Saiba quais joias foram roubadas do Louvre — e as histórias por trás de cada uma

O que aconteceu no Louvre na manhã de 19 de outubro de 2025 parecia saído de um roteiro de cinema. Em menos de sete minutos, quatro pessoas mascaradas invadiram a Galerie d’Apollon, uma das salas mais célebres do museu e lar das joias da coroa francesa.

A ação foi rápida, precisa e silenciosa — e o resultado, devastador. Foram levadas oito peças históricas, algumas com mais de dois séculos de história, que contam não apenas a trajetória de impérios e rainhas, mas também a evolução da arte joalheira francesa.

O valor? Oficialmente “inestimável”. Na prática, impossível de calcular — porque o que se perdeu vai muito além de pedras preciosas.

As Safiras da Rainha Marie-Amélie e de Hortense de Beauharnais

O primeiro golpe foi contra um dos conjuntos mais icônicos do acervo: as safiras da Rainha Marie-Amélie, esposa de Luís Filipe I, e da Rainha Hortense de Beauharnais, enteada de Napoleão Bonaparte.
Feito no início do século XIX, o conjunto representava o gosto neoclássico do período napoleônico e a habilidade incomparável dos joalheiros franceses. As safiras azuis, lapidadas em molduras de ouro e diamantes, simbolizavam serenidade, poder e fé — virtudes que a realeza gostava de exibir.

Entre as peças levadas estavam:

  • A tiara de safiras, um dos símbolos da corte de Orléans.
  • O colar correspondente, usado em retratos oficiais.
  • Um dos brincos originais, com lapidação oval perfeita.

Essas joias sobreviveram à Revolução de 1848 e à venda dos tesouros reais no fim do Segundo Império. No Louvre, eram parte do relato de uma França que oscilou entre monarquia e república. Agora, restam apenas as vitrines vazias — e a sensação de que um pedaço dessa história desapareceu mais uma vez.

As Esmeraldas da Imperatriz Marie-Louise, presente de Napoleão

Em 1810, Napoleão I casou-se com Marie-Louise de Habsburgo-Lorena, arquiduquesa da Áustria, em uma união política pensada para consolidar alianças e legitimar o império. Como prova de afeto (e propaganda), ele mandou confeccionar um conjunto de esmeraldas e diamantes.

O colar e os brincos — criados pela Maison Nitot, antecessora da Chaumet — foram um presente de casamento que representava, literalmente, o poder imperial: o verde das esmeraldas evocava esperança, fertilidade e prosperidade.

As duas peças foram roubadas inteiras.
O colar, com dezenas de esmeraldas calibradas, e o par de brincos com molduras de ouro branco e diamantes de lapidação antiga.
São obras-primas de ourivesaria — e também fragmentos de uma era em que o luxo era uma linguagem política.

No mercado negro, o conjunto poderia valer dezenas de milhões de euros, mas o verdadeiro valor é simbólico: cada pedra carrega o eco de uma imperatriz e de um império que quis eternizar-se na beleza.

A Tiara e os Broches da Imperatriz Eugénie de Montijo

Símbolo máximo da elegância do Segundo Império, Eugénie de Montijo, esposa de Napoleão III, foi uma das mulheres mais retratadas e admiradas do século XIX.
Para ela, foram criadas algumas das joias mais espetaculares da história francesa — verdadeiros exercícios de arte e poder.

Os ladrões levaram três peças ligadas à imperatriz:

  • A tiara de diamantes e esmeraldas, feita em 1855, que coroava retratos oficiais e bailes de Estado;
  • O grande broche em forma de laço (“bodice knot”), símbolo de sofisticação e feminilidade;
  • O broche-reliquiário, uma joia de uso mais íntimo, onde ela guardava pequenos retratos e lembranças pessoais.

Cada uma dessas obras era um retrato tridimensional do século XIX: da Paris de Haussmann, da opulência de um império que queria rivalizar com os Habsburgo e os Romanov, da mulher que transformou moda em política.
O roubo, neste caso, não é apenas de valor material, mas de memória estética — uma ferida no imaginário francês.

A Coroa da Imperatriz Eugénie (Recuperada)

Entre o horror e o alívio, a Coroa da Imperatriz Eugénie foi parcialmente salva.
Cravejada com 1.354 diamantes e 56 esmeraldas, a peça foi encontrada danificada nas margens do Sena, após ter sido abandonada durante a fuga.
Criada também em 1855, ela era uma das joias mais emblemáticas do acervo do Louvre — mesmo sem nunca ter sido usada numa coroação formal.

Seu valor histórico é incalculável: é uma das raras coroas imperiais sobreviventes à destruição e ao exílio dos monarcas franceses.
A imagem da coroa quebrada, com pedras soltas e ouro retorcido, é quase uma metáfora: mesmo quando sobrevive, o símbolo do império está ferido.

O preço do inestimável

As autoridades francesas evitam colocar valores em cifras, mas estimam que, somadas, as peças roubadas poderiam ultrapassar €80 milhões se fossem vendidas em leilão — algo praticamente impossível, dada a rastreabilidade e a notoriedade de cada item.
Essas joias são inalienáveis: pertencem não apenas à França, mas à história da arte.

O roubo do Louvre de 2025 não é apenas o crime de um século, mas também um lembrete do quanto o passado continua vulnerável.
Cada pedra arrancada carrega um eco — de rainhas, impérios e artistas — e, ao desaparecer, deixa o mesmo vazio de quando a história é apagada.


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