Quem me acompanha aqui no Miscelana sabe que, em geral, sou simpática a muitas séries. Mas as que têm argumento raso, repetitivo ou partem de um conceito questionável (sim, Shrinking, estou falando de você) me irritam profundamente. Loot está rapidamente se juntando a essa categoria. A série estrelada por Maya Rudolph inexplicavelmente chegou à terceira temporada e, no meio dela, ainda está parada no mesmo lugar.
O conceito inicial era promissor: brincar com a hipocrisia — uma das minhas maiores críticas às celebridades contemporâneas — de bilionários desconectados da realidade, que vivem uma vida de filantropia fake. Há uma lista infinita de pessoas que ganham fortunas não apenas para dizer o óbvio, mas para ditar regras sobre como “salvar o planeta” e “ajudar os necessitados” sem realmente abrirem mão de nada. Nesse cenário, Molly Wells está em casa. O problema é que a série, que poderia ser uma sátira afiada sobre essa elite performática, está perdendo o foco e o fôlego.

Há falhas enormes de narrativa na bilionária de boas intenções — reflexo das próprias pessoas que critica. Desde o início, fica claro que Molly não nasceu rica; seu primo, de origem mais simples, escancara essa diferença. Por isso, soa forçado o quanto ela parece ignorar a vida real de quem não é bilionário. Seria bem mais divertido vê-la tropeçar para manter o discurso altruísta, sofrendo para abrir mão das facilidades que o casamento e o divórcio trouxeram. Porque, vale lembrar: ela é bilionária por divórcio, não por mérito.
Três temporadas depois, Molly segue dizendo que vai doar “toda” sua fortuna para o bem comum — mas ainda não acertou um único investimento relevante. A trama gira mais em torno de suas tentativas amorosas e da eterna luta para ser levada a sério, o que torna tudo repetitivo. A boa intenção, sozinha, já cansou.
O melhor personagem continua sendo Nicholas, o assistente arrogante e obcecado por imagem, que embarca nas loucuras de Molly, mas é quem mantém viva a ilusão de que ela está realmente fazendo algo. Sofia, a chefe da ONG que deveria ser o núcleo mais crítico da série, também tinha um arco promissor — principalmente com o romance divertido da segunda temporada —, mas agora está escanteada, amarga e sem propósito.

No terceiro episódio, um vídeo de deep fake com Molly viraliza e ameaça a reputação da ONG. A solução? Viajar para a Inglaterra, onde ela será premiada como filantropa — ainda que, na prática, não tenha feito nada “premiável”. O episódio tenta satirizar a pompa britânica, mas entrega mais do mesmo: humor previsível e um discurso que já perdeu o frescor.
Assim, Loot — título que ironiza a “riqueza saqueada” de um divórcio milionário, metáfora para a fortuna e a autodescoberta pós-separação — está presa em um loop sem inspiração.
Ainda torço para que a série encontre algo novo a dizer. Até lá, sigo flertando com o hate watching.
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