Highlander: 40 anos do filme que desafiou o tempo

Em 2026, Highlander completa 40 anos. O filme que começou como uma fantasia sombria e acabou virando culto é, até hoje, uma das produções mais fascinantes da cultura pop dos anos 1980 — não apenas pelo seu enredo sobre imortalidade, mas também pela força estética, o impacto da trilha sonora e a presença inconfundível da banda Queen, que transformou a melancolia do roteiro em pura poesia.

A origem de uma lenda

Tudo começou com um roteiro universitário escrito por Gregory Widen, impactado por Os Duelistas, de Ridley Scott, que imaginou a história de um homem condenado a viver para sempre, testemunhando a passagem do tempo e a morte de todos que amava. A ideia evoluiu para um épico moderno sobre guerreiros imortais que atravessam séculos duelando entre si até restar apenas um. Assim nascia Connor MacLeod, o imortal das Terras Altas da Escócia, que aprenderia que viver para sempre também significa perder tudo — inclusive o sentido da própria vida.

Dirigido por Russell Mulcahy, que vinha do universo dos videoclipes e trazia um olhar visual ousado, Highlander uniu o passado medieval e o presente caótico de Nova York em uma narrativa que misturava fantasia, romance, ação e tragédia. A frase “There can be only one” se tornou um mantra. E o tema da imortalidade — com toda a solidão, amor e peso que ela carrega — atravessou gerações.

A história

A trama apresenta Connor MacLeod, um guerreiro escocês do século 16 que descobre ser imortal após sobreviver a uma batalha fatal. Banido por “bruxaria”, ele vaga pelo mundo por séculos até chegar à Nova York dos anos 1980, vivendo sob a identidade de Russell Nash. Orientado por seu mentor, o extravagante e sábio Ramírez (Sean Connery), Connor entende que o destino dos imortais é lutar entre si até restar apenas um — o que receberá “o Prêmio”.

Seu maior inimigo é Kurgan (Clancy Brown), um guerreiro brutal que atravessa eras deixando um rastro de morte. O embate final entre eles — nas alturas do Silvercup Studios — é um dos momentos mais icônicos da cultura pop, sintetizando o tom operático e romântico que define o filme.

Do fracasso à eternidade

Na época do lançamento, em 1986, Highlander não foi um sucesso. O público americano não entendeu bem o tom do filme: era fantasia? ação? romance trágico? Um pouco de tudo — e talvez esse tenha sido o segredo. Fora dos Estados Unidos, especialmente na Europa, o longa encontrou um público apaixonado. Com o tempo, o que parecia um fracasso virou um fenômeno cult.

Hoje, Highlander é celebrado pela ousadia estética, pela mistura improvável de elementos e pela sua trilha sonora — que nasceu de uma parceria tão improvável quanto mágica.

Queen e a alma do filme

Quando a banda Queen foi convidada a participar da trilha, cada integrante se apaixonou por uma cena diferente e decidiu compor individualmente. Brian May, inspirado pela sequência em que Connor observa sua amada envelhecer e morrer, escreveu Who Wants to Live Forever — talvez a canção mais melancólica já feita sobre o preço da eternidade.

A música de Queen dá ao filme uma dimensão emocional que vai muito além da tela: o que poderia ser apenas uma fantasia de espadas e trovões se transforma em uma reflexão sobre o amor, o tempo e a finitude. O tema de abertura, Princes of the Universe, tornou-se um hino dos anos 1980, assim como o álbum A Kind of Magic, que nasceu diretamente desse projeto.

A trilha instrumental de Michael Kamen complementa o universo com uma grandiosidade épica, criando uma fusão rara entre o sinfônico e o rock — a essência de Highlander.

O peso do culto

Com o passar das décadas, Highlander deixou de ser um filme isolado e virou uma mitologia. Gerou continuações, séries, animações e incontáveis referências na cultura pop. Nem todas as sequências tiveram a mesma força do original, mas o mito persistiu. O público continuou repetindo a frase “só pode haver um” como quem invoca uma lembrança afetiva de uma era de excessos e sonhos impossíveis.

Visualmente, Highlander também é um registro precioso dos anos 1980: o estilo de videoclipe, os cortes rápidos, a fotografia saturada e o tom quase teatral do elenco transformaram o filme em um marco estético que influenciou toda uma geração de diretores de fantasia e ação.

A nova era: Henry Cavill e o retorno dos imortais

Quatro décadas depois, Highlander está prestes a renascer. O diretor Chad Stahelski, da franquia John Wick, está à frente de um reboot que promete unir a mitologia original ao estilo moderno de ação coreografada. Henry Cavill, confirmado como o novo Connor MacLeod, declarou que o projeto é o seu principal foco e que será o papel mais desafiador da carreira.

Embora ele ainda não tenha falado diretamente sobre a trilha sonora, Stahelski confirmou que as músicas do Queen voltarão de alguma forma — “provavelmente de um jeito que o público não espera”, segundo o diretor. A produção passou por adiamentos por conta de uma lesão de Cavill, e as filmagens foram reagendadas para 2026, justamente no ano em que o filme original completa 40 anos. O lançamento está previsto para 2027.

A ideia é reviver o espírito do primeiro Highlander — a fusão entre o épico e o humano —, respeitando a aura trágica e poética que fez do filme de 1986 uma obra eterna. Russell Crowe já foi anuncaido como Ramirez e Dave Bautista será Kurgan. O que os fãs sonham é que Clancy Brown e Christopher Lambert sejam homenageados de alguma forma com alguma aparição da refilmagem.

O legado

Highlander é, acima de tudo, um filme sobre o tempo — sobre o que permanece quando tudo passa. É o tipo de história que mistura fantasia e filosofia, espada e silêncio. Quarenta anos depois, o filme ainda provoca a mesma pergunta que ecoava na voz de Freddie Mercury: quem quer viver para sempre?

E talvez a resposta esteja justamente ali: nas imagens que resistem, nas canções que continuam a nos emocionar e nos personagens que, mesmo imortais, nos lembram da beleza — e da dor — de sermos humanos.


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