The Witcher 4: Nem Laurence Fishburne salva a queda da série

A quarta temporada de The Witcher — a primeira sem Henry Cavill — demorou a chegar ao streaming, e a espera só reforçou uma sensação incômoda: a de que a série que começou com tanto fôlego e ambição perdeu seu próprio norte. Não, o problema não é Liam Hemsworth — que até se esforça no papel de Geralt de Rivia —, mas sim uma combinação desastrosa de roteiro fragmentado, excesso de tramas paralelas e uma produção que parece ter encolhido justamente onde deveria crescer. Os cenários, os figurinos e os efeitos visuais ficam aquém da promessa de fantasia épica e, em vários momentos, a série escorrega no cafona e no involuntariamente cômico.

Raramente sou tão dura, mas The Witcher 4 pede franqueza: a queda já vinha sendo sentida mesmo com Cavill no elenco, e agora se consolida. O universo continua rico, os personagens seguem interessantes no papel, mas o que se vê em tela é uma colagem sem ritmo, uma tentativa de colar as partes de um quebra-cabeça que perdeu peças.

Geralt volta marcado por novas cicatrizes — físicas e emocionais —, mas falta-lhe o magnetismo silencioso que Cavill havia construído. Hemsworth entrega um Geralt mais leve, quase cansado, e por isso menos icônico. Yennefer, interpretada pela sempre intensa Anya Chalotra, carrega o peso político e emocional da narrativa, mas o roteiro a prende em diálogos explicativos que pouco fazem avançar a história. Já Ciri, vivida por Freya Allan, é quem realmente evolui: longe dos mentores, mais feral e autônoma, torna-se o coração trágico e promissor da temporada — uma anti-princesa em fuga, moldada pela culpa e pelo destino.

Mas nem a chegada de Laurence Fishburne como Regis salva. Nos livros de Andrzej Sapkowski, Regis é um dos personagens mais fascinantes: um vampiro sábio, moralmente complexo, que representa o contraponto ético de Geralt. Fishburne parecia uma escolha ideal — um ator com presença, profundidade e voz capazes de carregar um mito. Só que a série o desperdiça em participações breves, filmadas sem brilho, quase decorativas. Ele aparece e desaparece sem deixar impacto, como se a própria direção não soubesse o que fazer com tamanho talento. Quando até Laurence Fishburne soa deslocado, fica claro que o problema não é o elenco — é a falta de coesão criativa que contamina toda a produção.

A trama tenta costurar o caos: guerras se multiplicam, alianças se quebram, monstros e magos competem pela tela. O tom político ganha força, mas o coração da série — o vínculo entre Geralt, Ciri e Yennefer — perde espaço para intrigas desconexas. O resultado é uma temporada que quer ser adulta e densa, mas termina arrastada e confusa. Há boas ideias e momentos de impacto, sim, mas nenhum deles resiste ao excesso de exposição, à montagem irregular e à sensação de que tudo é improviso.

Críticos internacionais confirmam a divisão. Alguns chamaram esta de “a melhor temporada desde a primeira”, destacando o esforço em reorganizar a mitologia. Outros, mais severos, classificaram como “o golpe final de uma série que esqueceu o que a tornava especial”. A comparação com produções contemporâneas como House of the Dragon e The Rings of Power é inevitável — e desfavorável. The Witcher, que um dia parecia capaz de rivalizar com elas, agora parece uma imitação de si mesma.

Confirmada a quinta temporada como a última, a esperança é que a despedida recupere um pouco da alma que se perdeu pelo caminho. Porque, por enquanto, The Witcher 4 é o retrato melancólico de uma série que já foi grande — e que, mesmo cercada de monstros, magia e Laurence Fishburne, sucumbiu ao seu maior inimigo: a falta de direção.


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