Entre as histórias mais perturbadoras que cercam Ed Gein, nenhuma é tão trágica quanto a de Bernice Worden e seu filho, o delegado adjunto Frank Worden. Bernice foi a última vítima confirmada do “Açougueiro de Plainfield”, morta em 16 de novembro de 1957. O que torna esse crime ainda mais cruel é o fato de que coube ao próprio filho, policial local, investigar o desaparecimento da mãe — e, pouco depois, encontrar em Gein o responsável por sua morte.
Naquele dia, Bernice estava sozinha em sua loja de ferragens quando Gein apareceu para comprar anticongelante. Horas depois, a loja estava vazia, com manchas de sangue, e Bernice havia desaparecido. O recibo de venda, assinado por Gein, foi o primeiro elo para o desfecho. Frank Worden, que já desconfiava do comportamento excêntrico do fazendeiro solitário, conduziu a investigação que levou os policiais até a fazenda. Lá, encontrou o corpo de sua mãe de forma macabra, pendurado e mutilado no celeiro — a revelação definitiva de que o “homem estranho, mas inofensivo” escondia horrores inimagináveis.

Por que Ed Gein matou Bernice?
Responder a essa pergunta nunca foi simples. Em alguns interrogatórios, Gein disse que foi um acidente, que a arma disparou sozinha enquanto mostrava a espingarda. Mas a cena do crime — o corpo suspenso, decapitado e aberto como um animal — não deixava margem para dúvidas. Especialistas apontam três fatores principais: a oportunidade de atacar uma mulher sozinha; a projeção de Bernice como substituta inconsciente da mãe, Augusta; e a necessidade macabra de obter pele e órgãos para alimentar sua fantasia de recriar uma “mãe eterna” a partir de fragmentos de outras mulheres.
O assassinato de Bernice não foi apenas mais um crime. Foi o erro fatal que desvendou Ed Gein, revelando ao mundo o monstro escondido no interior de Wisconsin.
De Plainfield para a cultura pop
O impacto desse caso foi imediato e duradouro. Ao entrar na fazenda, os policiais não apenas encontraram Bernice, mas também fragmentos de pelo menos 15 corpos, incluindo restos de Mary Hogan, desaparecida em 1954. Entre ossos, recipientes improvisados e máscaras feitas de pele humana, Gein vivia literalmente cercado pela morte. A polícia ainda encontrou um “traje de mulher” feito de pele, indicando sua obsessão em “tornar-se” sua mãe.
Seus crimes, grotescos até mesmo pelos padrões do true crime, chocaram a sociedade americana dos anos 1950 e ecoaram no imaginário cultural. Inspiraram Norman Bates em Psicose, Leatherface em O Massacre da Serra Elétrica e Buffalo Bill em O Silêncio dos Inocentes. Como observou o escritor Harold Schechter, Gein foi “o primeiro monstro totalmente americano”, deslocando o terror da fantasia europeia para dentro de uma fazenda no coração do país.

A interpretação em Monster
É nesse cruzamento entre crime real e mito cultural que Monster: The Ed Gein Story se ancora. A série não só mostra Bernice como a mulher cuja morte quebrou o silêncio de Plainfield, mas traz à tona o peso emocional do filho que investigou o próprio pesadelo. Frank Worden, vivido por Charlie Hall, emerge como o fio humano da narrativa: um policial que, em cumprimento ao dever, teve de lidar com a dor íntima de encontrar sua mãe assassinada.
Hall, que já havia aparecido na segunda temporada como Craig Cignarelli, amigo de Erik Menendez, agora encara um desafio ainda maior. Sua interpretação revela a intersecção entre luto e dever, transformando Frank em símbolo da devastação que Gein deixou para além dos corpos. Ao recriar esse arco, Ryan Murphy e Ian Brennan não apenas reconstroem o caso policial, mas destacam a dimensão emocional que torna a história ainda mais cruel.
O problema é que a série toma uma liberdade até ofensiva. Por exemplo, o colocam com problemas de bebida após a tragédia, e isso é verdade. Porém o leilão realizado com os objetos de Ed Gein e de sua casa – que existiu não contou com a participação, menos ainda, a aprovação de Worden. Frank Worden não participou do leilão.
Na verdade, ele se manteve completamente afastado de qualquer tentativa de transformar o caso em espetáculo. Frank era filho da vítima Bernice Worden, e embora tenha sido o policial que conduziu a investigação e prendeu Ed Gein, ele jamais quis lucrar ou se envolver em nada relacionado à venda dos bens.

Após a prisão de Gein, Frank permaneceu no departamento do xerife de Plainfield por algum tempo, mas evitava falar publicamente sobre o caso. Há registros de entrevistas curtas e depoimentos nos quais ele demonstrava profunda mágoa com o que considerava uma “indignidade” — tanto a curiosidade mórbida quanto o interesse comercial que o caso despertou.
Quando o leilão foi anunciado, a família Worden e outras famílias locais se manifestaram contra, considerando aquilo um insulto às vítimas. O incêndio que destruiu a casa, na véspera do leilão, foi visto por muitos como um “ato de justiça simbólica” da comunidade, e Frank, segundo relatos da época, não lamentou a perda da casa — ela representava para ele o lugar onde encontrou o corpo da mãe. O próprio Gein, internado em um hospital psiquiátrico, teria dito calmamente quando soube: “Just as well.” (“Melhor assim.”)
O legado de Gein
Apesar de ter confessado apenas dois assassinatos — Mary Hogan e Bernice Worden —, Gein entrou para a história como algo maior do que um simples assassino: um necrofílico obcecado, que se tornou um mito cultural. Classificá-lo como “serial killer” pode ser impreciso, já que, ao contrário de Bundy ou Dahmer, Gein não parecia interessado no ato de matar em si, mas nos corpos que resultavam desse ato. Ele era, como definem estudiosos, um “product killer” — alguém que mata para possuir restos mortais, não para obter prazer no processo.
No fim, a tragédia de Frank e Bernice Worden permanece como o núcleo humano de um caso que se tornou sinônimo de horror moderno. Se os jornais dos anos 1950 trouxeram à tona o “Açougueiro de Plainfield”, foi a dor de um filho e a exposição da insanidade de um homem que transformaram o nome Ed Gein em lenda sombria, eternizada não apenas nos arquivos policiais, mas também nos pesadelos coletivos do cinema e da cultura popular.
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