Loot — Temporada 3: Rindo dos Ricos e Sentindo com Eles

Molly Wells pode até estar perdida, mas Loot não está. Três temporadas depois, a comédia estrelada por Maya Rudolph continua com fôlego, ritmo e uma precisão rara entre o absurdo e o afeto. Os dois primeiros episódios mostram que, mesmo quando a série parece flutuar sem uma grande trama central, ela ainda acerta no essencial: ser espirituosa, generosa e deliciosamente debochada sobre o 1% mais rico do planeta.

O naufrágio que vira retiro espiritual (com mordomo e coqueiro)

A estreia, “Bye-Bye Mode”, começa exatamente onde paramos: Molly e Nicholas (Joel Kim Booster, cada vez mais afiado) a bordo de um jato particular, fugindo de Los Angeles. O que vem depois é uma das melhores aberturas da série — uma “queda” numa ilha tropical que logo se revela uma encenação armada por Nicholas para tirar Molly da fossa.

Claro que, como toda bilionária de comédia, Molly é tão rica que nem sabia que a ilha era dela. Há empregados escondidos, resorts camuflados e um plano de “cura emocional” que acaba virando um estudo sobre como o privilégio mascara até o sofrimento. Entre cocos, falsos naufrágios e um bilionário nudista dono da metade da ilha (que passa o dia untando os móveis com óleo de coco), a série faz humor físico de primeira, mas sem perder de vista o emocional.

É ali, entre as palmeiras e os delírios, que Molly se reconecta consigo mesma — e com Arthur (Nat Faxon), em um reencontro doce e promissor.

Amor, controle e uma corrente de ouro

O segundo episódio, “Would Hit”, mergulha na tentativa de Molly e Arthur de ajustar o romance à rotina, enquanto Nicholas, sempre controlador, entrega a Arthur um manual de sobrevivência amorosa — literalmente um fichário com as preferências de Molly. O resultado é tão previsível quanto hilário: o plano sai pela culatra, incluindo um desastre quase fatal com uma corrente de ouro.

É nesse caos afetivo que Molly aprende a retomar o controle de sua própria vida. A série brilha justamente nesses momentos: quando a sátira dá espaço para um gesto genuíno de empatia, amizade ou vulnerabilidade. E Rudolph, como sempre, domina esse equilíbrio.

Sofia, Howard e a nova energia da temporada

Outro acerto é o destaque dado a Sofia (Michaela Jaé Rodriguez) e Howard (Ron Funches), especialmente com a chegada de Destiny (X Mayo), a irmã explosiva de Sofia. Essa nova dinâmica traz um frescor inesperado — vemos lados mais humanos e frágeis de personagens que antes orbitavam Molly.

Entre gafes de bilionários, terapia emocional com champanhe e amizades disfuncionais, Loot continua sendo uma comédia sobre pessoas muito ricas tentando ser pessoas de verdade. E funciona porque há ternura sob o brilho, vulnerabilidade sob a sátira.

Entre o deboche e o coração

Sem uma grande história unificadora ainda, Loot se apoia na força de seus personagens e no timing perfeito de seu elenco. O humor continua ágil, o texto afiado, e a crítica social — elegante.

Talvez a série nunca precise de um “grande arco” para se sustentar: basta seguir rindo dos excessos e sentindo com quem ainda não aprendeu o que é “ter tudo”.


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