Como Publicado no Blog do Amaury Jr./Splash UOL
Desde que estreou no Apple TV+, The Reluctant Traveler se tornou uma surpresa entre os programas de viagem. Com Eugene Levy — um viajante assumidamente relutante — à frente, o charme está no contraste entre cenários grandiosos e o olhar cômico, contido e às vezes desconfortável do anfitrião. Mas nenhum episódio da série gerou tanta expectativa quanto o que chega agora: a visita ao Reino Unido, em que Levy encontra o Príncipe William em Windsor Castle.
A expectativa é imensa porque William quase nunca se coloca nesse lugar. Quantas vezes vimos o herdeiro do trono britânico, sozinho, em algo que se aproxima de uma entrevista exclusiva? Talvez seja esta a primeira vez. E ainda que o ambiente seja controlado — sem jornalistas, sem perguntas inesperadas, em um programa de entretenimento —, a emoção transborda tanto de Levy quanto do príncipe quando o tema é família, fama e coroa.

O elo entre os dois surge logo na conversa sobre perdas. Eugene Levy perdeu sua casa nos incêndios da Califórnia. William relembra o incêndio em Windsor, em 1992, e o trauma de assistir às chamas pela televisão aos dez anos de idade. É nesse paralelo improvável — um ator canadense e o futuro rei unidos pela experiência da destruição — que o episódio encontra a sua humanidade. “Não importa se você está em um castelo ou em um bangalô. A dor ainda está lá”, diz Levy, em um dos momentos mais universais da conversa.
A família aparece como centro de tudo. Do avô, ele guarda as risadas: “Às vezes não deliberadamente, às vezes por acidente, mas sempre havia uma calma, uma risada, uma sensação de família”. Da avó, a memória é inseparável do lugar: “Para mim, Windsor é ela”. Ao falar do pai, a vulnerabilidade vem junto: “Eu diria que 2024 foi o ano mais difícil que já tive. Tentar proteger Catherine, os filhos, e ao mesmo tempo apoiar meu pai… mas tem idade o suficiente para cuidar de si mesmo.”
Sobre Catherine, ele é direto e emocionado: “Catherine está em remissão agora. Estou muito orgulhoso da minha esposa e de como ela lidou com tudo.” É uma das raras vezes em que William admite a gravidade de um momento íntimo, expondo a tensão entre seu papel público e a vida privada.
Quanto aos filhos, a fala é de um pai comum, que quase suspira de alívio: “Quando você tem três crianças pequenas, dormir foi uma parte importante da minha vida recentemente.” Ele revela que Charlotte faz balé e netball, George joga futebol, Louis não sai do trampolim. Acrescenta que nenhum deles tem celular: “Sentar e conversar à mesa é muito importante.”

Do irmão, ele só cita o nome uma vez, mas as alusões às dores do passado são constantes: “Espero que não voltemos às práticas do passado, que Harry e eu crescemos.” É uma frase curta, mas carregada de ressentimento e de lições aprendidas. William não menciona diretamente as acusações do irmão, mas ao falar em “minha família” e no limite com a mídia, deixa claro que ainda sente as cicatrizes. “O dano que isso pode causar à vida da sua família é algo que eu jurei nunca permitir.”
E, por fim, a coroa. Quando questionado se pensa no destino de ser rei, William responde: “Eu não acordo de manhã pensando que serei rei. O que importa é ser autêntico, ser eu mesmo. Os papéis não podem possuir você — você precisa possuí-los.” É talvez a frase mais reveladora de todas: um príncipe que tenta conciliar a tradição com a urgência da mudança, sem perder a própria identidade.
No fim, o episódio não entrega confissões explosivas, mas algo mais raro: um William humano, falando de perdas, de amor, de orgulho e de limites. E a constatação de que, sim, em um ambiente controlado, ele se permitiu mostrar muito mais de si do que costuma.
Aqui os trechos mais relevantes.
Sobre William andar de Scooter em Windsor
“Estou sempre atrasado, então pensei que esse seria o jeito de chegar pontualmente às minhas reuniões. Mas ainda assim continuo sempre atrasado. De qualquer forma, veja só: consegui um pneu furado esta manhã, o que é bem engraçado. Então foi por isso que eu estava indo tão devagar na estrada“, explicou.
“Um príncipe em uma scooter. Ele certamente não tem medo de andar conforme os tempos”, comentou Levy.
Sobre ser fã de American Pie
“Basicamente todos os American Pie. Sou daquela geração e assisti com muitos dos meus amigos,” quando Eugene Levy questionou quais filmes viu e com quem.

