Only Murders: O Designer da Arconia Revela os Segredos dos Bastidores

Como publicado na Revista Bravo!


Nova York sempre foi uma cidade de contrastes — arranha-céus modernos ao lado de brownstones centenários, glamour à mostra e segredos escondidos atrás de portas comuns. Não é à toa que uma série como Only Murders in the Building se apoia nesse imaginário, sugerindo que um edifício de luxo poderia esconder um cassino clandestino em seu subsolo. Mas será que isso poderia acontecer de verdade?


Uma Cidade Construída Sobre Histórias Escondidas

No século 19, Nova York era movida a cavalos. Prédios de elite e brownstonescostumavam ter cocheiras e estábulos internos, muitos deles no subsolo. Com a chegada dos automóveis, entre 1900 e 1920, esses espaços foram convertidos em garagens, áreas de serviço, depósitos — e às vezes até residências. No Upper West Side, em construções grandiosas como o The Belnord (a inspiração real para o fictício Arconia), essa transformação foi parte natural da vida urbana.


E então vem o fascínio dos cassinos ilegais. Registros históricos confirmam que Nova York já teve milhares de pontos de jogo clandestinos, especialmente nas décadas de 1920 e 1930. Esses locais secretos funcionavam atrás de portas discretas, dentro de apartamentos ou clubes privados, com entrada controlada e senhas para acesso. Durante a Lei Seca, os porões também abrigaram speakeasies, reforçando a associação da cidade com espaços escondidos e prazeres proibidos.


Não há evidências concretas de que as antigas cocheiras tenham sido transformadas em cassinos de forma generalizada — essa parte pode ser mais lenda urbana do que fato histórico. Mas o mito tem seu poder. A ideia de que o mesmo espaço que um dia abrigou cavalos ou carros de luxo poderia se tornar palco de jogadas milionárias é irresistível para roteiristas e contadores de histórias.


Por isso Only Murders in the Building acerta em cheio ao imaginar um cassino secreto escondido nos porões da Arconia. A série se conecta com a verdadeira história de Nova York, cheia de espaços ocultos, clubes ilícitos e sussurros atrás de portas trancadas — o cenário perfeito para um crime e, claro, para um podcast.


Do Apthorp ao Belnord: As Inspirações Reais


Para quem já viveu no Upper West Side, caminhar por essas ruas é um sonho arquitetônico. Vários prédios da Era Dourada ainda estão de pé, reescrevendo suas histórias a cada geração. Quando Only Murders in the Building estreou sua primeira temporada, eu tinha certeza de que era inspirado no The Apthorp— o icônico edifício residencial que ocupa um quarteirão inteiro entre as ruas 78 e 79.

O Apthorp, projetado por Clinton & Russell para William Waldorf Astor, foi construído entre 1906 e 1908 e é um marco histórico da cidade. Seu grande pátio interno é lendário — Nora Ephron escreveu sobre como se apaixonou por ele à primeira vista, dizendo que o prédio a “resgatou” no momento mais difícil de sua vida adulta.

Mas eu estava enganada. A série é filmada na fachada e no interior do The Belnord, outro ícone da Era Dourada, localizado na 86th Street. Assim como o Apthorp, o Belnord já foi lar de celebridades — Lee Strasberg, Walter Matthau — e era considerado um local quase impossível de conseguir para gravações. O showrunner John Hoffman contou ao The New York Times: “Eu era obcecado. É um clichê dizer que o prédio é um personagem, mas o que me interessa é explorar como nos conectamos quando vivemos nesses espaços.”


E há também o Ansonia — um edifício de 17 andares a poucos quarteirões dali, com uma história tão dramática quanto fascinante. Construído pelo excêntrico milionário William Earl Dodge Stokes, o Ansonia foi originalmente projetado para ser o hotel residencial mais grandioso de Manhattan, com salão de baile, banhos turcos e até uma horta no telhado. Ao longo das décadas, foi palco de escândalos, crimes e até de um clube de swing — exatamente o tipo de passado colorido que faria Mabel, Oliver e Charles pegarem seus microfones.


Os segredos confessos da 5ª temporada


Toda essa riqueza histórica faz com que a Arconia pareça ainda mais viva. E é aí que entra o homem responsável por manter seus corredores fictícios cheios de camadas e segredos: o set designer Patrick Howe. Para entender como esse “personagem” é criado, conversamos com ele e o set designer que assumiu a partir da segunda temporada e é responsável por manter a magia de Only Murders in the Building viva a cada episódio.


