Em março de 2026, Maggie Gyllenhaal vai reviver um dos mitos mais fascinantes e trágicos do cinema: A Noiva de Frankenstein. Seu novo filme, The Bride!, tem estreia marcada para 6 de março de 2026, com Jessie Buckley no papel da criatura e Christian Bale como o Monstro. Ambientado na Chicago dos anos 1930, o longa imagina o instante em que o Monstro pede ao Dr. Euphronius — vivido por Annette Bening — que crie uma companheira para ele. O resultado é a ressurreição de uma mulher assassinada, que renasce como “A Noiva”, acendendo uma revolução de amor, medo e transformação social.

O filme marca a segunda direção de Gyllenhaal, que repete a parceria com Buckley iniciada em The Lost Daughter (2021), e traz ainda Peter Sarsgaard, Penélope Cruz, Jake Gyllenhaal, Julianne Hough e John Magaro em um elenco que mistura o grotesco e o glamouroso. Filmado em Nova York, com orçamento de US$ 80 milhões, o projeto nasceu de uma antiga ideia da diretora de recontar o clássico sob um olhar feminino e contemporâneo — menos sobre o medo da criação, mais sobre o preço de ser criada.
“É uma história sobre o corpo, o poder e o amor. Sobre o que acontece quando uma mulher percebe que foi feita para servir — e decide reescrever seu próprio destino”, resumiu Gyllenhaal durante a apresentação do filme na CinemaCon 2025.
A nova onda Frankenstein
Gyllenhaal não está sozinha nessa ressurreição cinematográfica. 2025 e 2026 marcam uma verdadeira “onda Frankenstein” em Hollywood. Enquanto a Warner Bros. prepara The Bride!, Guillermo del Toro finaliza sua versão de Frankenstein para a Netflix, com Jacob Elordi como o Monstro, Oscar Isaac como Victor Frankenstein e Mia Goth como Elizabeth. Previsto para chegar aos cinemas em novembro antes de estrear no streaming, o filme de Del Toro promete seguir uma abordagem fiel ao espírito literário de Mary Shelley, com ênfase na dor da consciência e na poesia da monstruosidade.

E nos bastidores, a Universal Pictures — dona dos direitos dos clássicos originais — estuda como retomar seu catálogo de monstros. Depois de abortar o ambicioso Dark Universe em 2020 (quando Angelina Jolie seria a Noiva e Javier Bardem o Monstro), o estúdio voltou-se a reboots mais autorais e econômicos, como O Homem Invisível (2020) e o novo O Lobisomem de Leigh Whannell, em produção.
Tudo isso compõe um panorama fascinante: noventa anos depois, a criatura de Mary Shelley volta a ocupar o centro do imaginário pop — e a Noiva, que nasceu para ser coadjuvante, enfim ganha voz própria.
1935 — O nascimento de um ícone
Quando A Noiva de Frankenstein estreou em 1935, o mundo ainda ecoava os medos da modernidade e o fascínio pela ciência. O filme foi o primeiro grande sucesso a transformar o horror em poesia trágica. Dirigido por James Whale, continuação direta de Frankenstein (1931), a produção parte exatamente do ponto em que o original termina: o moinho em chamas, o Monstro supostamente morto e um cientista assombrado por sua criação.
Mas Whale, que não queria repetir a fórmula, decidiu fazer algo inédito — um filme de horror com humor, ironia e melancolia. O roteiro, assinado por William J. Hurlbut, incorporava um episódio do romance de Mary Shelley em que o Monstro exige uma companheira. Essa ideia tornou-se o eixo moral da história: o ser rejeitado pedindo amor e encontrando, de novo, rejeição.