Sobre ser guia na visita ao Castelo de Windsor
“Normalmente, as minhas visitas guiadas são péssimas. Se quiser saber sobre história? Não sou o cara, aliás.”, brincou
“Como você sabe para onde está indo?”, questionou o ator.
“Eu não sei”, brincou William.
Sobre estudar em Eton College e visitar a Rainha Elizabeth II
“Eu tinha de 13 a 18 anos. Então estava a poucos quilômetros dos meus avós. Às vezes, nos fins de semana, se eu conseguia escapar à noite, quando não havia nada acontecendo, eu vinha aqui, tomava um chá com minha avó — ela tinha os melhores chás de todos. Eu ficava bem alimentado, conversava com ela, via como estava, falávamos de família, às vezes de trabalho, do que estava acontecendo. Na maior parte do tempo, era para contar histórias sobre o que eu andava fazendo“.

Sobre a proximidade e lembranças dos avós
“Meus avós eram de outra geração. Quando eu era mais jovem, era mais difícil ter essa relação próxima porque era tudo muito formal. Mas, conforme eles envelheceram e eu também, a relação ficou cada vez mais calorosa. Minha melhor relação com eles foi quando já estavam com mais de 80, quando relaxaram um pouco. Meu avô era incrivelmente divertido, às vezes não de propósito, às vezes por acidente. Ríamos muito, ele tinha um ótimo senso de humor — como minha avó também, na verdade“, ele lembrou. “Mas meu avô era definitivamente quem mais criava risadas. Eram tempos felizes. Sempre havia uma calma, sempre uma risada, sempre um sentimento de família. E meus avós amavam ter a família por perto. Sempre nos incentivavam a estar aqui“


Sobre fazer piadas para o Príncipe Philip e a Rainha Elizabeth II
“Sim, mas tinha que tomar cuidado com o momento e sobre quem era a piada. Era preciso escolher bem a hora de fazê-los rir“.
Sobre sentir saudades da avó
“Sinto, sim. Sinto falta da minha avó e do meu avô. Muita coisa mudou. Você pensa neles não estando mais aqui e, em especial, estando em Windsor… para mim, Windsor é ela. Ela amava estar aqui, passava a maior parte do tempo aqui. Hoje, ao mostrar Windsor, sinto que estou tentando fazer como ela gostaria que fosse mostrado. Ela tinha cavalos aqui também — era muito importante para ela. É por isso que ela amava tanto esse lugar“.
Sobre os quadros e fotos da Rainha Elizabeth II
“Acho que ela via mais como parte do trabalho, parte do papel — registrar momentos historicamente. E ela preferia ser pintada do que fotografada“.

Sobre as brincadeiras com os primos nos corredores de Windsor Castle
“St. George’s Hall é uma das minhas partes favoritas do castelo. Meus primos e eu, a família toda, brincávamos de correr aqui, inventávamos jogos. Lembro que não havia carpete. Havia lugares em que era preciso ter cuidado porque você podia pegar farpas enormes, já que o piso de madeira era muito antigo. Corríamos, e alguém sempre acabava com uma farpa gigantesca no pé. Agora é mais fácil — meus filhos não percebem a sorte que têm: podem correr sem risco. Às vezes entramos depois do expediente e ainda corremos aqui“.
Sobre a história do Castelo de Windsor ter peso
“Dito assim, parece que eu deveria dizer que sim. Mas não, não é a História que me sobrecarrega. Outras coisas me sobrecarregam, mas não a História. Porque, se você não tomar cuidado, a História pode ser um peso, uma âncora. Pode sufocar, restringir demais. Acho importante viver o aqui e o agora.
E também, se você está preso demais à História, não consegue ter flexibilidade. Fica com medo de mover as peças do tabuleiro, e assim nada muda. E eu gosto de um pouco de mudança”.
“Quero questionar mais. Acho muito importante manter a tradição, porque ela é fundamental. Mas também é importante perguntar: isso ainda faz sentido hoje? É o certo a se fazer? Ainda causa o impacto que deveria? Gosto de questionar essas coisas“.

