The Beast in Me estreia como um thriller psicológico elegante e profundamente perturbador, construído na interseção entre paranoia, luto e desejo de controle. A série acompanha Agatha “Aggie” Wigs, uma escritora premiada que vive isolada após uma tragédia pessoal e se vê envolvida — contra sua vontade, mas não sem fascínio — com seu novo vizinho, Niles Jarvis, um milionário carismático e perigoso, ainda sob a sombra do desaparecimento não solucionado da própria esposa.
A narrativa se move como um espelho quebrado: cada personagem revela uma face diferente da verdade, enquanto Aggie tenta manter intactas as partes de si mesma que ainda não desmoronaram. Não é apenas uma história sobre um possível assassino à solta, mas sobre a fina, quase imperceptível fronteira entre o medo real e o medo inventado — aquela linha tênue onde nosso pior inimigo não é o outro, mas aquilo que carregamos dentro de nós.
É fácil (para fãs de True Crime), encontrar alusões a crimes como os de Robert Durst (que rendeu filmes e documentários) ou Michael Peterson (idem), sendo que o último a conexão está inclusive no diretor da série, Antonio Campos, que também dirigiu The Staircase, da Netflix).


Dito isso, The Beast In Me é uma série original, da mesma equipe que adaptou Homeland, por isso temos Claire Danes de volta, ao lado do incrível Matthew Rhys. The Beast in Me nos lembra que monstros raramente surgem do nada. Eles são criados, alimentados e, muitas vezes, reconhecidos porque se parecem demais com a nossa própria sombra. Vamos ao recap do 1º episódio.
Sick Puppy
A autora cercada por fantasmas
Abrimos com um acidente brutal e, logo depois, somos lançados para o presente, onde conhecemos Agatha Wigs — uma autora famosa, paralisada por um bloqueio criativo tão profundo quanto sua paranóia cuidadosamente nutrida. Aggie vive isolada, cercada por silêncios, remédios para dormir e fantasmas pessoais que nunca realmente foram embora.
O vizinho que desperta todos os alarmes
A paz frágil de Aggie desaparece quando enormes cães invadem seu jardim. Não demora para ela descobrir que ganhou um novo vizinho: Niles Jarvis, um milionário local notório porque é o principal suspeito no desaparecimento da própria esposa. Um corpo nunca encontrado, várias versões que não se encaixam. Um nome que, claro, acende todos os alarmes — e não apenas os literais.
Nas correspondências acumuladas na porta, entre contas e pedidos de editoras, há um envelope de pedido de socorro que ela não chega a ver. E esse detalhe, tão silencioso quanto devastador, já nos anuncia o tom da série: nada chega a tempo.
O luto que nunca adormece
A pesquisa online de Aggie revela o que já imaginávamos — o caso Niles/Jennifer tem cara de The Jinx e cheiro de injustiça empurrada para debaixo do tapete. Paralelamente, descobrimos que Aggie planeja visitar o túmulo do filho morto, Cooper, no dia seguinte. O luto é o fogo que nunca se apaga.
O alarme da mansão de Niles dispara durante a madrugada e Aggie explode. Mas no dia seguinte, a explosão se transforma apenas em mau humor — e numa caixa de vinhos caríssimos deixada à porta, que ela devolve de forma grosseira. É assim que conhecemos Nina Jarvis, a atual esposa de Niles, fã assumida de Aggie, que faz questão de arrastá-la para dentro da casa, para um chá desconfortavelmente polido.

A negociação que vira agressão
Niles aparece logo depois, querendo que Aggie assine o documento para a tal pista de corrida que ele quer construir. Ele fala com a naturalidade de quem acredita que tudo tem preço — e que tudo está à venda. Ela não cede. Ele insiste. Ela nega. Ele menciona o filho morto. Ela explode. É o fim da conversa.
Feridas antigas e presentes
O episódio nos dá então mais um pedaço do trauma de Aggie: ela enfrenta pessoas que deixam flores no túmulo do filho, incluindo Ted — o motorista bêbado responsável pelo acidente. Descobrimos que há uma ordem judicial que impede Aggie de se aproximar dele, e que sua ex, Shelley, tenta impedir que a situação piore, sem sucesso. As duas têm uma relação quebrada e delicada, incapaz de voltar a ser o que já foi.
Aggie está sem dinheiro, com a casa caindo aos pedaços e um deadline sufocante. Quando comenta sobre Niles com sua agente, a reação é imediata: cuidado. Tudo em volta dele grita perigo — e ainda assim Aggie segue sendo tragada pela presença magnética e desagradável do vizinho.
O almoço que vira interrogatório
No dia seguinte, Niles bate à porta em busca de um autógrafo. Ou melhor: em busca de uma assinatura. Ele simplesmente entra, ignora todos os sinais de desconforto e a arrasta para um almoço ao qual ela claramente não queria ir. À distância, um homem os observa.
Durante o almoço, Niles fala demais. Sobre sua infância na região, sobre como voltou para fugir das fofocas, sobre como o livro que Aggie está escrevendo é um tédio. E, claro, sugere que ele mesmo seria um ótimo personagem. Um charme à moda antiga — se charme fosse sinônimo de coerção, grosseria e manipulação.
Ele é atento demais. Percebe tudo, inclusive uma mulher tirando foto deles, e reage com agressividade. Aggie ri, mas há algo ali — algo que nós também sentimos e preferíamos não sentir.
Ao sair, eles esbarram com Ted. O olhar de Niles sobre o homem é curioso demais, frio demais, prolongado demais.

O aviso inesperado
Naquela noite, sob uma tempestade, Aggie toma remédio para dormir. A batida na porta nos desperta junto com ela — é um agente do FBI. Ou melhor: um ex-agente do FBI, Brian Abbott, completamente bêbado, dizendo estar preocupado com a segurança dela. Ele entra na casa. Ele quer alertá-la sobre Niles. Ele repete: “Fique longe dele. Ele não é como nós.”
Aggie pesquisa: Abbott investigou o desaparecimento da esposa de Niles. E foi afastado do caso.
Mais uma morte conveniente
De manhã, Shelley liga. Ted se matou na noite anterior. A reação de Aggie é exatamente a nossa: impossível não pensar em Niles dizendo que é excelente para “resolver problemas”. A coincidência é coincidência demais. O timing perfeito demais.
O monstro que reconhece o monstro
No fim do episódio, Aggie enxerga o que nós já vimos desde o primeiro minuto: Niles tem o perfil exato do psicopata clássico. E, de alguma forma que ela talvez ainda não compreenda, ele é o monstro que fala diretamente com o monstro que existe dentro dela.
Uma estreia tensa, precisa, e que nos deixa com a sensação de que nada — absolutamente nada — será simples daqui pra frente.
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