Em meio às discussões de como “recontar” um crime sem desrespeitar as vítimas e ainda assim humanizar os assassinos, o novo episódio de Murdaugh: Death in the Family marca, sem disfarces, o início do fim para Alex Murdaugh. Depois de meses de mentiras, golpes e inconsequências, insistindo na narrativa da família perfeita, ele finalmente se vê engolido por suas próprias mentiras, vícios e decisões trágicas. E o episódio, habilmente conduzido, reforça como o colapso público de Alex não é apenas sobre a queda de um homem poderoso, é sobre a derrocada de um sistema inteiro que o protegeu por gerações. É hora de prestar contas. Literalmente.

Abrimos com o que talvez seja o momento mais doloroso para Buster, vivido com delicadeza por Will Harrison: descobrir que mãe e irmão foram assassinados e encarar a cena do crime. É aqui que Buster deixa de ocupar aquele espaço quase secundário e passa a ser o fio emocional da narrativa. Como o ator contou, ele se torna o ponto de vista humano para quem assiste, a lente que nos lembra que, acima de tudo, existe uma família destroçada no centro desse labirinto jurídico e midiático.
Buster é protegido pelo mesmo sistema que seu irmão, Paul, e paira sobre ele uma morte suspeita e incômoda, que não é endereçada em detalhes pois a investigação não foi concluída hoje, no tempo em que se passa o episódio, estava ainda para começar. Mas Buster, até agora, é o mais centrado dos quatro Murdaugh, o filho esforçado que também tira vantagens, mas não as considera certas.
A reação de Randolph Murdaugh também é um destaque. Sua surpresa ao saber que Maggie foi vítima revela uma das feridas ocultas na dinastia Murdaugh: a obsessão de manter a ilusão de perfeição, mesmo quando a realidade insiste em ruir, como se Maggie fosse a última chance de resgatar a família. Perder a nora é perder a esperança.

O episódio avança com a investigação, conduzida por David Owen e Laura Rutland, enquanto uma longa lista de suspeitos é eliminada. Em paralelo, Alex recebe a notícia de que a família Beach retirará o processo civil, um alívio momentâneo que dura pouco, pois logo depois ele descobre a morte do próprio pai. A vida de Alex vira um funil: tudo se estreita, tudo se aproxima, não há mais onde se esconder.
Basicamente, para nós que já sabemos a verdade, foi para acabar com o processo que Alex fez o que fez, mas, no final das contas, foi justamente a sua derrocada.
No funeral de Maggie e Paul, Alex se divide entre o papel de viúvo devastado e o homem desesperado para controlar a narrativa. É desconfortável — e proposital — vê-lo pressionar Shelley Smith para confirmar que ele ficou mais tempo do que realmente permaneceu na casa da mãe na noite dos assassinatos, antes de se oferecer para ajudar com o casamento dela. A barganha emocional velada, o cálculo por trás da gentileza, tudo isso revela o Alex que o mundo ainda relutava em enxergar.
Quando Marian, a irmã de Maggie, pergunta sobre pistas, Alex repete a teoria da vingança ligada ao acidente do barco. A naturalidade com que fala sobre o suposto planejamento do assassino é, no mínimo, inquietante, não apenas para Marian, mas também para nós, espectadores, que já intuíamos que esse desmoronamento estava vindo.

A reviravolta acontece com Rogan Gibson, que afirma ter ouvido a voz de Alex na última ligação com Paul, um detalhe que entra em choque direto com o álibi do patriarca. E quando Laura lembra o quão limpo Alex estava naquela noite, o episódio amarra com precisão o que antes eram apenas desconfianças soltas.
Em paralelo, Mandy Matney — vivida por Brittany Snow — inaugura seu podcast. E aqui a série tem consciência total de sua própria existência: ela mostra como o jornalismo investigativo encontra seu espaço justamente quando as estruturas oficiais falham.
Mas a sequência mais simbólica talvez seja a ida de Alex e Buster à casa de praia de Maggie. As amostras de tinta que ela escolhia, sinal de futuro, de vida que se reconstrói, viram descanso para copos de cerveja. Total indiferença pela vida interrompida de alguém.
O cerco se fecha de vez quando Alex é confrontado sobre o depoimento de Rogan. A surpresa dele é quase performativa, e dura pouco. Logo depois, vem a queda: a descoberta dos esquemas financeiros, o confronto com Randy, o pedido de ajuda pelo vício, o colapso dentro da própria casa. A cena do disparo no ar, envolvendo Curtis “Eddie” Smith, mostra o desespero absoluto de Alex em forjar sua própria morte para garantir o seguro de vida ao filho. É um dos pontos mais chocantes do episódio.

O hospital sela a humilhação pública: Alex é desmascarado diante de Buster. Paralelamente, novas vítimas orbitam sua teia , Tony Satterfield busca justiça, e Sandy descobre que o caso de Stephen Smith será reaberto. O mundo que antes girava a favor da família Murdaugh agora gira contra ela.
O episódio termina com Alex indo para a reabilitação e Buster encarando a casa em ruínas, literal e metaforicamente. Resta apenas um episódio até o fim desta reconstrução dramática de um dos casos mais perturbadores da história recente dos Estados Unidos. E, como a série nos lembra com maestria, verdade e espetáculo raramente andam separados.
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