O céu se abre sobre o Alasca e um avião, carregando prisioneiros federais, despenca sobre a vastidão branca, libertando criminosos perigosos em uma das regiões mais inóspitas do planeta. Não, não é uma refilmagem do clássico brega dos anos 1990s, Con Air, reformulado para o Alasca. É uma série nova da Apple TV+: The Last Frontier.

O acidente aqui é apenas o início do pesadelo. No centro da história está o U.S. Marshal Frank Remnick, interpretado por Jason Clarke, um homem acostumado à solidão e à brutalidade de uma terra onde a lei é tão fria quanto o vento que corta o rosto. Isolado, com recursos escassos e um território impossível de controlar, Remnick precisa reagir rapidamente para proteger sua pequena comunidade, caçar fugitivos armados e, sobretudo, compreender o que realmente aconteceu — porque logo fica claro que nada ali foi um simples acidente.

Criada por Jon Bokenkamp (The Blacklist) e Richard D’Ovidio, The Last Frontier aposta em um suspense de ritmo intenso, filmado com a energia de um thriller policial, mas com a alma de um drama de sobrevivência. Cada episódio apresenta um novo fugitivo, um novo perigo, e novas pistas sobre uma trama maior que envolve a CIA, segredos militares e interesses políticos enterrados sob o gelo. Frank Remnick é um herói relutante, um homem em guerra com o ambiente e com ele mesmo, lutando para manter o controle enquanto tudo à sua volta parece desmoronar — literalmente e moralmente.

A escolha do Alasca como cenário não é apenas estética: é fundamental para o tom da série. O isolamento extremo, a vastidão que paradoxalmente se torna claustrofóbica, o silêncio e a sensação de que ninguém virá em seu socorro — tudo contribui para uma atmosfera quase sufocante. Em The Last Frontier, a paisagem é um personagem. A imensidão branca aprisiona tanto quanto liberta, e cada decisão é tomada sob o peso da natureza, que parece observar impassível os dramas humanos. O frio é mais que um elemento visual: é uma presença constante, ameaçadora, que molda o comportamento e o destino dos personagens.

As filmagens, embora ambientadas no Alasca, foram realizadas majoritariamente no Quebec, no Canadá, onde a equipe recriou as condições extremas da região. Foram meses de gravações sob temperaturas negativas, com neve artificial e cenários erguidos para simular tempestades reais. Jason Clarke contou em entrevistas que o desafio era duplo: atuar sob frio intenso e manter a intensidade emocional de um personagem que vive sempre à beira do colapso. Os criadores, que inicialmente haviam imaginado a trama em um ambiente urbano, mudaram completamente o projeto quando decidiram transportá-lo para o norte congelado — uma decisão que trouxe novas camadas à narrativa e exigiu soluções técnicas complexas.

A Apple TV+ encomendou a série diretamente, sem piloto, apostando na força do roteiro e na presença de Clarke. A primeira temporada tem dez episódios, e começa com o acidente que coloca Fairbanks em alerta máximo, emendando com a caçada a um dos fugitivos mais perigosos.

Entre os bastidores, há histórias que já chamam atenção: o episódio de abertura tem uma sequência contínua de seis minutos — um “oner” de ação coordenado pelo especialista Sam Hargrave, de Extraction 2 — que promete ser um dos momentos mais intensos do ano. A produção contou ainda com consultoria de U.S. Marshals reais, garantindo autenticidade nos protocolos e na tensão de cada cena de captura.

Com um elenco que inclui Haley Bennett, Dominic Cooper, Simone Kessell e Alfre Woodard, The Last Frontier promete unir o melhor do thriller conspiratório com a brutalidade emocional de dramas de isolamento. A série nasce de uma pergunta antiga e sempre atual: até onde um homem é capaz de ir para manter a ordem quando o próprio mundo se desintegra ao seu redor?

E talvez essa seja a maior força da produção — mostrar que o verdadeiro terror de estar em um lugar remoto não vem apenas do frio, da neve ou dos inimigos que se aproximam, mas do silêncio absoluto que devolve o eco das próprias escolhas.