A proposta de Chad Powers sempre foi limitada por natureza — e é justamente aí que mora sua força. A farsa impulsiva de Russ, disfarçado de atleta para reconquistar respeito e propósito, parecia algo entre Uma Babá Quase Perfeita e Tootsie, só que no futebol americano. E como nos dois clássicos, sabemos desde o início: a verdade vai aparecer. O mérito do episódio 4th Quarter é transformar esse inevitável em algo divertido, emotivo e curioso.

No futebol americano, “4th quarter” significa “quarto período” — o fim do jogo, o momento decisivo. Quando o relógio corre e tudo pode mudar: vitórias improváveis, erros fatais, viradas e redenções. Fora do campo, é metáfora para a reta final da vida, da carreira ou de qualquer jornada pessoal. Em Chad Powers, o título ganha duplo sentido: o fim de um jogo que não é jogado em campo e o início do “momento decisivo” da vida de Russ — quando ele precisa parar de se esconder atrás da máscara.

Depois de um episódio anterior centrado no esporte, este se arrisca no oposto: não há uma única cena de jogo. Russ passa o episódio sem o disfarce que o transforma em Chad Powers, e o que vemos é o homem por trás da farsa — vulnerável, carente, quase patético.

Sem bola, mas com pressa

A trilha que abre o episódio é O Fantasma da Ópera — uma escolha tão inusitada quanto perfeita. O musical fala de um homem que vive nas sombras, escondendo seu rosto deformado e sua vergonha. Russ é uma versão esportiva do mesmo arquétipo: o Fantasma do Vestiário. A máscara de Chad, feita de látex e ego, está literalmente derretendo — a cola acabou, e junto dela, o disfarce psicológico começa a se soltar.

Os Catfish estão em Knoxville para um jogo fora de casa, presos a regras rígidas, quando Danny comete um erro banal: esquece de fechar a tampa da cola. Sem o material, o disfarce está ameaçado. As alternativas de Russ são simples — pedir ajuda ao pai ou confessar a farsa —, mas ele escolhe a pior: fugir do problema e improvisar.

Começa então uma caçada noturna por cola antes do toque de recolher. O que deveria ser uma missão simples vira uma sequência de situações absurdas: roubo de carro, loja de fantasias, ferimento na mão e um torcedor usando a última cola disponível. É uma comédia de erros que beira o surreal, mas cada tropeço aproxima Russ de um espelho que ele sempre evitou.

Entre a farsa e o espelho

A sequência mais simbólica vem quando Russ vê uma fantasia de Halloween inspirada nele — o “A-Hole Quarterback”. O riso dá lugar ao incômodo: o homem que um dia foi herói virou piada. E quando ele e Danny discutem no pronto-socorro, as máscaras emocionais também caem. As ofensas são duras, mas necessárias. Danny o abandona, e pela primeira vez, Russ fica verdadeiramente sozinho.

Ferido e exausto, ele hesita em ligar para o pai — uma ferida aberta que a série trata com delicadeza. Em vez disso, recorre a um truque: roubar cola cirúrgica para manter a farsa viva por mais um pouco. É aí que encontra Ricky no hotel. Ela o reconhece, mas o trata com empatia. Russ, tocado, retribui com um conselho que ele mesmo não consegue seguir: “faça as pazes com seu pai.”

Quando os técnicos se aproximam para o check-in, Danny assume o papel de Chad, salvando o disfarce mais uma vez. Juntos, passam a noite refazendo a máscara — e, de certo modo, reconstruindo uma amizade.

A máscara vai cair?

Na manhã seguinte, Ricky segue o conselho e se reconcilia com o pai — o treinador do time —, espelhando a relação que Russ ainda teme enfrentar. No ônibus, após a vitória, Russ e Danny dormem lado a lado, as cabeças encostadas. A imagem diz tudo: dois homens, duas máscaras, e a esperança de que uma delas — talvez as duas — finalmente caia.

Mas Chad Powers nunca deixa a tranquilidade durar muito. Ricky lê nos jornais esportivos sobre o “desaparecimento de Russ Holliday”, que estava no mesmo hotel que os Catfish. Ela começa a ligar os pontos. A dúvida paira: quando a verdade vier à tona, Russ estará pronto para ser ele mesmo?