O que sobrecarrega sua rotina
“Questões de família me sobrecarregam bastante — preocupações, estresse. Isso me afeta. Já em relação ao trabalho, não tanto. Quando eu era mais jovem, sim, às vezes ficava impressionado — “uau, estamos realmente fazendo isso?”. Mas com o tempo você se acomoda e pensa: na verdade, consigo lidar. Agora, quando se trata de família, aí sim fico mais sobrecarregado. Acho que como a maioria das pessoas, porque é mais pessoal, mais ligado a sentimentos, mexe no ritmo da vida”.
Sobre ver o incêndio do Castelo Windsor ao lado da Princesa Diana
“Lembro de estar jantando em Gloucester com minha mãe e ver meu pai na televisão, junto com meus avós, tirando coisas do castelo. Foi um choque ver aquilo ao vivo. Eu tinha 10 anos. Quando você vê na TV, parece um filme — não parece real. Minha avó, meu avô, meu pai e também meus tios estavam aqui. Todos fizeram uma corrente humana para salvar o que fosse possível“.
Sobre o Castelo de Windsor ficar perto do aeroporto
“Não podemos fazer nada a respeito — legalmente, pelo menos. Mas os guias turísticos ouvem umas histórias engraçadas. Certa vez ouvimos — não vou dizer a nacionalidade dos turistas — eles olhando para o castelo: “Uau, este lugar é incrível. Mas por que tiveram que construir o castelo tão perto do aeroporto de Heathrow?” Isso virou a frase número um de turista em Windsor Castle. Sei que meu conhecimento de História é ruim, mas isso é outro nível“, risos.

Como é a rotina de trabalho de um Príncipe?
“Tento seguir os horários escolares o máximo possível. Então, na maioria dos dias, estamos indo e vindo da escola — levar e buscar. Conseguir equilibrar trabalho e vida familiar é muito importante, porque, para mim, a coisa mais importante na minha vida é a família“
Sobre priorizar a família
“Tudo é sobre o futuro. Se você não começar as crianças agora com um lar feliz, saudável e estável, sinto que você as coloca numa situação difícil. Então é garantir que possamos cuidar da nossa família e dos nossos filhos do jeito que achamos melhor para o futuro deles“
“Acho muito importante criar essa atmosfera em casa. Você precisa ter calor, sensação de segurança, proteção, amor — tudo isso tem que estar lá. E isso certamente fez parte da minha infância“, quando questionado sobre a influência da Princesa Diana sobre essa decisão.
“Meus pais se divorciaram quando eu tinha 8 anos, então, sabe, isso durou um período curto de tempo. Mas você pega essa experiência, aprende com ela e tenta garantir que não repita os mesmos erros dos seus pais. Acho que todos tentamos isso. Só quero fazer o melhor para meus filhos, mas sei que o drama e o estresse quando você é pequeno realmente te afetam quando fica mais velho“.

O que faz quando está em casa
“Dormir. Sério. Quando você tem três crianças pequenas, dormir foi uma parte importante da minha vida recentemente. E agora, felizmente, eles estão numa certa idade em que, a menos que estejam doentes, dormem bem — então isso é um alívio. Mas quando você tem três pequenos crescendo e acordando a noite toda, é bem cansativo, como todo pai vai dizer.”
Sobre jantar em família
“Com certeza. Sentar e conversar é muito importante. Nenhuma das nossas crianças tem celular, e somos bem rígidos quanto a isso“
Como George, Charlotte e Louis se divertem?
“Louis ama o trampolim — é obcecado por pular. E, na verdade, a Charlotte também. Pelo que posso dizer, eles acabam saltando no trampolim e “se batendo” a maior parte do tempo. Aparentemente, há uma arte nisso“.
“A Charlotte também faz netball e balé, então mantê-los ocupados com esportes e ao ar livre é muito importante. Eles estão tentando aprender instrumentos musicais — não sei o quão bem estamos indo nisso. O George ama futebol, hóquei“