Nesta entrevista, Patrick conta como chegou à série, os desafios de manter os cenários interessantes e verossímeis, as inspirações para a Arconia e os apartamentos dos personagens, e revela detalhes curiosos de bastidores — incluindo como foi trabalhar com Meryl Streep e criar o cassino subterrâneo que marcou a última temporada. Claro, falamos também da verdadeira casa de O Poderoso Chefão que está na série nessa temporada.


Bravo: Patrick, como você entrou para o time de Only Murders in the Building?
Patrick:
 O normal procurando o próximo trabalho e havia uma abertura começando na segunda temporada porque o desenhador original não estava disponível para continuar e isso aconteceu assim, eu conhecia muitas pessoas do show já, mas eu passei pelo processo de entrevista regular e como outros desenhadores e a oferta finalmente veio para mim, eu acho que outras pessoas Alguém pode ter desligado e outros não conseguiram, mas eu consegui passar pelo processo de entrevista normal, então eu acho que eu disse as coisas certas no momento certo para ser escolhido, e desde aquele momento em diante, tudo está funcionando maravilhosamente. E eu estava assistindo o show. Havia alguns episódios da primeira temporada que já tinham saído, então eu estava assistindo para me acostumar com isso. E foi o primeiro show que eu tinha visto há muito tempo e que eu estava realmente gostando — o humor, a natureza calorosa, a excentricidade de Nova York. Eu já era fã desse show, e não é comum que você possa trabalhar em algo que também gosta de assistir. Então foi um ganho-ganho, e eu venho jogando com ele desde então.


Bravo: O prédio é praticamente o protagonista. Quais os maiores desafios em dar vida à Arconia?
Patrick: O desafio é manter os espaços frescos e interessantes, mas ainda fazer com que pareçam pertencer àquele prédio. Você sabe, a pele dele nunca mudou desde a construção original de 1907. É preciso criar variedade, mas respeitando o tamanho, o padrão das janelas, a estrutura que já existe. É um exercício de plausibilidade. E, para ser honesto, quando consegui o trabalho não imaginei o quanto o prédio seria importante para a narrativa. Em outros shows, o design está lá, mas não é um ponto de história. Aqui, tudo é sobre o prédio — e isso foi muito divertido de descobrir.

Bravo: A Arconia é inspirada em prédios reais?
Patrick: Sim. Há quatro ou cinco prédios muito semelhantes, todos projetados no mesmo período no sudoeste de Nova York. Na época, era um novo tipo de apartamento, quase um “quartel central” para a classe média. Fiz pesquisa sobre o Ansonia, o Dakota, o Belnord e outros, e acabei criando uma colagem de elementos: o layout de um prédio, os ornamentos de outro, e assim construímos o nosso mundo.

Bravo: E como é ver que o prédio se tornou ponto turístico para fãs?
Patrick: É incrível! Toda vez que vamos filmar, há pessoas lá tirando fotos e selfies. O prédio ganhou vida própria desde que entrou para a história.

Bravo: Cada apartamento reflete muito o personagem que vive nele. Como funciona esse processo? Você conversa com os atores?
Patrick: Tenho bastante liberdade criativa. Normalmente não falamos com os atores — é uma questão logística. Minhas conversas são principalmente com o showrunner. Mas tivemos casos especiais: quando criei o apartamento da Meryl Streep na terceira temporada, deu tempo de ela visitar o set dias antes das filmagens. Ela fez pequenas observações, que incorporamos, e ficou muito feliz com o resultado. Foi um privilégio poder ajustar o cenário para ela.

Bravo: Você criou espaços icônicos como o cassino subterrâneo e a “Casa do Poderoso Chefão” [a verdadeira, usada no filme de Coppola e que é a casa do mafioso morto na série Only Murders In the Building]. Qual foi o mais desafiador?
Patrick:
 O cassino foi o mais complicado, pela escala. Eu sabia que haveria cenas de ação lá, então desenhei com muita flexibilidade, prevendo entradas e saídas para que funcionasse para o que quer que fosse escrito. Já a “Casa do Poderoso Chefão Deus” foi uma transformação divertida: era uma casa real, mas precisávamos deixá-la sombria e ameaçadora, bem diferente do interior moderno que encontramos. Cada set tem seu desafio, mas o cassino foi o mais divertido de construir.

Bravo: Os fãs amam os Easter Eggs da série. Eles estão mesmo espalhados pelos cenários? E tem alguma dica de quem é o assassino ou assassina da temporada?
Patrick: Sim, estão lá. Alguns são vistos pelo público, outros só são notados pelos atores. Há referências a Renée Zellweger, Richard Kind… mas você precisa olhar com atenção para encontrá-los.


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