Queen e Stranger Things: o peso de viver para sempre

Poucas canções traduzem com tanta melancolia o dilema humano entre o desejo de durar e o preço da perda quanto Who Wants to Live Forever, do Queen. Escrita por Brian May em 1985, quando escrevia a trilha sonora do filme e assistiu a uma cena de Highlander em que o imortal Connor MacLeod observa sua amada envelhecer e morrer, a música nasceu como um grito contido diante da impossibilidade de deter o tempo. É sobre o amor que morre, sobre o instante que se perde — e sobre a solidão de permanecer.

Agora, quase quarenta anos depois, a canção ressurge com uma força renovada no trailer final de Stranger Things 5, lançado em outubro de 2025. Em meio a cenas de caos e colapso, os primeiros acordes ecoam como um presságio. O contraste é intenso: a suavidade da voz de Freddie Mercury, a orquestra trágica e a pergunta que atravessa décadas — “Who wants to live forever?” — enfrentam as imagens de um Hawkins devastado e de personagens que há anos lutam contra forças que parecem imortais.

Quando o tempo se fecha sobre Hawkins

A escolha da música é mais do que estética: é narrativa. Desde o início, Stranger Things sempre lidou com a nostalgia dos anos 1980, mas, nesta despedida, a trilha não é apenas um aceno ao passado — é um comentário sobre o fim. O “para sempre” que embalou os fãs da série, agora, se transforma em um eco trágico. O eterno pesa.

Enquanto os personagens de Stranger Things enfrentam o retorno do mal e a destruição iminente, a letra de Who Wants to Live Forever ganha novo significado. “When love must die”, canta Mercury, e é impossível não pensar em tudo que foi perdido desde a primeira temporada: amizades, inocência, e a sensação de que o tempo poderia ser revertido. Viver para sempre, no universo de Hawkins, não é bênção — é condenação. E sim, estamos com medo de quem não vai sobreviver.

A beleza da finitude

Brian May escreveu a canção refletindo sobre a morte e o amor, sobre o que realmente faz a vida valer. Essa mesma tensão está no centro da temporada final. Entre monstros e despedidas, a série parece perguntar o mesmo: o que resta quando o tempo nos tira tudo?

O uso da música no trailer cria uma costura emocional rara. Quando a melodia cresce, vemos rostos conhecidos marcados pelo medo e pela coragem. A suavidade de Mercury encontra o desespero de Eleven, de Hopper, de Joyce. O épico e o íntimo se fundem. O eterno e o efêmero se abraçam — e o resultado é devastador.

Uma despedida com alma

É também uma homenagem. A série que sempre celebrou os anos 1980 agora se despede com uma canção que nasceu naquele tempo e permanece eterna — ironicamente, porque fala da impossibilidade de ser eterno. “Forever is our today”, diz um dos versos. E talvez essa seja a mensagem final de Stranger Things: o sempre está no agora, nos vínculos criados, na emoção compartilhada.

O trailer é um lembrete de que cada história precisa acabar — e é nesse fim que reside a beleza. A eternidade, como May já sabia, não tem sentido sem amor. E Stranger Things parece saber o mesmo.


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