Sobre a saúde de Catherine e do Rei Charles
“Eles estão bem. Tudo está progredindo na direção certa, o que é uma boa notícia. Mas diria que 2024 foi o ano mais difícil que já tive. Tentar equilibrar proteger os filhos, a Catherine… Meu pai precisa de um pouco de proteção, mas, sabe, ele já é suficientemente velho para cuidar disso também. Mas é importante que minha família se sinta protegida e tenha espaço para processar muita coisa que aconteceu no último ano. E isso foi difícil — tentar fazer isso e continuar trabalhando. Mas, sabe, todos nós temos desafios, e é importante seguir em frente”.
“Eu gosto do meu trabalho, mas às vezes há aspectos — como a mídia, a especulação, a vigilância — que tornam tudo um pouco mais difícil do que outros empregos. E é só garantir que isso não ultrapasse e invada áreas em que você só que um pouco de espaço e um pouco de paz — e você não consegue simplesmente dizer “pausa”.“
“Acho importante, porque se você não tomar cuidado, pode invadir tanto a vida de alguém que começa a desfazer tudo. Crescendo, eu vi isso com meus pais: a mídia era tão insaciável naquela época — difícil imaginar hoje, mas era muito mais insaciável —, queria cada detalhe possível. Estavam em tudo, literalmente em todo lugar. E, se você deixa isso entrar, o dano que pode causar à sua vida familiar é algo que jurei que nunca aconteceria com a minha. Então traço uma linha muito firme sobre onde acho que está esse limite — e quem o ultrapassa, eu vou enfrentar“.
“Mas, ao mesmo tempo, entendo que no meu papel existe interesse. Temos que trabalhar com a mídia; eles estão todos aí. Então é preciso ter uma relação madura com isso também — saber onde está a linha e o que você está disposto a aceitar. Esse foi um dos aspectos mais difíceis do ano, além da própria doença, que é horrível para qualquer pessoa“.

Sobre o impacto da doença e da intrusão nas vidas dos filhos
“Cada um tem seus mecanismos de defesa. E crianças estão sempre aprendendo e se adaptando. Tentamos garantir a segurança e a proteção de que precisam. Somos uma família muito aberta — falamos sobre o que nos incomoda e o que nos preocupa. Mas você nunca sabe bem os efeitos indiretos que isso pode ter. Então é importante estarmos presentes uns para os outros e tranquilizar as crianças de que tudo vai ficar bem.”
“Tínhamos muita sorte — fazia muito tempo que não havia doenças na família. Meus avós viveram até ali, perto dos 90 e tantos; eram a imagem de boa forma, estoicismo, resiliência. Então fomos muito afortunados como família. Mas acho que, quando você percebe que o tapete — o tapete metafórico — pode ser puxado dos seus pés a qualquer momento, muito rápido, você pensa “isso não vai acontecer com a gente, vamos ficar bem. Todo mundo tende a ser positivo — e é preciso ser. Mas quando acontece com você, então sim, isso te leva a lugares não muito bons“.
Sobre ser Rei um dia
“Não é algo em que eu acorde pensando de manhã, porque, para mim, ser autêntico, ser eu mesmo, ser genuíno é o que me guia. Depois você pode anexar os rótulos e papéis que vierem por cima. Mas, se eu não for verdadeiro comigo mesmo e com o que defendo e acredito, então, no fim, não importa quem você é — isso se perde. Levo meus papéis e responsabilidades a sério, mas é importante — como eu disse — que você não sinta que eles te possuem: você tem que possuí-los“.

Sobre o dia que Príncipe George for Rei e a alusão à dor de Harry como o sobressalente
“É uma pergunta interessante — e grande — porque há muita coisa a considerar. Mas, obviamente, quero criar um mundo do qual meu filho se orgulhe do que fazemos; um mundo e um trabalho que realmente impactem a vida das pessoas para melhor. Com a ressalva de que espero que não voltemos a certas práticas do passado, nas quais, você sabe, Harry e eu tivemos que crescer — e farei tudo que puder para que não haja retrocesso nisso.
Sobre o futuro da monarquia
“Acho seguro dizer que mudança está na minha agenda. Mudança para o bem — e eu a abraço e gosto dela. Não a temo. O que me anima é a ideia de poder trazer alguma mudança. Não uma mudança exageradamente radical, mas mudanças que eu acho que precisam acontecer“
“Em geral, sou uma pessoa muito otimista. A vida é feita para nos testar também. E pode ser desafiadora às vezes; conseguir superar é o que nos faz quem somos. Tenho muito orgulho da minha esposa e do meu pai por como lidaram com tudo no ano passado. Meus filhos também lidaram brilhantemente“.
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