Sensibilidade (1995), a delicada camisola branca de Helena Bonham Carter em Uma Janela para o Amor (1985) – que rendeu a Bright e Jenny Beavan um Oscar e um Bafta –, e os vestidos de Downton Abbey usados por Maggie Smith estão lá, preservados como obras de arte.

Há também um vestido etéreo criado para Miss Havisham na produção da BBC de Grandes Esperanças (1967), que poderia perfeitamente estar em uma passarela de Simone Rocha. É fascinante ver como esses trajes foram reutilizados ao longo das décadas – lavados, adaptados, envelhecidos artificialmente – e como continuam a contar histórias.

O figurino como primeira camada da narrativa

Para Bright, vestir um ator começa com uma conversa, não com um esboço. É no provador que ele descobre o que funciona – e o que o intérprete rejeita, como o infame “verde venenoso” que atores de teatro mais antigos evitavam. Maggie Smith, por exemplo, não gostava de verde desde uma experiência traumática na infância.

Essa atenção ao detalhe, ao desconforto e às pequenas manias dos atores, é o que transforma a roupa em algo invisível – no bom sentido. Quando o figurino está perfeito, explica Bright, ele desaparece e deixa que o personagem brilhe.

Muito além da nostalgia

A exposição é mais que uma viagem sentimental. Ela é um lembrete de um tempo em que o cinema dependia de pesquisa histórica, de fotos enviadas por correio, de experimentação artesanal – não de referências encontradas no Google ou figurantes criados por CGI. É, acima de tudo, uma celebração do trabalho manual que faz o público acreditar no que vê.

Para os fãs de adaptações de Jane Austen, de Downton Abbey e do cinema de Merchant Ivory, é uma oportunidade única de ver de perto as roupas que definiram o imaginário romântico britânico. E, para quem ama moda, é uma aula sobre como a narrativa pode ser costurada, botão por botão.

Um convite para mergulhar nesse universo

Costume Couture: Sixty Years of Cosprop fica em cartaz no Fashion and Textile Museum em Londres. Se você estiver pela cidade nos próximos meses, inclua a exposição no roteiro: é uma chance de caminhar por corredores de pura história do cinema e ver de perto peças que marcaram personagens e épocas. Uma experiência que vai fazer qualquer fã de figurino – ou de boas histórias – suspirar.


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