I Love LA e o retrato (não tão) doce da geração millennial

A série I Love LA estreou na HBO Max buscando ocupar os espaços deixados por Insecure, Sex and the City, Girls e And Just Like That. Só o fato de poder citar quatro séries com propostas semelhantes poderia tirar o charme da iniciativa — afinal, há sempre o risco da repetição —, mas talvez seja mesmo um rito de passagem: a cada geração, uma nova tentativa de capturar o espírito de seu tempo, ambientada em uma cidade icônica. Se Nova York é o espelho da ambição e do caos emocional, Los Angeles se oferece como o palco da ilusão, da imagem e da auto-promoção. E é justamente aí que I Love LA encontra sua voz.

Criada e estrelada por Rachel Sennott, a série parte da experiência pessoal da própria atriz e roteirista — que já declarou ter “odiado Los Angeles” antes de aprender a amá-la. Essa relação contraditória está no centro da narrativa: I Love LA não é uma carta de amor à cidade dos anjos, mas um olhar irônico sobre a busca por autenticidade em um lugar onde tudo é performance. Com oito episódios dirigidos por Lorene Scafaria (Hustlers), a produção acompanha um grupo de amigos tentando manter suas conexões pessoais e profissionais em meio à ansiedade, ambição e esvaziamento emocional típicos da cultura dos influenciadores e do entretenimento.

Sennott interpreta Maia, uma agente de talentos (ou aspirante a tal), que se reencontra com a antiga melhor amiga, Tallulah (Odessa A’zion), agora uma influenciadora digital de sucesso. O elenco ainda inclui Jordan Firstman, True Whitaker, Leighton Meester e Josh Hutcherson — que entrou no lugar de Miles Robbins depois de ajustes criativos entre o piloto e a série. A química entre o grupo é o coração do projeto, que tenta equilibrar o humor caótico das interações sociais com o retrato agridoce de uma geração obcecada por reconhecimento.

Há ecos claros de Girls — especialmente na forma como Sennott expõe vulnerabilidades e ridiculariza a si mesma —, mas com o ritmo e o visual polido de uma era dominada pelo Instagram. Los Angeles, filmada com a lente solar e melancólica de Scafaria, aparece como personagem: bonita, absurda, efêmera. As festas, brunches e reuniões de trabalho são tão esteticamente perfeitos quanto emocionalmente desastrosos. Nada é tão espontâneo quanto parece.

A crítica norte-americana recebeu I Love LA de forma mista, mas curiosamente engajada. O Washington Post destacou o frescor do olhar de Sennott e a autenticidade das situações desconfortáveis, enquanto a Variety e a Elle elogiaram a sinceridade com que a criadora se coloca em cena — uma “autora-atriz” que fala da fama e da solidão com humor e autoconsciência. Outros veículos, no entanto, apontaram que a série por vezes parece repetir os tiques de suas predecessoras, flertando mais com o estilo do que com a substância.

Ainda assim, há algo sedutor em ver I Love LA tentar traduzir o mal-estar contemporâneo com leveza e ironia. Sennott não busca heroínas; ela mostra mulheres confusas, engraçadas, por vezes insuportáveis — e completamente humanas. O resultado é uma comédia sobre o colapso emocional de quem vive para ser visto.

É um retrato do agora: uma geração que transforma vulnerabilidade em conteúdo e amizade em capital social. E se há déjà-vu, é porque talvez essa seja justamente a graça — cada época acreditando ser a primeira a se sentir perdida sob o sol da Califórnia.


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