Em 2018 estive literalmente colada no palco naquela noite que — sem saber — seria a última turnê do Radiohead. Era um presente de aniversário inesquecível, daqueles que ficam gravados na pele e no som. Lembro do calor das luzes, da vibração do público, da sensação de estar presenciando algo único. E estava. Sem anunciar oficialmente o afastamento, sem uma explicação clara, a banda se separou. Cada integrante seguiu seu próprio caminho, e nós, fãs, ficamos à mercê do acaso — ou da vontade deles de um dia voltarem a tocar juntos.


Thom Yorke e Jonny Greenwood se uniram para formar o The Smile, mergulhando em um som experimental e mais contido, uma extensão natural das inquietações criativas que sempre moveram os dois. Ed O’Brien lançou seu belo álbum solo, Earth (2020), explorando novas camadas de melodia e vulnerabilidade. Philip Selway apresentou Strange Dance (2023), enquanto Colin Greenwood embarcou em turnês com Nick Cave and the Bad Seeds. Parecia o fim — ou, pelo menos, um novo começo individual para cada um.
Mas eis que, no ano em que o mundo se rende ao revival dos anos 1990 — com Oasis, Blur e tantas outras bandas da época voltando à estrada — o Radiohead ressurge. A banda dos gênios, dos inquietos, dos que desafiaram todas as fórmulas da música pop, anuncia uma série de shows. É um retorno que transcende a nostalgia: é o reencontro de uma geração com o som que moldou sua sensibilidade.
A turnê marca o primeiro compromisso oficial da banda em sete anos. Serão 20 apresentações em cinco cidades europeias — Madrid, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim — entre novembro e dezembro de 2025. As residências prometem ser mais do que shows: serão rituais de reconexão entre palco e plateia, passado e presente.
Ainda não há confirmação sobre uma passagem pela América Latina, mas é impossível não sonhar. Afinal, o público daqui sempre recebeu o Radiohead como poucos — com intensidade e reverência. A promessa, no comunicado oficial, é vaga o suficiente para acender esperança: “For now, just these ones, but who knows where this will all lead.”

E a pergunta que paira no ar é inevitável: será que vem álbum novo? Oficialmente, nada foi confirmado. Mas a história da banda mostra que grandes retornos nunca são apenas para revisitar o passado. Quando o Radiohead se move, a música se transforma — foi assim com OK Computer, que reescreveu as regras do rock alternativo nos anos 1990; com Kid A, que inaugurou o século 21 sonoramente; e com In Rainbows, que revolucionou a forma de lançar um disco.
Em um ano em que o passado voltou a tocar nas rádios e nas memórias, o retorno do Radiohead é mais do que nostalgia. É lembrança e promessa. É a reafirmação de que o tempo pode passar, mas o impacto de certas músicas — e de certas noites — permanece. Se voltarem à América Latina, será mais do que um reencontro: será uma celebração daquilo que o tempo não conseguiu apagar.
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