Madonna raramente dá entrevistas — e quando o faz, costuma estar lançando discos, filmes ou turnês. Desta vez, no entanto, ao conversar com Jay Shetty no On Purpose Podcast, ela deixou claro: não havia produto a promover. Queria apenas dividir a experiência de quase três décadas de estudo espiritual, principalmente da Kabbalah, e como isso literalmente salvou sua vida. A fala foi crua, vulnerável e, ao mesmo tempo, cheia de ensinamentos.
“Eu não me encaixo. E não me encaixar é o que me salva”.
Madonna

Por que falar agora?
Madonna explicou que sempre foi questionada sobre como conseguiu atravessar tantas perdas, escândalos e pressões sem sucumbir como tantos colegas — de Michael Jackson a Basquiat. Sua resposta é direta: a prática espiritual é a base de sua sobrevivência. Não se trata de religião institucional, mas de um modo de viver em que nada é aleatório: cada desafio traz uma lição.
Eu tinha tudo o que me daria felicidade. Eu tinha uma carreira de sucesso, eu tinha fama, fortuna, coisas monetárias, coisas físicas. Mas não estava feliz.
Madonna
A maternidade como despertar
Ela revelou que só percebeu a urgência de uma vida espiritual ao engravidar de Lourdes (Lola). Até então, acreditava ser movida apenas por ambição e sobrevivência. A chegada da filha a confrontou com uma pergunta: o que eu vou ensinar a ela? Foi nesse momento que mergulhou no estudo da Kabbalah, encontrando no aprendizado não apenas respostas, mas a coragem de se ver como canal de algo maior.


“De repente percebi: vou ser responsável por outro ser humano. O que eu vou ensinar a ela? Percebi que eu não sabia nada. Que eu era uma escrava ou uma vítima das opiniões de outras pessoas sobre mim.
Madonna
Sucesso, luz e limites
Madonna falou sobre como enxerga sua arte: não como posse, mas como canalização. “Não sou dona do meu talento, sou gerente dele. A luz não é minha, eu apenas a transmito.” Para ela, muitos artistas brilham intensamente, mas se queimam por não entender esse limite. Daí sua disciplina: oração antes dos shows, estudo semanal, momentos de introspecção mesmo em turnês.
“Sucesso é ter uma vida espiritual”
Madonna
Sofrimento e pensamentos suicidas
Num dos trechos mais impactantes, ela confessou que já pensou em suicídio durante períodos de dor extrema, como a batalha de custódia de seu filho Rocco. A sensação de abandono — eco da perda precoce da mãe — quase a destruiu. “Eu pensava: não posso aceitar perder um filho.” Foi o estudo espiritual que lhe deu ferramentas para enxergar o sofrimento não como punição, mas como lição.

“Alguém tentando tirar meu filho de mim era como se pudessem me matar. Não conseguia aceitar e me causou muito sofrimento. Me alegra dizer que estou bem com meu filho. Mas realmente pensava que era o fim do mundo”.
Madonna
Aceitação radical e fragilidade
Madonna relatou também sua experiência de quase morte em 2023, quando ficou quatro dias inconsciente por septicemia. O aprendizado foi a aceitação radical: compreender que não se controla o tempo da recuperação, apenas aceitar o processo. Dali surgiram reflexões sobre perdão e até novas canções, como Fragile (sobre o irmão, Christopher, recentemente falecido) e Forgive Yourself, que virão no próximo álbum em 2026.
“Se alguém que você ama profundamente te trai e faz algo que mostra que ele não tem consciência – naquele momento – que fez a escolha de fazer isso [te trair], é realmente difícil de egolir. Não falei com meu irmão por anos, anos e anos. Ele adoeceu e ligou para mim pedindo ajuda. E eu pensei: ‘vou ajudar o meu inimigo?’
[Quando quase morri por sepsis], acordei no hospital e a palavra perdão veio à minha mente, tipo ‘tenho que perdoar as pessoas’. Porque minha mãe apareceu para mim e disse ‘você quer vir comigo?’ E eu disse, não. Quando finalmente acordei, entendi que temos que perdoar os outros, mas também temos que nos perdoar. E parar de nos enganar sobre as escolhas que fizemos no passado que não funcionaram. Assuma a responsabilidade.
Madonna
Perdão como libertação
Assumidamente combativa, Madonna disse que demorou a entender o peso corrosivo do rancor. Perdoar o irmão no leito de morte trouxe-lhe alívio imenso: “Foi como tirar uma carga de toneladas das costas”. A conclusão é clara: perdoar os outros e a si mesmo muda destinos, alivia karmas e abre espaço para a luz.
Redes sociais, comparação e vigilância constante
Ela critica o papel das redes sociais em reforçar a sensação de inadequação. Para Madonna, o treino espiritual hoje é diário: “reconhecer que o vórtice da comparação é uma ilusão” e lembrar-se de que já é suficiente. “É uma conversa constante que você tem com você mesmo”, disse.

O desafio de ser mãe e deixar ir
Madonna descreve a maternidade como seu maior aprendizado em não controlar resultados. Quer que os filhos sejam autênticos, não famosos ou ricos. Reconhece o erro comum de tentar dar a eles tudo o que não teve — e como isso pode matar o desejo. Aprendeu a “dizer nada” e confiar que cada um seguirá o próprio caminho.
“Você não pode ter certeza a menos que você comece com dúvida.”
Madonna
O propósito final
No fim, ela sintetiza: “Meu propósito de alma é revelar a luz no mundo. Seja como artista, mãe, amiga ou líder. Quero muito, mas quero para compartilhar, não para reter.”


Ao abrir sua intimidade espiritual, Madonna desmonta a armadura que por décadas a transformou em ícone indestrutível. Entre confissões de vulnerabilidade, episódios de dor extrema e revelações sobre quase morte, emerge uma mulher que reconhece que o maior ato de rebeldia é não se deixar aprisionar pelo ego, pela comparação ou pelo rancor. Sua mensagem é simples e, ao mesmo tempo, devastadora: a luz não se possui, apenas se transmite. Talvez seja justamente essa consciência — rara em quem chegou tão alto — que explica por que ela continua aqui, desafiando o tempo, o silêncio e a escuridão.
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