O tempo pode ter passado, mas a aura sombria e poética do The Cure continua intacta. Depois de 24 anos fora das listas do Grammy, a banda de Robert Smith volta a ser reconhecida com duas indicações importantes na edição de 2026: Melhor Álbum Alternativo, por Songs of a Lost World, e Melhor Performance Alternativa, por Alone. É a primeira vez desde Bloodflowers (2000) que o grupo britânico aparece na premiação — e, ironicamente, eles ainda não têm um único troféu na prateleira.

Lançado no fim de 2024, Songs of a Lost World marca um retorno ao som que definiu o The Cure: denso, melancólico, mas profundamente belo. É um disco sobre perda e resistência, sobre envelhecer dentro do próprio eco. Smith, com a voz mais frágil e emotiva do que nunca, transforma a solidão em arte — e o resultado é um dos álbuns mais comoventes da fase madura da banda. Também é um álbum que encerra 16 anos de hiato desde 2008. Merecia mesmo pelo menos a indicação.

A categoria de Álbum Alternativo está acirrada, com nomes como Bon Iver, Hayley Williams, Wet Leg e Tyler, The Creator. Mesmo assim, há algo de simbólico nessa volta: o The Cure foi pioneiro em transformar vulnerabilidade em estilo, e o rock alternativo que domina o Grammy hoje deve muito ao caminho que eles abriram.

Além das indicações, 2026 promete ser um ano movimentado para os ingleses. A banda confirmou uma série de shows pela Europa e Reino Unido e trabalha em seu 15º álbum de estúdio, enquanto o filme-concerto The Show of a Lost World estreia nos cinemas em 11 de dezembro.

Se finalmente vier o Grammy, será apenas uma formalidade — porque o The Cure já é, há décadas, uma das bandas mais influentes da história da música alternativa. Mas há algo bonito na ideia de vê-los, outra vez, sob os holofotes: um lembrete de que a tristeza, quando bem traduzida, nunca sai de moda.

(Cerimônia do Grammy 2026: 1º de fevereiro, na Crypto.com Arena, em Los Angeles, com transmissão pela Paramount+.)