Perfeito — esse documentário é riquíssimo para uma crítica na tua voz, e o gancho é ótimo: um lembrete de que antes do #MeToo, Sarah McLachlan já estava fazendo história e criando um espaço de sororidade e resistência em plena década de 1990.
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Nos anos 1990, quando as rádios ainda eram instruídas a não tocar duas artistas femininas em sequência e os executivos alegavam que “mulheres não vendiam ingressos”, Sarah McLachlan ousou. Com um ideal quase ingênuo — reunir mulheres talentosas no mesmo palco — ela fundou o Lilith Fair, festival itinerante que entre 1997 e 1999 provou exatamente o contrário: que o público ansiava por novas vozes femininas, que a sororidade podia ser um modelo de negócio e que a música feita por mulheres não era um nicho, mas um movimento.

O documentário Lilith Fair: Building a Mystery — The Untold Story, dirigido por Ally Pankiw e lançado pela ABC News Studios, é uma viagem irresistível pela memória musical dos anos 1990 — e uma poderosa reflexão sobre o quanto (e o que) ainda precisa mudar. Com imagens inéditas e depoimentos de artistas como Sheryl Crow, Paula Cole, Shawn Colvin, Erykah Badu, Indigo Girls, Natalie Merchant e Jewel, o filme resgata o contexto de um tempo em que a equidade de gênero ainda parecia uma utopia.
O nascimento de um mito (e de um movimento)
McLachlan batizou o festival com o nome de Lilith, a mítica primeira esposa de Adão que deixou o Éden por se recusar a ser submissa. Era um gesto simbólico e espiritual: Lilith representava a mulher livre, autônoma, rebelde — uma metáfora perfeita para o que viria.
O sucesso do festival foi imediato. Em três anos, Lilith Fair arrecadou milhões para instituições de caridade e criou um espaço de acolhimento e inspiração para artistas e fãs de todas as idades e gêneros. Mas o preço da visibilidade foi alto: a mídia reduziu o evento a um “festival de mulheres sensíveis”, os críticos zombaram do “excesso de doçura” e até outras artistas ironizaram a iniciativa, sem perceber o tamanho do impacto cultural que ela teria.
As polêmicas e os preconceitos
O documentário expõe o absurdo das resistências iniciais: promotores que se recusavam a contratar dois nomes femininos no mesmo line-up, revistas pedindo para Liz Phair posar seminua, e até boicotes de patrocinadores — uma empresa chegou a dizer que “focava em público masculino”, recusando patrocinar… uma marca de água.
O preconceito vinha também de dentro. Suzanne Vega e Lisa Loeb admitem que hesitaram em participar do festival, temendo serem “rotuladas” como artistas feministas. Outras, como Chrissie Hynde, chegaram com desconfiança e saíram convertidas pela energia do coletivo.
O filme revisita ainda o emblemático episódio dos Grammy de 1998, quando Sarah, Paula Cole e Shawn Colvin foram “agrupadas” num medley único enquanto os homens se apresentavam sozinhos — um gesto simbólico do quanto o sistema ainda não sabia lidar com o protagonismo feminino.
Mais do que música: maternidade, ativismo e liberdade
“Lilith Fair” foi mais do que um festival — foi um ecossistema. Lá, artistas levavam filhos recém-nascidos, cantavam juntas, e defendiam causas. A presença de Planned Parenthood gerou protestos e até ameaças de bomba, mas Joan Osborne respondeu com camisetas declarando “I Am The Face of Pro-Choice Texas”.
O documentário não foge desses embates, e é justamente aí que se mostra mais atual do que nunca. Entre os momentos mais tocantes, estão as participações de Sinead O’Connor, recebida com carinho após ser cancelada pelo caso do Papa, e de Erykah Badu e Missy Elliott, que ampliaram o alcance do festival e derrubaram o rótulo de “Lily-White Fair”.

Revisitar Lilith é olhar para o futuro
Mais de duas décadas depois, Building a Mystery é mais do que um resgate nostálgico: é um chamado à ação. Em tempos em que direitos básicos voltam a ser ameaçados e a cultura parece retroceder, ver Sarah McLachlan cancelar uma performance em protesto à censura (durante a turnê de divulgação do filme) mostra que o espírito de Lilith segue vivo — resiliente, consciente e coletivo.
O documentário lembra que sororidade não é uma moda, é um ato político. E que a música, quando feita e vivida em comunidade, pode mudar paradigmas.
Assistir a Lilith Fair: Building a Mystery é como revisitar uma memória coletiva da coragem feminina nos anos 1990 — um lembrete do quanto essas artistas abriram caminho para as gerações de Billie Eilish, Florence Welch e Olivia Rodrigo.
É também um retrato otimista e necessário sobre o poder da união, da arte e da resistência.
Uma história que nasceu de uma canção e se tornou um movimento.
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