Em um ano de grandes clássicos como O Lago dos Cisnes e O Corsário, a versatilidade da companhia de balé do Theatro Municipal do Rio de Janeiro está em cartaz com um espetáculo que une intensidade, cor e emoção: Frida,
Criado e coreografado pelo brasileiro Reginaldo Oliveira, o balé estreou na América Latina em 25 de outubro, com apresentações até 31 de outubro, celebrando a vida e a obra da icônica pintora Frida Kahlo.
O balé não segue uma estrutura tradicional de narrativa e não é uma biografia ilustrada, mas um autorretrato dançado. Inspirado nas obras, cartas e escritos da artista, o espetáculo é dividido em quadros coreográficos que revelam as múltiplas faces de Frida: a mulher, a amante, a militante, a filha, a pintora, a sobrevivente.

Reginaldo Oliveira constrói o espetáculo como se cada cena fosse uma tela viva, em que o corpo dos bailarinos substitui o pincel e a cor. O enredo se desenvolve em torno da luta entre dor e criação, mostrando Frida entre o corpo ferido e a alma livre — um corpo que, mesmo marcado por acidentes, cirurgias e limitações físicas, se torna o instrumento da expressão mais profunda.
A dramaturgia acompanha momentos-chave da vida de Frida Kahlo, do acidente de bonde que a deixou imobilizada e a levou à pintura, seu relacionamento turbulento com Diego Rivera, retratado com paixão e raiva em duetos intensos, também a descoberta de si mesma como mulher e artista, simbolizada pela “segunda Frida” — um alter ego que dialoga com ela no palco, como em seus autorretratos e as viagens, as perdas e os renascimentos, expressos em solos e danças coletivas que mesclam realismo e surrealismo.
Mais do que contar fatos, o balé busca sentir Frida: sua ironia, sua solidão, sua coragem e, sobretudo, sua vulnerabilidade. As bailarinas principais (Márcia Jaqueline e Claudia Mota) alternam-se entre a Frida “real” e a Frida “pintada”, mostrando a fusão entre a mulher e sua arte — entre a carne e o mito.
A trilha sonora, com canções mexicanas como La Llorona e La Zandunga, serve como fio emocional que costura o espetáculo, evocando a ancestralidade e o espírito popular que permeiam o universo da artista. As cores — vermelho, azul, verde — e a cenografia inspirada nos quadros de Kahlo (espelhos, camas, flores, espinhos) reforçam a sensação de estar dentro de uma de suas pinturas.
Com o Ballet do Theatro Municipal, o espetáculo conta com supervisão artística de Hélio Bejani e Jorge Texeira, direção geral de Hélio Bejani, e direção, concepção e coreografia de Reginaldo Oliveira — que retorna ao Brasil após uma premiada carreira internacional à frente do Salzburg Landestheater, na Áustria.
“O que mais me interessa em Frida é sua personalidade, não suas enfermidades. Ela nunca deixou que suas limitações definissem sua vida. Quero contar a história dessa lutadora, inspirada em sua arte e em seus escritos”, explica Reginaldo Oliveira.

A mulher por trás da lenda
Frida Kahlo ganha corpo e alma em uma criação que explora a vulnerabilidade e a força da artista. Em intensa pesquisa e ensaios laboratoriais, Oliveira e o elenco mergulham nas contradições que fizeram de Frida um símbolo de liberdade e resistência.
“Frida é sinônimo de coragem e liberdade. Contar sua vida é uma experiência transformadora”, diz Márcia Jaqueline.
A popularidade de Frida Kahlo vai além dos museus — sua imagem se tornou símbolo global de autenticidade e ousadia. Agora, sua história se reinventa no palco do Theatro Municipal, unindo o balé contemporâneo à tradição clássica da companhia.
“Trazer um balé contemporâneo como Frida ao nosso palco é garantir diversidade cultural e homenagear uma mulher que inspira gerações”, afirma Clara Paulino, presidente da Fundação Teatro Municipal.
Para o diretor do Ballet, Hélio Bejani, a montagem é também um desafio técnico e emocional para o elenco:
“É uma oportunidade de sair da zona de conforto do balé clássico e mostrar a versatilidade de nossos bailarinos.”
Sobre o criador
Reginaldo Oliveira iniciou sua formação em dança no Rio, sob orientação de Jorge Texeira. Estudou no Bolshoi, em Moscou, e integrou o Ballet do Theatro Municipal, onde foi solista. Desde 2017, é diretor de balé do Salzburger Landestheater, assinando produções como Otelo, Anna Kariênina e A Bela Adormecida. Em 2016, recebeu o título de Coreógrafo do Ano pela revista alemã Tanz.
A temporada vai até o dia 31 de outubro, às 19h. A próxima produção será o tradicional O Quebra-Nozes, que sempre volta na época do Natal.
Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