Boris Karloff, no papel do Monstro, agora falava. Sua voz infantil e triste humanizava a criatura. Colin Clive, como Henry Frankenstein, oscilava entre arrependimento e vaidade, e Ernest Thesiger, como o manipulador Dr. Pretorius, introduzia um toque de humor camp e ambiguidade sexual que tornaria o filme revolucionário para sua época.
E então há ela — Elsa Lanchester — interpretando duplamente Mary Shelley, no prólogo literário, e a Noiva, no clímax. Em poucos minutos de tela, ela criou uma das imagens mais duradouras da história do cinema: o cabelo ereto com faixas brancas, o olhar de espanto, o grito que se tornou eco eterno. Sua Noiva rejeita o Monstro e sela o destino dos dois com uma frase devastadora: “Ela me odeia, como todos os outros.”
A criação da Noiva
Nos bastidores, o filme foi um feito técnico e artístico. O maquiador Jack Pierce redesenhou o Monstro para mostrar as queimaduras do incêndio e criou, junto com Whale, o penteado inspirado em Nefertiti. A trilha sonora de Franz Waxman trouxe três temas distintos — um para o Monstro, um para a Noiva e um para Pretorius — e termina com um acorde dissonante que explode junto ao laboratório.
As filmagens, iniciadas em janeiro de 1935, foram turbulentas: Karloff quebrou o quadril, Clive fraturou a perna e o orçamento estourou em mais de 100 mil dólares. Whale regravou o final — originalmente Henry morria — para deixá-lo vivo e entregar o corte final dias antes da estreia.
A consagração
A Noiva de Frankenstein estreou em 19 de abril de 1935, em São Francisco, e entrou em circuito no dia seguinte. Custou US$ 397 mil e rendeu US$ 2 milhões até 1943, um lucro impressionante.
A crítica reconheceu o feito imediatamente. Variety chamou-o de “um triunfo técnico e artístico”. Time destacou a “vitalidade” e o “pathos mecânico” da narrativa. Karloff foi elogiado pela ternura do Monstro; Thesiger, pela perfídia de Pretorius; e Lanchester, pela dupla atuação que transformava o horror em elegância.

O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Som e, com o tempo, virou sinônimo de excelência no gênero. Em 1998, foi incluído no National Film Registry da Biblioteca do Congresso americano como obra “cultural, histórica e esteticamente significativa”. Críticos como Roger Ebert e revistas como Time, Empire e Entertainment Weekly o consagraram como um dos melhores filmes de todos os tempos — e um dos raros casos em que uma sequência supera o original.
A Noiva eterna
A imagem de Elsa Lanchester como a Noiva tornou-se parte do DNA da Universal Studios. Desde os anos 1940, ela aparece ao lado de Drácula, O Lobisomem, A Múmia, A Criatura da Lagoa Negra e O Monstro de Frankenstein nos cartazes, brinquedos e campanhas oficiais. O cabelo eletrizado e o vestido branco de bandagens atravessaram gerações, reaparecendo em fantasias de Halloween, colecionáveis, quadrinhos, videoclipes e até desfiles de moda.
Nas décadas seguintes, a personagem renasceu diversas vezes: Jane Seymour em Frankenstein: The True Story (1973); Jennifer Beals, ao lado de Sting, em The Bride (1985); e Helena Bonham Carter como a trágica companheira de Robert De Niro em Mary Shelley’s Frankenstein (1994), de Kenneth Branagh. Mesmo quando não é nomeada, sua presença se insinua — de The Rocky Horror Picture Show a Corpse Bride e The Nightmare Before Christmas, sua silhueta paira sobre a cultura pop.


Hoje, a Universal mantém sua imagem viva em merchandising, moda gótica e coleções de terror. Ela é tão reconhecível quanto o próprio Frankenstein — um paradoxo delicioso para uma personagem que mal viveu dez minutos em cena.
O futuro da criatura
Com Gyllenhaal, Buckley e Bale à frente de The Bride! e com Del Toro prestes a lançar sua própria versão do mito, 2025–2026 sinalizam um renascimento do horror clássico sob perspectivas modernas.

Não é apenas uma coincidência: é um retorno à origem — à história escrita por Mary Shelley em 1818, quando uma jovem de 18 anos ousou imaginar um homem criando vida e sofrendo as consequências.
Noventa anos depois do filme de James Whale, a Noiva volta à luz — desta vez não como coadjuvante, mas como protagonista de sua própria criação. Se em 1935 ela nasceu para amar e foi rejeitada, em 2026 ela renasce para existir por si.

E isso talvez seja o mais belo dos paradoxos: uma criatura feita de pedaços humanos que se torna, enfim, símbolo de autonomia e eternidade.
A Noiva nunca morreu — apenas esperava o próximo raio.
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