Only Murders in the Building: Uma volta ao Passado (Recap ep. 06)

ATENÇÃO: contém spoilers do episódio 6 (Season 5).

Only Murders in the Building entrou de vez no eixo emocional e investigativo da temporada. Depois do choque no episódio 5 — a revelação de que Rainey (Lorraine) e Sofia se conhecem e parecem agir em conluio —, “Flatbush” vira a chave: ser “lar” é tema, espelho e pista. E, como bônus, é o retorno de Loretta (Meryl Streep) em modo arrebatador.

O que faz um lar? Quatro paredes com tudo que você acumulou? Ou o esconderijo das suas memórias?”, pergunta Loretta, enquanto vemos seu pequeno apartamento em chamas após um curto-circuito. Ela bate à porta de Oliver (Martin Short) — que, ironia suprema, ainda tem um lar… por enquanto. Porque aquela oferta tentadora para comprar seu apartamento, aquela mesma carta que ele tentou jogar fora e resgatou do lixo, vai se provar crucial. Guardemos.

Mabel e Charles chegam com o quadro de suspeitos: graças a uma proibição estratégica, o trio não pode falar dos três bilionários que os passaram a perna no episódio 4; restam, portanto, as viúvas. Charles recuperou o celular, mas está distraído com o Last Gasp, aplicativo em que troca mensagens (e fotos peculiares) com uma “Priscilla”. A Detetive Williams aparece para recolher o dedo guardado no freezer de Charles — e descobre-se que o dedo sumiu. Mau sinal.

Enquanto isso, THĒ (a sempre caótica e irresistível presença de Beanie Feldstein) reaparece, e, com ela, imagens do Arconia que deveriam provar sua versão sobre movimentos no 14º andar. O problema? O arquivo foi apagado. Entre ciúmes velhos e alfinetadas novas, Mabel e THĒ reencenam a amizade em ruínas — até que a verdade, teimosamente, cobra espaço e a reconciliação acontece.

Para as viúvas, vamos a Flatbush. Oliver leva Loretta ao bairro onde cresceu e onde vive Rainey. É uma viagem dolorida ao passado: flashbacks de um menino criativo, de cachecol roxo, que não cabia nas expectativas dos pais adotivos (Sue e Al), o bullying, a sensação de inadequação. O roteiro encontra ouro ao colocar tudo isso ao lado do presente: a casa de Rainey está à venda — e isso, em séries como esta, costuma ser sirene de alerta.

Loretta então veste sua melhor persona: Emily Lawler, a detetive com sotaque cajun e uma história de poço e jacaré saída de Law & Order: SVU (daquelas aparições que nunca foram ao ar, mas moram no coração do ator). Brilhando em um trench cintilante, ela invade o quarto interditado ao som de “Vissi d’Arte”. Rainey surge com um punhal (que jura ser o mesmo de Maria Callas na Tosca no MET), e o encontro vira um balé: Loretta compra o punhal e deixa com a viúva, ganha confiança, colhe luto. Rainey confessa que vende a casa porque Lester está em tudo e porque não pode manter o lugar sozinha. Saem dali com a impressão de inocência — até flagrarem Rainey entregando uma bolsa de dinheiro a Sofia. Seguimos.

Entre uma perseguição capenga e outra (com um abaixo-assinado contra o primeiro cassino de Nova York — oi, foreshadowing), Oliver e Loretta entram num teatro de bairro. É o coração do episódio. Ali, Oliver conta como o palco lhe deu, pela primeira vez, a sensação de ser visto. Lembra o papel que não pôde fazer em Oliver!, o figurino usado mesmo assim, a recusa dos pais adotivos em vê-lo. E confessa o dilema atual: a proposta milionária pelo apartamento é real, “Brando tardio” de tão grande, mas o Arconia e o palco são os únicos lugares onde ele foi ele mesmo. Loretta o convence a subir ao palco: ela entrega o monólogo de Emily com graça e precisão, ele sussurra “Hey, Fagin, these sausages are moldy!” — e nós ganhamos uma das cenas mais bonitas da série. Martin Short, gigante silencioso do drama, e Meryl Streep, que dispensa adjetivos, formam aqui uma dupla elétrica.

A verdade sobre as viúvas cai no palco: Rainey dirige a trupe infantil do teatro, e Sofia apenas entrega o “último corte” de Lester (o dinheiro de um negócio misterioso no Arconia) e props para uma montagem de Newsies. Rainey, desarmada, revela que estava no teatro quando o crime aconteceu e que Lester economizava para comprar um apê no Arconia, o sonho dos dois. O caso, portanto, descarta oficialmente as viúvas — e nos empurra de volta aos bilionários.

De volta ao Arconia, a polícia chega com imagens do pátio. Oliver admite para Mabel que vai vender; ela entende — e a cena é doce, triste e adulta. Revendo as imagens, cai a ficha: além de o vídeo da noite do crime também estar adulterado, o logo do Last Gasp é o mesmo da empresa de segurança das câmeras: um pêssego. E quem tem uma corporação com um pêssego no brasão? Bash Steed (Christoph Waltz), um dos “intocáveis” da lista. Para piorar, “Priscilla” manda um recado: “Você é muito espertinho. Agora vou ter que te caçar.” O jogo virou caça ao gato — com o gato já dentro de casa.

Por que “Flatbush” é especial

Porque amarra tema e pista com rara elegância. O episódio pergunta o que é lar enquanto queima um, ameaça vender outro e revela que o sonho de um terceiro era viver no Arconia. Em termos de investigação, fecha um corredor (as viúvas) e abre outro maior (o consórcio bilionário, com Bash à frente e alcance sobre câmeras e dados). Em termos de personagens, dá a Oliver camadas que doem e iluminam; dá a Loretta um retorno com humor e dignidade; dá a Mabel uma trégua com THĒ — ainda que esse arco, confesso, pareça um pouco subcozido perto do peso emocional do resto.

No balanço, “Flatbush” é daqueles capítulos que lembram por que amamos esta série: mistério bem armado, comédia que salva e fere, e humanidade. Se o assunto é lar, então “Flatbush” é sala, cozinha e quarto: acolhe, expõe e prepara a casa para o que vem — e vem coisa grande.

Nota do Miscelana: sim, aquela oferta pelo apartamento do Oliver não é “só” um gancho financeiro. É pista, é armadilha, é espelho. E quando a série coloca pêssegos no caminho, a gente sabe: tem veneno nessa doçura.


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