Emily in Paris e o fim do escapismo

Quando Emily in Paris estreou em 2020, no auge da pandemia, parecia feita sob medida para o momento. O mundo trancado em casa, e uma americana sortuda desembarcando na capital francesa com roupas incríveis, um trabalho dos sonhos e um tempero de comédia romântica old school. O escapismo era bem-vindo, e a série oferecia exatamente isso: uma fantasia cor-de-rosa de Darren Star, o mesmo criador de Sex and The City, onde a realidade é uma sugestão e o drama cabe numa bolsa Chanel.

Emily Cooper (Lily Collins) é a típica protagonista de conto de fadas moderno: jovem, ambiciosa, vinda de Chicago, sem falar francês, mas convencida de que consegue vender qualquer ideia com hashtags e sorrisos. Entra de paraquedas na sofisticada agência Savoir e, entre gafes culturais, festas em coberturas e romances improváveis, vira uma caricatura deliciosa da turista que nunca se adapta — mas tampouco quer. A Paris de Emily não é real. É um palco, um sonho. E talvez por isso tanta gente tenha amado — ou odiado — a série com igual intensidade.

De cara, Emily in Paris dividiu opiniões. Para alguns, é puro charme e escapismo; para outros, um desfile de superficialidade, onde o figurino importa mais que o roteiro. Lily Collins entende o jogo — ela interpreta Emily com uma leveza quase consciente da falta de profundidade da trama, o que a torna irresistivelmente “assistível”. E é impossível negar: cada temporada gera mais memes e debates de moda do que reflexões sobre a vida.

O problema é que o fiapo de história — e o eterno triângulo amoroso entre Emily, Gabriel e Camille — se esgotou há tempos. A série parece refém de sua própria indecisão: quantos desentendimentos serão necessários até Emily se decidir pelo vizinho/chef complicado? A resposta, aparentemente, é mais alguns. E agora, nem isso vai acontecer em Paris.

Na quinta temporada, que estreia em 18 de dezembro na Netflix, Emily troca a Cidade Luz pela Cidade Eterna. Roma entra em cena como novo cenário, com Darren Star prometendo “uma história de duas cidades: Paris e Roma”. Na prática, é uma tentativa de manter a série viva e provar que a fórmula ainda tem fôlego — novos figurinos, novos flertes, novas fachadas icônicas para selfies. Emily vai abrir o novo escritório da Agence Grateau, tentar equilibrar carreira e coração, e, claro, reencontrar o caos que carrega dentro de si.

O elenco principal retorna — Lily Collins, Ashley Park, Philippine Leroy-Beaulieu, Lucas Bravo — com novidades como Minnie Driver, que entra no universo de Sylvie. E há também um novo interesse amoroso: Marcello (Eugenio Franceschini), um charme italiano que promete tirar Emily de “modo férias” e fazê-la amadurecer um pouco, segundo a própria Lily Collins. Resta saber se é dessa vez.

Mas a verdade é que Emily in Paris nunca foi sobre amadurecimento. Foi sobre sonhar — com sapatos, rooftops e amores impossíveis. Em 2020, isso era bálsamo. Em 2025, parece uma lembrança de outro tempo. Ainda assim, há algo de hipnótico em ver Emily insistir: seguir mudando de cidade, de emprego, de namorado, mas continuar a mesma. E talvez seja justamente isso que nos prende.

Afinal, nem todo escapismo precisa evoluir — às vezes, ele só precisa continuar bonito.


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