The Morning Show abraça o drama na escola Cory de ser: com toda garra, sem constrangimento ou restrição. “The Parent Trap” é daqueles episódios em que o barulho dá lugar ao silêncio, e o foco está no que realmente move essas pessoas que se acreditam inabaláveis — a família, ou o que sobrou dela.
Entendo que Cory não é o “herói” da história, mas é impossível não sentir empatia por ele. Perdeu o emprego, foi humilhado, traído, desprezado, lida com os tubarões de Hollywood, foi usado por Bradley (sua paixão e obsessão) e agora perde a única mulher que realmente o conhecia: sua mãe.
Neste episódio não há tramas correndo atrás de manchetes, nem (muitas) jogadas corporativas — apenas personagens confrontando o que herdaram de pior dos seus pais. Jennifer Aniston e Billy Crudup dominam completamente o capítulo, e é impossível não sentir o peso que cada um carrega nos ombros. Há prêmios escritos no futuro de ambos, certamente.

Alex Levy e o pai que nunca a amou
Tudo começa com as consequências da prisão de Claire Conway, entregue ao FBI por Bradley — a personagem mais difícil de gostar e mais hipócrita em suas decisões. Para não ser presa, ela entrega sua fonte ao governo e, para Alex, mais do que uma demissão merecida, o que Bradley faz é imperdoável como pessoa.
A discussão entre elas é uma série de ataques. Bradley insiste que a matéria é mais importante do que a emissora que Alex tenta salvar e, imediatamente após causar o escândalo, pede autorização para viajar à Bielorrússia e entrevistar a testemunha que Claire ajudava. O “não” de Alex é sonoro — tanto pela indignação com o pedido quanto pelos problemas pessoais que enfrenta com o pai.
Sem tempo para respirar, ela acorda com mais um escândalo: seu pai, Martin, é preso bêbado por urinar em uma estátua de Paul Revere. A humilhação viraliza nas redes no exato dia em que Alex se preparava para fechar uma entrevista exclusiva com o presidente Biden.

Ela tenta conter o estrago, leva o pai para casa, mas ele desaparece. Pouco depois, Alex o vê ao vivo no podcast de Bro Hartman, o ex que ela quer esquecer, discursando sobre “velhos cancelados” e transformando a própria filha em inimiga pública. Mesmo interrompendo a conversa, o dano já está feito: em minutos, a Casa Branca cancela a entrevista, e Alex perde tudo o que vinha negociando havia semanas — algo crucial para sua imagem e para a emissora.
O confronto que se segue é o tipo de cena que só The Morning Show sabe entregar. Martin, arrogante e incapaz de assumir qualquer responsabilidade, despeja décadas de ressentimento. Acusa a filha pela separação da esposa, e, em um momento de dor que atravessa a tela, confessa que nunca quis ser pai, dizendo que ficou “preso com uma criança que nunca quis em primeiro lugar”. Alex explode, chorando:
“Você sabe o quanto eu quis ser alguém que você pudesse amar?”
Jennifer Aniston está magnífica — e Jeremy Irons, que vive Martin, está igualmente impressionante. Alex desaba, não diante de um escândalo, mas da verdade. O sucesso, o perfeccionismo, a pose controlada… tudo nasce da tentativa de merecer um amor que nunca existiu. Quando o pai vai embora, o silêncio que fica é o som de uma vida inteira tentando ser “boa o suficiente”.
Cory Ellison e o amor que também fere
Enquanto Alex enfrenta o vazio da rejeição, Cory encara uma perda irreparável. Sua mãe, Martha (vivida com delicadeza monumental por Lindsay Duncan), liga para avisar que desistiu da eutanásia na Suíça. Antes que ele possa se alegrar, ela completa:
“Consegui a pílula. Organizei tudo. Vou morrer hoje. Eu te amo.”
Cory corre até a casa dela, desesperado, tentando negociar com a morte. É a única vez em que vemos o manipulador, o executivo cheio de brilho e cinismo, completamente impotente. Ele implora, promete viagens, tenta mudar o destino — mas não há carta possível.
Sentados lado a lado, ela o acalma:
“Desde o momento em que tive você, aquele amor foi direto aos meus ossos. Você foi, é, a melhor coisa que já fiz.”
Quando ela pede para ver a peruca que ele escolhera para o filme que produz, ele sai para buscar — e, nesse intervalo, ela toma a pílula. Quando Cory volta, fala animado sobre o roteiro, até perceber o corpo imóvel. O silêncio é absoluto.

Billy Crudup contou ao Decider que precisou conter a catarse:
“Foi mais difícil segurar do que acessar. Cory nunca teve momentos catárticos, e, de repente, tudo estava ali, acumulado.”
A cena em que ele se senta ao lado da mãe morta e adormece com a cabeça em seu ombro é de uma dor contida, sem trilha nem espetáculo — e justamente por isso, devastadora.
Logo depois, Cory tenta escapar de si mesmo: mergulha em uma noite de cocaína e dança com Celine Dumont, falando sobre o clube de CDs da Columbia House — como se quisesse voltar a um tempo em que os pais ainda eram imortais. Cory vulnerável é uma imagem rara, e essa intimidade com Celine pode ainda crescer. No entanto, desconfio de que veremos um Cory mais inescrupuloso em breve. Se é que isso é possível.
As famílias e seus espelhos
Celine, Alex e Cory vivem diferentes formas de aprisionamento.
Celine tenta livrar-se da família e, ao mesmo tempo, perpetuar o poder dos Dumont. Alex descobre que o amor do pai era uma ilusão. Cory percebe que o da mãe era tão intenso que o destrói.
O irmão de Celine chega de Paris para repreendê-la e transmitir o recado do pai: ela deve abandonar Miles e voltar imediatamente para casa. Mas Celine está tão perto de conquistar tudo — controlar a UBN como CEO e presidente do conselho — que recuar não é opção.

Em um momento Succession falado em francês, os herdeiros brigam por poder, e Celine usa Bro Hartman como demonstração prática de influência: pede que ele elogie, em seu programa, os esforços da França para limpar o rio Sena antes das Olimpíadas — projeto falido comandado justamente por seu irmão. “Se Bro disser que a água está limpa, então a água está limpa.”
Três histórias sobre como a herança emocional molda quem somos, e sobre como até os adultos mais poderosos continuam sendo filhos feridos.
“Você pode ter cinquenta anos, e seus pais ainda podem acabar com você.”
Essa frase, tão simples e cruel, é o resumo do episódio — e talvez da temporada.
Bradley desaparecida… por enquanto
Depois de tanta intensidade, Alex repensa o que disse a Bradley e decide autorizar a viagem dela para a Bielorrússia. Mas quando tenta avisá-la, ninguém atende. Preocupada, vai até o apartamento de Bradley e encontra Chip, igualmente alarmado. Ele conta que Bradley foi sozinha — e que perderam contato assim que ela atravessou a fronteira.
“Você sabe o que fazem com repórteres lá”, ele diz.
Pois é — nem Alex nem Cory têm tido descanso nesta temporada.
Semana que vem saberemos como Bradley sobreviveu (porque ela vai sobreviver, claro) e, com certeza, voltará com mais uma matéria bombástica.
A pergunta é: quem vai sobrar para juntar os cacos?
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