The Last Frontier abre com tudo: ação, mistério e uma atmosfera de isolamento que só o Alasca pode proporcionar. Desde os primeiros minutos, “Blue Skies” anuncia que não será apenas mais uma história sobre fugitivos e agentes endurecidos — é um suspense sobre confiança, segredos e o abismo moral entre dever e sobrevivência.
A sequência inicial já define o tom. Sob ventos cortantes e uma luz branca quase irreal, vemos uma operação militar de segurança máxima em Eielson Air Force Base. Um prisioneiro enigmático, encapuzado, algemado, é levado para um avião que deveria transportar detentos rumo a Washington. Seu nome é Havlock — ou pelo menos é assim que o chamam — e, mesmo sem mostrar o rosto, ele domina a tela. É o tipo de personagem cuja presença é uma ameaça silenciosa.

O caos se instala em minutos. Uma explosão rasga o casco do avião e o silêncio gelado do Alasca dá lugar a gritos, fumaça e corpos lançados no vazio. Havlock, que conseguiu fabricar uma ferramenta usando o próprio dente, se liberta de suas correntes e transforma o transporte em campo de batalha. A sequência, dirigida com a energia coreográfica de Con Air e a brutalidade de Seven, é obra do especialista em ação Sam Hargrave — o mesmo que realizou as acrobacias mais intensas de Extraction para a Netflix. Hargrave, aliás, é quem veste o capuz de Havlock durante as cenas de zero gravidade, dando à abertura um realismo físico e um impacto visual que o ator Dominic Cooper confessou ter invejado.
Do céu em chamas, o episódio corta para a tranquilidade aparente da cidade de Fairbanks, onde conhecemos Frank Remnick (Jason Clarke), um xerife local tentando equilibrar o trabalho e a vida familiar. É um contraste calculado: Frank prepara uma cabana para a esposa, Sarah (Simone Kessell), e o filho, Luke, quando o chamado chega — um avião caiu no meio da neve. Clarke interpreta Frank com aquele cansaço moral típico dos heróis que já viram demais. Seu tom contido esconde uma urgência quase física.
Com uma equipe improvisada, Frank sobrevoa o local do desastre. A neve engole o horizonte e o silêncio volta a imperar até que um sobrevivente murmura uma palavra que muda tudo: “emboscada”. O que parecia um acidente revela-se uma operação armada. Havlock está solto — e não sozinho. O confronto é rápido, brutal e termina com feridos, entre eles Donnie, parceiro de Frank, que morre pouco depois. A ação, aqui, é menos estilizada e mais tensa, marcada por close-ups e cortes abruptos que aumentam o senso de claustrofobia, mesmo em campo aberto.
Enquanto Frank tenta reorganizar as forças locais, o episódio se desloca para Langley, sede da CIA. Lá, conhecemos a agente Sidney Scofield (Haley Bennett), convocada de volta a um projeto secreto chamado Atwater Protocol. É ela quem carrega a chave para entender o enigma Havlock. O roteiro de Jon Bokenkamp — criador de The Blacklist — usa os diálogos entre Sidney e seu superior para plantar as sementes de uma trama maior: o vilão não é um criminoso comum, mas uma criação da própria Agência.

Em retrospecto, descobrimos que Havlock nasceu como uma operação de contrainteligência. Era o pseudônimo de Levi Hartman, ex-Navy SEAL e professor de matemática recrutado pela CIA para fingir ser um desertor. A missão: atrair traidores reais e exterminá-los. Mas a farsa se tornou realidade. Hartman acreditou no papel que interpretava e decidiu agir contra o sistema que o criou. O resultado é um híbrido entre o assassino de Jason Bourne e o filósofo niilista de O Silêncio dos Inocentes. Como explicou Dominic Cooper, “é um gênio, ex-operativo, matemático, professor… alguém que acredita que o governo merece cair”.
De volta ao Alasca, Frank e Sidney formam uma aliança tensa. Ele, pragmático e protetor; ela, fria e evasiva. A química entre Clarke e Bennett é imediata — mais pelo atrito do que pela confiança. Enquanto tentam entender o que aconteceu, os fugitivos se espalham e o frio extremo se torna um inimigo adicional. As cenas externas são captadas com naturalismo quase documental: o vento constante, o branco infinito e a sensação de isolamento total criam um clima de ameaça silenciosa.
O episódio chega ao clímax quando Frank e Sidney rastreiam um sinal de SOS até a cabana de Zeb Webber, um velho ermitão local. A tensão cresce em silêncio — um suspense puro, no estilo No Country for Old Men. O homem dentro da cabana parece ser Havlock. Os agentes cercam o local. O confronto é rápido, tenso, violento. Mas o golpe final é psicológico: o homem morto não é Havlock. Era uma distração. A verdadeira armadilha já havia sido armada.
Enquanto isso, no hospital de Fairbanks, um agente ferido do acidente recebe cuidados de Sarah. Bandagens cobrem seu rosto. O espectador já percebe o que Frank ainda não sabe: o homem é Havlock disfarçado. A cena da revelação é uma homenagem direta a O Silêncio dos Inocentes — Dominic Cooper retira a bandagem dos olhos em um gesto frio e calculado, enquanto Sarah percebe, tarde demais, o perigo à sua frente. Frank tenta avisá-la, mas o telefone toca quando já é tarde. Ela desaparece.

O episódio termina com Havlock sabotando as torres de comunicação, deixando a cidade isolada, e Frank sendo chantageado. O que começou como uma missão de resgate vira uma guerra pessoal.
“Blue Skies” é uma estreia vigorosa, que combina ação física com camadas políticas e psicológicas. Bokenkamp retoma o gosto pelos jogos de gato e rato de The Blacklist, mas com um realismo mais sombrio. Jason Clarke entrega um herói à beira do colapso, enquanto Dominic Cooper dá vida a um antagonista imprevisível, carismático e assustador. O Alasca, por sua vez, é personagem central: o gelo, a solidão e o silêncio ampliam o sentimento de vulnerabilidade.
Se o episódio inicial é um prenúncio, The Last Frontier não será apenas uma série sobre caçadas — mas sobre o que acontece quando o sistema cria seu próprio monstro. E, como o título sugere, quando a última fronteira não é geográfica, mas moral.
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