Se o primeiro episódio de The Last Frontier apresentou o caos e o perigo físico, “Wind of Change” aprofunda o jogo psicológico — e moral — que está por trás da caçada a Havlock. A estreia mostrou o acidente; agora, o que explode é a confiança. Frank Remnick (Jason Clarke) e Sidney Scofield (Haley Bennett) descobrem que a verdadeira batalha não será travada com armas, mas com informação.
O episódio abre com Frank tentando aparentar controle diante da imprensa. Ainda atordoado pelo sequestro da esposa e pelas ameaças diretas do inimigo, ele tenta passar segurança à população de Fairbanks. É uma cena que resume a essência de Frank: um homem que só funciona quando está no limite, mas que disfarça o medo com rigidez. Jason Clarke trabalha bem esse contraste, misturando autoridade e desespero em gestos contidos e olhares cansados.

Enquanto o xerife tenta manter a cidade sob controle, Sidney recebe uma notícia devastadora em Langley: Havlock invadiu o sistema da CIA e roubou o arquivo Archive 6, um dossiê ultrassecreto com a lista completa das operações letais conduzidas sob o Atwater Protocol. É o equivalente a abrir o cofre da consciência da Agência — o documento que poderia implodir décadas de ações clandestinas. O tom da cena é frio e burocrático, mas o subtexto é claro: Havlock agora controla a verdade, e a verdade é a arma mais perigosa de todas.
De volta ao Alasca, um novo personagem surge: Henry Sickler, um dos fugitivos que misteriosamente se entrega à polícia. Frank desconfia, e com razão. Pouco depois, ele recebe um chamado perturbador — um vizinho afirma ter visto Sarah e Havlock em casa. Ao chegar, Frank encontra uma câmera e um vídeo deixado pelo criminoso. Havlock, sempre calculista, grava um recado direto, quase teatral: quer que Frank liberte o prisioneiro da poltrona 12A do voo — justamente Sickler. Se o entregar até às quatro da tarde em uma estação de bombeamento isolada, Sarah viverá. Caso contrário, nunca mais a verá.
É uma armadilha perfeita: mistura o pessoal e o profissional, obrigando Frank a violar tudo o que acredita. Sidney, pragmática, insiste que ninguém vai sentir falta de Sickler e que é preciso negociar. Frank, porém, hesita — a série transforma o dilema ético em suspense puro, com diálogos secos e enquadramentos que destacam o isolamento de cada personagem.

Entre as idas e vindas do plano, a narrativa intercala flashbacks de Sidney e Havlock antes da queda. Vemos um jovem Levi Hartman — o futuro Havlock — em uma palestra sobre confiança e verdade, já demonstrando o fascínio obsessivo por controle e moralidade. Sidney se aproxima fingindo ser uma executiva corporativa, mas ele a desmascara de imediato: reconhece o padrão da CIA, o vocabulário, o olhar. A cena revela que o jogo entre os dois começou muito antes da catástrofe, e que talvez haja algo de pessoal nessa guerra.
Enquanto isso, Frank mal sabe que seu filho Luke e a namorada, Kira, estão prestes a se colocar em perigo. Os adolescentes deixam a cabana para explorar os arredores e encontram um homem inconsciente na neve — sem saber que se trata de outro fugitivo. A sequência funciona como uma bomba-relógio paralela: o espectador sabe o que eles não sabem, e a montagem alterna o romance juvenil com a tensão mortal, aumentando o suspense.
Havlock, por sua vez, não se contenta em chantagear Frank. Ele telefona para a CIA e fala com a diretora Jacque Bradford, ativando um link misterioso que revela uma contagem regressiva: se ele não digitar um código a cada 72 horas, o conteúdo do Archive 6 será automaticamente enviado para grupos inimigos. É o chamado dead man’s switch, uma espécie de seguro contra sua própria morte. Assim, Havlock torna-se intocável — um fantasma com o poder de destruir a nação com um clique.
Sarah tenta reagir. Há uma breve sequência em que ela tenta escapar, em silêncio, aproveitando o ferimento abdominal de Havlock. Mas o vilão é tão cerebral quanto cruel: a domina novamente e exibe um cool box — uma caixa térmica manchada de sangue, símbolo macabro de seu controle. A direção explora o contraste entre o branco do cenário e o vermelho das marcas, visualizando o tema da série: a pureza da verdade e a mancha da manipulação.

Enquanto decide se deve ou não fazer a troca, Frank busca entender o motivo real por trás da obsessão de Havlock. Sidney explica que ele não quer apenas dinheiro ou poder — quer provar que o governo é uma mentira, que o sistema se alimenta da corrupção que finge combater. E Sickler, o prisioneiro do acordo, é a peça-chave: um intermediário acostumado a lavar dinheiro e a mediar acordos sujos. Havlock precisa dele para vender o Archive 6 no submundo.
Frank resolve agir com astúcia. Organiza uma entrega encenada, tentando inverter o jogo. Mas Havlock está sempre um passo à frente — e a troca não passa de uma distração. O verdadeiro alvo era outro: o gravador de voo do avião caído. Ao interceptá-lo, Havlock garante provas que a CIA jamais gostaria de ver divulgadas. Frank e Sidney chegam tarde demais. O vilão foge com o material, deixando o herói mais uma vez impotente.
No desfecho, a série corta para a cabana onde Luke e Kira continuam alheios ao perigo, dançando sob a luz fraca da lareira enquanto, do lado de fora, o fugitivo desperta. É uma cena de inocência prestes a ser destruída — e de ironia trágica. Simultaneamente, Frank recebe a mesma caixa térmica que Havlock mostrara antes. Sangue fresco. Uma etiqueta: “Para Frank”. O conteúdo, por enquanto, permanece um mistério.

“Wind of Change” mantém o ritmo intenso do piloto, mas adiciona uma camada de paranoia e manipulação. O título, emprestado da balada dos Scorpions, soa irônico: o vento de mudança aqui é um vendaval de mentiras. Jon Bokenkamp volta a explorar seus temas preferidos — duplas de opostos, segredos de Estado, moralidade flexível — com a mesma precisão que marcou The Blacklist, mas agora em um registro mais cru e físico.
Dominic Cooper brilha novamente, construindo um antagonista que mistura inteligência, charme e insanidade. Ele não grita — domina. Jason Clarke, por sua vez, aprofunda o desespero de Frank, que começa a se quebrar sob o peso das perdas. E Haley Bennett ganha nuances: sua Sidney é ao mesmo tempo cúmplice e vítima de um sistema que fabrica monstros para depois fingir que os caça.
Com neve, sangue e silêncio, The Last Frontier continua explorando a fronteira final entre o dever e a ética — e deixa claro que a guerra que importa não está nos céus, mas nas mentes.
Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
